
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Um brinde a 2010

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Luzes da cidade

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
O Príncipe e o Mendigo
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Festival de besteiras

Desta vez, não teve pra ninguém. Gilberto, o Alcaide, saiu na disparada e bateu o ranking de besteiras ditas por um político durante uma tragédia. (Ok, Lula extrapolou com a merda no discurso, mas não havia uma tragédia em andamento). Gilberto alistou-se, assim, no clube que reúne gente mais tarimbada na política, como o falecido Franco Montoro e a resistente Marta Suplicy.
Pra quem esteve em Marte na semana passada, eu explico: de segunda pra terça-feira, o céu desabou sobre São Paulo. Choveu gato, cachorro, periquito, cacatua, rinoceronte, iguana e ferret - em suma, choveu até dizer chega. Dois dias depois, a TV mostrava alguns bairros que teimavam em permanecer alagados.
E o que disse Gilberto a respeito desse dia tão caótico, mas tão, que a cidade registrou índice zero de congestionamento - simplesmente porque as pessoas não conseguiam se locomover a partir de certos pontos. "Está tudo sob controle", disse o Alcaide, revelando uma face budista desconhecida até de quem votou nele por convicção. Em seguida, Gilberto contestou os pessimistas e afirmou que a coisa não estava tão feia. O grande debate que surgiu a partir daí foi tentar entender o que o alcaide da maior cidade do país define por "caos".
Falar cretinices é um esporte muito praticado entre os políticos. Revela, além da pobreza de raciocínio, um tremendo desprezo pelo bem estar público. Exagero meu? Não. Quando Franco Montoro percorreu as áreas da cidade cobertas até o teto por água de enchente, em vez de lamentar a desgraça dos atingidos, suspirou: "Lembra Veneza". Foi muito gratificante para as vítimas da enchente saber que sua vida chegara, enfim, a níveis europeus.
Também Marta Suplicy perdeu uma luminosa oportunidade de se fingir de surda, quando questionada sobre o caos aéreo que transformava qualquer vôo numa gincana de Rollerball. À época ministra do Turismo, Marta disse que os prejudicados pelos atrasos monumentais deviam "relaxar e gozar". Trata-se de uma frasezinha que todo mundo usa de vez em quando. Na boca de uma ministra, chamada às falas sobre um problema seríssimo de sua pasta, a frase levava o maior jeito de chacota.
Recentemente, ao anunciar o plano de obras que interdita total ou parcialmente cinco pontes sobre o Rio Tietê, o governador e o prefeito estavam tranquilos: as obras não prejudicariam o trânsito de São Paulo. Limitados pela realidade concreta dos fatos, alguns repórteres insistiram e, ao Estadão, o governador deu a solução mágica: "Basta o cidadão negociar novos horários de trabalho com suas chefias". Deve fazer muito tempo que o governador não pega no pesado de verdade, das 8 às 18 com uma hora de almoço. Desconfio até que nunca tenha passado pela experiência de carregar uma marmita.
Não ter sofrido não significa que o sujeito seja um monstro insensível. Ele pode ter tido berço de ouro e compreender o quanto é ruim, por exemplo, usar o transporte público nessa cidade. Qualquer guaxinim que tenha frequentado a escola - mesmo que levado de carro particular por pápi e mami - conseguiria entender que os novos ônibus de São Paulo, cheios de degraus, são um convite ao braço quebrado. Mas, o que faz a prefeitura? Aceita esse veículo e obriga a população a fazer verdadeiros malabarismos diariamente nas ruas da cidade.
Da mesma maneira, na gestão de Erundina (de quem gosto muito), um elogiado programador visual, querido em tudo quanto é bar bacana da Vila Madalena, determinou que todos os ônibus de São Paulo tivessem as mesmas cores. O Iluminado esqueceu que uma grande maioria da população tem pouquíssima intimidade com a língua escrita - maneira tucana de dizer que são analfabetos - e o que se via nos pontos era um amontoado de gente desesperada atrás de seu ônibus, já que não conseguia ler os letreiros...
Estou fugindo do tema? Acho que não. Tudo gira em torno do mesmo ponto: o solene desprezo pelo bem coletivo, pelo interesse da população. É como se prefeitos, governadores, ministros e os que os assessoram trabalhassem não pela cidade em geral - mas contra seus não-eleitores. Eles não governam: vingam-se dos votos não recebidos. O pior é que, na hora de votar, a marujada vai lá e reelege essas figuras. Francamente, nem sei porque eu esquento a moringa.
p.s. Divertidíssimo imaginar a cara de Gilberto, o Alcaide, ao ver que os vereadores rejeitaram seu pedido de aumento salarial. Atire a primeira pedra quem nunca pediu aumento e o chefe disse 'não'...
p.s.2 Como vocês devem ter desconfiado, se chegaram até aqui, eu não estou no time dos colegas artistas que derramam-se em elogios às administrações, presentes e passadas, só porque visitaram um dos nossos no hospital. Luz na praça, que é bom... policiamento, que é fundamental... necas...
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Complexo de Orfeu

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Gastronomia & Gincana

sábado, 28 de novembro de 2009
Qual é o pente que te penteia?

Nada é por acaso, a não ser o que nos pega de surpresa. Depois de tanto resvalar no tema do racismo que nos rodeia, acabei na plateia da peça "Ensaio sobre Carolina", que encerra carreira na próxima sexta-feira, dia 4/12, no Teatro Imprensa. Ali, junto aos meus sete companheiros de platéia - tão pouca gente pra um espetáculo apresentado por seis pessoas - tive a nítida noção que estava assistindo a uma das melhores peças do ano.
"Ensaio" é um trabalho de pesquisa teatral feito sobre o livro "Quarto de despejo", um dos maiores sucessos editoriais do Brasil nos anos 60. Sua autora era uma catadora de papel, favelada, mãe de alguns filhos e com uma sensibilidade atordoante: Carolina Maria de Jesus. O ingresso custa só 10 reais e dá direito não só a um espetáculo vibrante, mas também a um gole de cachaça e a muita, mas muita reflexão.
Os jovens atores negros, guiados pelo diretor José Fernando Azevedo, mergulharam fundo. Em cena, o que se vê é, ao mesmo tempo, é a vida de uma mulher negra no fim dos anos 50 e o que esses atores, com toda certeza do mundo, já sentiram na própria pele. É um documento e, ao mesmo tempo, é atual. É histórico e é contemporâneo, a tal ponto que em nenhum momento sente-se falta do famigerado didatismo que tantas vezes contamina peças adaptadas de livros. Gal, Sidney, Lucélia e seus colegas tomaram conta do texto, apossaram-se de sua narrativa - e com isso seduzem a platéia.
Não é uma peça sobre racismo, denúncia, nem paira no ar um clima de vingança contra os branquelos da platéia. É um espetáculo sobre a dor que o racismo causa, sobre as feridas fundas que deixa em quem sofre ataques também de seus 'iguais'. Há até ingenuidade no modo como Carolina vivia seus problemas. Sem lei Afonso Arinos nem conceitos politicamente corretos (e hipócritas), ela se valia da própria sensibilidade para enfrentar os ataques. Talvez seja isso que deu à montagem a mesma contundência do livro: os atores também retrabalham as próprias experiências e misturaram às da autora, que morreu em 1977, aos 63 anos, depois de ver seu livro traduzido em 13 idiomas.
Há momentos delicados - quando Carolina sai comprando exemplares da revista O Cruzeiro, a primeira a falar dela e seus diários. E há momentos que travam a garganta - quando a mãe rege a sinfonia dos filhos famintos. Ou quando ela, tratada como estrela por um diretor de jornal, emociona-se ao realizar um antigo sonho: almoça arroz, feijão, bife e salada. E há outros momentos que nos assustam, como quando todos atacam uma atriz, usando todas as piadas infames e gracinhas racistas que se espalha por aí. Sobram ataques para o sistema, que queria transformar Carolina numa celebridade a contragosto, e fica implícito - até pela pouca presença de público - que muita coisa continua igual. À exceção de Sidney Santiago, que viveu o esquizofrênico pobre de "Caminho das Índias" e também arrebentou como o motoboy do filme "Os doze trabalhos", o restante do ótimo elenco não aparece na Caras. Portanto...
Com perucas loiras mal ajambradas na cabeça, números musicais que parodiam os filmes de Hollywood de maneira cortante - uma explicitamente falsa doris day dança pelo palco abraçada a um vestido de primeira comunhão, enquanto canta as agruras de não ter comida pra dar aos filhos... - o elenco inteiro dá um show.
Interessante é que a miséria do tempo de Carolina era dolorida, como a miséria de hoje, mas não tinha a marca da violência. Ainda não se falava de criminalidade como sinônimo de miséria. E isso espanta: a mãe quer comprar sapatos pros filhos para que eles possam ir à escola e ser alguém - e não para que tentem escapar das quadrilhas e das polícias. A peça termina de maneira quase brusca, porque - no fim das contas - aquela história não termina nunca.
Tentem não perder a peça. É um espetáculo de primeira grandeza em meio a tantos falsos brilhos de nossos palcos.
p.s. Confesso que não sabia, mas tá na Vejinha: Gilberto, o Alcaide, tá fechando os albergues de miseráveis do centro. Quer que os mendigos aceitem dormir nos cafundós da periferia. Eles não aceitam e acabaram se espalhando pelos bairros de gente bem. Pelo menos agora são notados. Será que foi a maneira que o Alcaide encontrou de despertar a consciência social dos frequentadores da Oscar Freire? Bem bolado!
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
As mortes de Celso Pitta

A segunda morte do ex-prefeito Celso Pitta, noticiada no sábado, pegou muita gente de surpresa. Poucos sabiam que ele estava doente e a maioria já dava o homem por morto desde que ele saiu da prefeitura e só se meteu em confusão - seja com a ex-mulher, seja com a Polícia Federal.
A terceira morte de Celso Pitta ocorreu algumas horas depois do seu falecimento físico. Ao velório e ao enterro, realizados debaixo de uma chuva que os jornais de antigamente classificariam de torrencial, compareceram umas 100 pessoas - no enterro, mesmo, eram umas 30 almas pingadas, contando a mãe de 89 anos e os filhos, que chegaram poucos minutos antes do caixão baixar à sepultura.
No domingo, os jornais publicavam a notícia embaraçosa e forçavam a repercussão junto a outros prefeitos paulistanos. Gilberto, o Alcaide, soltou uma nota padrão, só não totalmente formal porque remetia à morte do próprio pai, ocorrida há algum tempo. Marta Suplicy, convenhamos, deve ter discussões mais acaloradas com seu cabeleireiro sobre cor de tintura do que ditando a sua opinião sobre a morte de Pitta. Maluf, em viagem, mandou um telegrama.
Não houve surpresa nessa melancólica saída de cena. Pitta nunca teve uma tradição política: chegou à prefeitura guindado pelo padrinho Maluf, com quem se desentenderia depois. Não criou vínculos com a cidade. E nem com os mais próximos: contam as comadres que sua relação com os filhos era, no mínimo, muito complicada. Com Nicéia, nem se fala. Pra mim, a surpresa mesmo veio da reação de algumas ONGs de movimentos negros , que atribuíram o baixo ibope do enterro ao preconceito racial.
Eles dizem que Pitta foi vitimado pelo preconceito durante toda sua administração. Eu cochilei e perdi algum pedaço do filme? Até onde minha loirice consegue compreender, Pitta entrou pra história como titular de uma prefeitura corrupta, corroída pela roubalheira de precatórios e verbas desviadas. Não foi o único a ser acusado, é verdade, mas pelo jeito foi um dos que deixou rastro. Havia, sim, piadas racistas em torno de seu nome - mas não creio que este tenha sido o único combustível das críticas: o que pegava mesmo era a corrupção desenfreada.
Não foi só isso. Celso Pitta, até onde eu saiba, não deixou marcas na cidade. Era desprovido de carisma. Até a arrogante Marta Suplicy ("Ela parece uma eterna aluna de vestido rendado do Des Oiseaux", dizia uma colega do Estadão) tem seu fã-clube. Há quem vá com a cara de Gilberto, o Alcaide, e até o governador asperge seu charme sobre alguns corações femininos. Pitta - repito, até onde eu saiba - não deixou muitas lembranças.
Ele foi humilhado ao ser preso de pijama em rede nacional, da mesma forma que Marta foi achincalhada quando um estudante da São Francisco atirou-lhe uma galinha em cima (e só faltou ser ovacionado pela imprensa tucana) e Luísa Erundina era ridicularizada por ser solteira, não ter corpinho de miss e falar com sotaque nordestino.
Confundir isso com racismo, sei não. Será que é mesmo motivo de orgulho saber que um negro chegou ao poder construindo uma imagem de político corrupto? Minimizar essas acusações seria a solução ideal? Um negro corrupto é menos corrupto que um branco? Será que até pra isso vai ter cota?
O que todos esses políticos - sejamos pró ou contra - experimentaram em comum foi a campanha da maioria que se julga branca, rica, hétero e ariana. É contra isso que devemos lutar - mas sem jogar para debaixo do tapete os erros de nossos candidatos. O erro dos 'nossos' não é menos grave que o erro 'dos outros'.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
O número 2

segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Pra cima com a viga, moçada!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009
É a treva!

Não, não se trata de um post sobre o apagão que deixou mais da metade do país tateando armários e gavetas à procura da vela perdida. Nem - apesar da foto - de algum comentário sobre o bordão de Bianca, um dos personagens mais populares da novela "Caras & Bocas", vivida pela atriz Isabelle Drummond (salvo engano, a primeira menina a interpretar a Emília no "Sítio do Picapau Amarelo). O post é mesmo sobre o tempo que vivemos.
Posso estar enganado - aliás, espero mesmo estar bastante enganado -, mas há algum tempo sinto no ar um certo clima de revanche, de vingança do bastardo, da volta do trogloditismo. O caso da Menina da Minissaia foi exemplar, mas não foi o primeiro, nem único e, infelizmente, não tem pinta de ser o último. As forças conservadoras reconquistam o terreno perdido. E não estou me referindo apenas aos aspectos político-partidários. Penso no conservadorismo de comportamento, de ações, de gestos.
Alguns são até inocentes, como a volta do noivado. Aquele período que separava o namoro do casamento e servia pro futuro casal ter mais liberdades perdeu o sentido nos anos 60-70, quando se ia pra cama antes mesmo de saber com quem... O test-drive sexual funcionou muito bem e, pelo jeito, funciona até hoje. Mas a rapaziada tem organizado almoços de noivado e festas de casamento grandiosas, resgatando uma formalidade que eu acreditava extinta.
Ao avanço das conquistas sexuais de gays e lésbicas, segue-se um recrudescimento de punks e anarquistas, provocando agressões e assassinatos no rastro da última Parada Gay de São Paulo. É como se o clima de democracia e direito à expressão que marcou as conquistas homossexuais também servisse de veículo para os conservadores emitirem a sua opinião. Não haveria nada mais democrático: a convivência de opostos. Mas não é o que temos visto, apesar de um inegável avanço: hoje, não se apanha calado. Vítimas e militantes, quando atingidos, gritam e exigem providências legais - e isso é um avanço fenomenal, apesar de óbvio. Mas o fato é que veados continuam apanhando e morrendo apenas porque são veados.
Mulheres também pagam sua cota. Do ponto de vista capitalista, elas conquistaram muita coisa nos últimos 40 anos (menos igualdade de salário). Conquistaram o direito a ser mães sem a presença do pai-marido e, em nossa sociedade, o direito de ir e vir - a não ser que usem roupas provocantes demais. A única explicação que encontrei até agora para o comportamento dos estudantes da Uniban que cercaram a Menina da Minissaia foi esse xarope de conservadorismo que nos cerca.
Provavelmente, pela idade que têm, muitos desses jovens (a maioria) são filhos de mulheres que trabalham fora. Certamente têm irmãs e primas que estudam para ter uma profissão e que não conseguem, nem podem, separar trabalho e casamento: o salário de um casal é sempre mais garantido que o de um só. Ao mesmo tempo, esses meninos e homens saboreiam as mulheres-fruta, cujos apelidos por si só já indicam o caráter consumista que aplicam às fêmeas. Ninguém respeita uma jaboticaba ou uma melancia.
Da mesma maneira que invadem as ladeiras de Olinda no carnaval, beijando toda menina que passa no caminho, às vezes à força, esses meninos viram na minissaia da colega de faculdade um motivo para chacota. Assoviar, chamar de galinha e passar cantadas grosseiras virou coisa do passado. A onda é responder à altura. Por algum motivo que me escapa, eles se sentiram agredidos pelas coxas da Menina - mas aplaudiram, vejam só, as coxas famosas de Sabrina Sato, que apareceu na Uniban embrulhada num minivestido cor-de-rosa. Foi uma grande sacada do "Pânico" e revelou parte do pensamento desses meninos: as coxas da Sabrina Sato são um tesão (e são), mas a carne das 'nossas' não é pra ser exposta. É a volta triunfal da "mina pra casar".
É uma pena que nada, nem mesmo a entrada de Sabina Sato, ajude a refletir sobre o assunto. A agressão vira piada. A bicha que apanhou dos punks engole o choro. E o fato de alguém se vestir de maneira apenas inadequada rende, no máximo, uma corrida das revistas de mulher nua pelo direito às coxas da estudante. Sai a mulher melancia e entra a mulher judas.
domingo, 8 de novembro de 2009
A butique dela

sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Dona Augusta

domingo, 1 de novembro de 2009
Dia de todas as santas

quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Oração pra Santa Apolônia

O rapaz tem problemas mentais, me parece - quer dizer, no fim da história quem tem problema mental mesmo é o dentista, mas continuemos - e, por isso, recebeu anestesia geral antes da extração de dois dentes. O trabalho devia estar uma moleza, porque o chamado profissional de odontologia se entusiasmou e passou a extrair um por um os dentes do menino. Esse cara - que trabalha num hospital público e dá aula em universidade - cometeu uma amputação. Não sei se o termo médico-legal é esse, mas na prática o que aconteceu foi isso: de uma hora pra outra, um menino de Brasília se viu sem nenhum dente. É como dormir bípede e acordar sem uma perna.
A última notícia que consegui do fato dizia que o dentista seria preso e indiciado. Outra, mais cedo, dava conta que o IML de Brasília reconhecia que não havia necessidade da cirurgia radical. Alguém tinha dúvida? E o Conselho Regional de Odontologia pedia pra preservarem o nome do carniceiro. Eu, se fosse dentista, exigiria a identificação do indivíduo - até pra não acharem que ele e eu frequentamos o mesmo clube.
E hoje, nada nos jornais e sites. A história morreu ali mesmo, enquanto o rapaz se esconde em casa, com vergonha dos dentes ausentes. Não sei detalhes, realmente, mas posso concluir que o tal rapaz é pobre. Se fosse, pelo menos, classe média, teria direito a um pouco mais de indignação dos meios de comunicação. Coitado, banguelo e anônimo, sem muitas portas onde bater - a não ser naquelas que querem explorar o sensacionalismo do caso, expondo suas gengivas de maneira pornográfica nos programas de TV. Também anônimo, até agora, continua o dentista - mas vejam como são as coisas: o anonimato protege o criminoso, mas não a vítima.
Graças a tipinhos assim é que a categoria dos dentistas é tão, digamos, temida. Ninguém brinca com dentista, ninguém entra no consultório só pra dar um alô e matar as saudades. Nem na ficção dentista marca muita presença. Você lembra de algum personagem de novela que fosse dentista? Aguardo colaborações, eu não lembro.
Em cinema, teve o dentista nazista vivido pelo Lawrence Olivier em "Maratona da Morte" - a cena em que ele torturava um jovem apavorado Dustin Hoffman é um clássico. Teve o dentista do "Procurando Nemo" e aquele outro, acho que "A Pequena Loja de Horrores", algo assim. Tem o personagem do Diogo Vilela em "Toma lá, dá cá", mas aquele programa é tão ruim, que nem merece ser lembrado.
E nem vou desenvolver minha teoria de que dentistas são péssimos ouvintes. Seja amigo de um dentista e faça o teste. Ele tá tão acostumado a falar para um coitado espremido e boquiaberto que não costuma dar muito espaço para as respostas. Mas isso é uma teoria minha, não tem muita base científica. Aliás, não tem nenhuma.
Só resta mesmo acender uma vela pra Santa Apolônia, que - viva o google - descobri ser a padroeira dos dentistas. Mas daí a retratarem a santa com um boticão é de um tremendo mau gosto. Prefiro continuar achando que Santa Apolônia é apenas o nome da principal estação ferroviária de Lisboa. É bem mais agradável.
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Auto-merchan
Vale a pena dar uma olhada na programação completa, que está no site www.satyros.com.br. Tem de tudo para todos. E quando não é de graça - como são as peças da tenda, gratuitésimas - é bem baratinho. Apareçam.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Frases da lua

quinta-feira, 22 de outubro de 2009
O preto errado

domingo, 18 de outubro de 2009
Lembranças lusas
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Fernanda, 80 anos hoje

Conheci Fernanda Montenegro em 1973. Quem nos apresentou foi Medéia, numa adaptação da tragédia, assinada por Oduvaldo Vianna Filho - e que, alguns anos depois, viraria "Gota d´Água", com as deslumbrantes músicas de Chico Buarque. Devo ser sincero: na época não entendi muita coisa daquele caso especial, a não ser que a mulher enciumada matava os filhos e a nova mulher do ex-marido... Por volta de 1976-77, fui ao cinema assistir "Tudo Bem", uma comédia dirigida por Arnaldo Jabor (e, ao lado de "Toda Nudez será Castigada", um de seus melhores filmes). Me apaixonei de vez por aquela atriz ensandecida, que delirava com as traições imaginárias do marido e tratava os pedreiros com uma "bondade classe média" apavorante.
Desde aquela época já estive com Fernanda em várias situações. Ela era a estilista apaixonada por uma jovem Renata Sorrah, em "As lágrimas amargas de Petra von Kant"... Era a madrasta enlouquecida de amor por um ainda-sem-plástica Edson Celulari em "Fedra"... Era a dona de casa trocada por uma universitária, em "É...", de Millor Fernandes, ou a mulher soterrada na lama em uma peça de Samuel Beckett... Era a prima maluca de Paulo Autran na novela "Guerra dos Sexos"... Era a Zulmida de "A Falecida", a Dora de "Central do Brasil" e a Romana de "Eles não usam black-tie". E era também Adélia Prado, no monólogo "Dona Doida", um recital de poemas da autora mineira.
Não me lembro, nunca, de ter saído menos que hipnotizado por Fernanda. Mesmo quando não gosto muito, como o "Viver sem tempos mortos", em que ela vive Simone de Beauvoir, não posso dizer que ela estava fora de contexto. Fernanda cria o contexto. Cria o mundo.
O prazer da minha companhia, mesmo, ela só desfrutou em duas fugazes ocasiões. Durante a maratona de entrevistas para o lançamento de "Central do Brasil", Fernanda saiu do Espaço Unibanco e deu de cara com uma fila de gente comprando ingressos para outro filme. Era mais que um encontro, era um esbarrão inevitável. Ela encarou a todos nós e cumprimentou um por um, pegando na mão e tudo. Dizia algo do tipo "como vai, tudo bem, que legal que você está indo ao cinema"...
A outra vez foi quando, repórter da Folha, eu fazia uma matéria sobre cultivo de flores... sei lá porque, aquelas pautas da Folha... mas resolvi que Fernanda poderia dizer alguma coisa. Fui direto ao teatro onde ela estava em cartaz (o Cultura Artística, e ela fazia "Fedra") e, sem passar por assessor nem nada, pedi pra ouvi-la, expliquei o assunto ao porteiro e, depois de um tempo, recebi autorização pra subir ao camarim. Ela estava sentada, descansando antes do espetáculo. Me viu parado à porta, meio besta, e sorriu: "Você é o rapaz das flores?" Foram cinco minutos de conversa, da qual obviamente não lembro patavinas.
De resto, só conheço o que todo mundo conhece. E guardo na memória algumas cenas... Fernanda e Guarnieri catando feijão na mesa, em "Eles não usam black-tie" - fala sério, poucas cenas do cinema nacional são tão emocionantes. Fernanda recitando um poema de Adélia em que fala do silêncio cúmplice de um casal limpando peixes de madrugada... Fernanda ressuscitando o desejo pela virilidade de Othon Bastos em "Central do Brasil"... Fernanda e Paulo Autran despejando o café da manhã inteiro um no outro, numa tomada única e perfeita...
Fernanda, aos 80 anos, corre o risco de virar unanimidade. Uns, para criticar, falam que ela adora o dinheirinho do cachê, como se isso fosse pecado. Caramba, a mulher é o quê? Atriz. Vive do quê? De representar. Pra isso, precisa ser paga, pois não? Ah, esse nosso pudor católico em 'rejeitar' dinheiro...
O que me importa é assistir Fernanda em cena, admirar sua inflexão de voz e seus gestos precisos... É entender pelo olhar a alma do personagem... Não é preciso teorizar nem buscar explicações sociológicas: o prazer de um trabalho bem feito e que nos faz reconhecer o humano que existe no outro... Pra mim, dona Fernanda é isso.
Agora, fico sabendo que minha amiga Neusa Barbosa lança dia 28 o seu livro sobre Fernanda Montenegro. É um daqueles depoimentos da coleção Aplauso, da Imprensa Oficial - um catálogo que mistura gente interessante com outros que, francamente, não valem dois parágrafos... mas deixa pra lá... O que importa é que Neusinha colheu um depoimento de Fernandona ao longo de vários meses e me deixou com água na boca... Como pessoas adultas, amigos há mais de muitos anos, Neusinha e eu concordamos em várias coisas e, mais importante, discordamos em outras... Mas carregamos uma admiração comum por dona Fernanda (e pelo Chico, também...).
Tudo isso, só pra dizer "feliz aniversário, dona Fernanda! A senhora é o máximo!"
E tem mais uma coisa: sim, esse post é uma babação de ovo, descarada e assumida. São as delícias da blogosfera...
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Cartiê, filósofo

segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Dá licença?

sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Obama é o cara... rico

sábado, 3 de outubro de 2009
Minha professora de espanhol
