Pode ser alguma barreira minha. Talvez eu precisasse discutir o tema com minha analista. Ou continuar fazendo o que sempre faço: tiro o som da TV quando entram aquelas propagandas chatérrimas de Activia e outros produtos que ajudam a pessoa a fazer o bom e velho cocô. Aquele bando de mulheres reunidas em torno da Patrícia Travassos ou de outra atriz, comentando que agora sim são mulheres realizadas porque conseguem dar vazão ao seu metabolismo... sei lá, eu acho embaraçoso.
Não sou contra falar do assunto - já fiz peça sobre isso, aliás um tremendo sucesso. Mas uma coisa é fazer no teatro, a pessoa vai até lá, leu a sinopse antes, é um outro ritual. Se for um pateta que nem eu, que costuma almoçar ou jantar diante da TV (é errado, eu sei, mas oras bolas), é bem chato ver neguinho discutindo hábitos intestinais em público.
Também acho chato aquela propagada de ração pra cachorro em que uma menininha fofa aparece em close segurando uma pazinha lotada de cocô canino. Pô, não tem limite pro exibicionismo? Nem o cachorro escapa.
Essas coisas a gente fala com quem tem intimidade ou com o médico. Mas, pensando bem, nossos hábitos sexuais também não são da conta de ninguém - e hoje em dia o que mais se vê e lê nas revistas é com quem A dormiu, quem B comeu ou pra quem C deu. Já li entrevistas detalhadas de orgamos, primeiras vezes, práticas sexuais inusitadas e outras banalidades de gente que nem lembro mais quem era. Ou seja, coitada da moça - acho que era uma moça: se abriu feito um para-quedas e sumiu na lata de lixo da história.
O problema dessas propagandas - que atingem muita gente, já que prisão de ventre é praticamente uma epidemia - é que são repetitivas, sexistas e simplistas. Elas sempre têm uma pinta de científicas e se dirigem a mulheres, como se não houvesse homens não padeçam do mesmo mal. São simplistas porque atribuem a um pote de iogurte o dom de abrir os caminhos (num sentido figurado) de qualquer pessoa.
Numa das propagandas, uma executiva passa o dia correndo pro banheiro e saindo com cara de quem não fez nada. Até que a secretária eficiente oferece um remedinho - e a mulher, pelo visto, pinta a porcelana. Imaginem essa atriz saindo por aí. Entrando no banheiro de um restaurante. Ou usando o toalete na casa de um colega de trabalho. Todo mundo vai pensar a mesma coisa, não vai?
Deve ser tão constrangedor quanto a velhinha que fazia propaganda de fraldão pra adulto ou da senhorinha que falava do Corega. Ah, teve também o Orlando Moraes pagando mico de seboso, com a Glória Pires fazendo anúncio de xampu anti-caspa. É tudo natureza, eu sei, eu sei. Mas só queria dividir essa dúvida que sempre me bate quando vejo a Patrícia Travassos falando do Activia. Tanto que nem tenho uma opinião formada. Eu só não gosto dessas propagandas, mais nada.
exato!!! o tom 'saúde pública' também me incomoda! e o tal desafio activia???? se vc não obtiver o resultado esperado em 15 dias nós devolvemos seu dinheiro! como será q se operacionaliza a prova de que não foram obtidos os resultados????
ResponderExcluirah tá. é científico. então, vamos falar na cena pública sobre esse assunto da privada?
sei lá, acho que seria menos mal o ari toledo falando alguma pataquada pra vender laxativos. não?
Silvinha, isso mesmo! Resgatemos o Ari Toledo. E se estiver viva e nítida, a Zilda Cardoso. Imagina a Catifunda fazendo propaganda de remédio pra intestino preso?
ResponderExcluirMário,
ResponderExcluirO grande valor desse post foi ter me revelado o nome da atriz da propaganda. Coitada, deve até ter representado shakespeare e Mário Viana, artistas maiores, mas fazer esse tipo de propaganda é, no mínimo, broxante. COmo é dura a vida de ator...
Luiz, a Patrícia Travassos é uma das fundadoras do Asdrúbal Trouxe o Trombone, junto com a Patrícia Casé (com quem também aprendeu a ficar mais cheinha, digamos).
ResponderExcluirAcredita que ela já fez coisa pior? foi mutante na novela idem.
Rapaz, nunca tinha pensado nisso. Mas de fato é aterrador ver pessoas no horário nobre expondo as intimidades de suas tripinhas. Intestinal demais pro meu gosto!
ResponderExcluirJoão, vc imagina quando resolverem popularizar o Viagra? ou algum remédio contra ejaculação precoce? Tem um episódio de 'Friends' em que o Joe Tribbiani faz uma campanha que ele nem sabe pra que é... e descobre depois que era sobre doenças sexualmente transmissíveis, onde ele posa como se tivesse a DST. As pessoas fogem dele! É hilário.
ResponderExcluirTinha uma propraganda dessas com a Cintia Benigni tempos atrás, que era muito feia também. Acho que falar de vísceras e merda é preciso poesia.
ResponderExcluirSeguem dois poeminhas, o primeiro do Leminski e o outro da Adélia Prado
1.
Merda e ouro
Merda é veneno.
No entanto, não há nada
que seja mais bonito
que uma bela cagada.
Cagam ricos, cagam pobres,
cagam reis e cagam fadas.
Não há merda que se compare
à bosta da pessoa amada.
2.
Objeto de amor
De tal ordem é e tão precioso
o que devo dizer-lhes
que não posso guardá-lo
sem a sensação de um roubo:
cu é lindo!
Fazei o que puderdes com esta dádiva.
Quanto a mim dou graças
pelo que agora sei
e, mais que perdôo, eu amo.
Lindos, mesmo!
ResponderExcluirLembrei o sambinha bossa nova do Língua de Trapo, "Cagar é bom", cantado à João Gilberto. A gente reproduziu esse número no "Um chopes, dois pastel & uma porção de bobagem", um dos clássicos do repertório dos Parlapatões, de minha modesta autoria.
Oi,
ResponderExcluirDesculpe invadir o tópico aqui com outro assunto. Eu faço uma tese sobre alguns espaços (já) considerados deteriorados de São Paulo e suas representações e imaginários. Entre esses espaços, a Praça Roosevelt. Eu gostaria muito de ter acesso ao seu texto Cine Bijou. Ele está publicado em algum lugar? Se não, teria como ter uma cópia? Desde já te agradeço. Se quiser não publicar a mensagem no tópico e me responder no meu e-mail: palma.daniela@uol.com.br.
Abraço,
Daniela Palma
Mário, aquela menina pegando cocô de cachorro é uma das coisas mais estúpidas e de mau gosto que eu já vi na vida!!!
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