sexta-feira, 30 de abril de 2010

Mais uma estreia


Essa noite vou voltar a sentir aquele frio na barriga. Quando as pessoas começam a chegar ao teatro e eu me dou conta que o processo é irreversível, que todos vão descobrir que não tenho humor nenhum, que perdi o ritmo, que isso e aquilo... E na hora em que as luzes da plateia se apagam, acende-se o palco e a peça começa... aí eu esqueço tudo e fico acompanhando a respiração da plateia, vendo onde ela ri, que piada se perdeu devido à pressa do ator ou à imprecisão do autor... Teatro é engraçado, porque ele só acontece ali, com ator e plateia trocando olhares, risos, pausas... "Hoje tem Mazzaropi" vem à luz essa noite, no Teatro União Cultural (Rua Mário Amaral, 209), até 27 de junho. Vai ser bom escutar a gargalhada da plateia de novo.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Eterna lua-de-mel


O poder é afrodisíaco, dizem os que sonham em ser poderosos. A julgar pela mais recente declaração do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, o governo leva o chavão muito a sério. A esta altura, todo mundo já leu a respeito no noticiário: ao lançar uma campanha de combate à hipertensão, o ministro receitou sexo cinco vezes por semana como forma de, digamos, deixar tudo em dia com o organismo. A nação quedou-se boquiaberta e com toda razão: não é sempre que alguém do governo, de qualquer governo, fala alguma coisa que preste. Para alergia dos carolas, Temporão ainda acrescentou um "com segurança" ao conselho de "meus filhos, trepai".


Temporão entrou na fila de políticos que usam o sexo como argumento demolidor. Só pra ficar na gestão Lula, a então ministra do Turismo Marta Suplicy aconselhou às vítimas dos atrasos aéreos que relaxassem e gozassem. Na ocasião, pegou muito, muitíssimo mal o que soou como zombaria para com quem estava há mais de 40 horas esperando um vôo de 40 minutos. Marta pediu desculpa, mas a besteira já estava feita - e o que sempre foi um conselho de amigo em mesa de botequim ganhou envergadura de crime contra a dignidade nacional.

Políticos de outros partidos foram menos enfáticos com relação a conselhos sexuais, mas não menos entusiastas na prática do esporte. Haja visto que volta e meia aparece ex-presidente reconhecendo filho nascido fora do casamento e senador denunciado por atrasar a pensão milionária à filha bastarda e ministra alugando escritor consagrado pra botar a boca no trombone sobre seu caso com um colega. No passado, dizem mesmo que um certo ex-prefeito e ex-governador, atualmente com sérios problemas junto ao sistema financeiro internacional, também usou seus atributos sexuais junto a primeiras-damas assanhadas para galgar mais rapidamente as trilhas do poder. Deu certo (e isso não é trocadilho).

No Brasil, o sexo mistura-se ao poder desde 1500. Ou alguém esqueceu a menção entusiasmada que o escrivão Pero Vaz de Caminha fez das "vergonhas" de nossas índias - "altas, tão cerradinhas e nós, de tanto as olharmos, não nos envergonhamos". Caminha, hoje em dia, iria parar na cadeia por assédio sexual de incapaz, mas na época a única coisa fora do comum eram as tais vergonhas cerradinhas. O patrono do turismo sexual foi o primeiro laço de nossa brasilidade tropical com o sexo carnavalesco. Ou algo assim.

A receita de cinco doses de sexo por semana merece aplausos e adesões entusiasmadas, decerto, mas isso tá parecendo mais uma daquelas leis que não pegam. A não ser que haja patrulha fiscalizando. Ou seja, não pode beber antes de dirigir, nem fumar na balada - mas furunfar, pode. E deve. Ordem é ordem.

Mas uma coisa sobrou pendente da declaração do ministro. Pra combater a hipertensão, muita gente toma remédios. E esses remédios são conhecidos por anular (ou, pelo menos, reduzir bastante) a libido. Notaram a contradição? Ou bem você obedece ao ministro e cai na gandaia ou bem obedece ao médico e fica vendo a banda passar . A não ser que o ministro da Saúde esteja lançando uma campanha subliminar de combate à medicação exagerada. Pode ser. Danado, esse Temporão.


quarta-feira, 21 de abril de 2010

A desembargadora e o pedreiro


Passei vários dias pensando no que escrever sobre o caso do pedreiro suicida de Luiziânia. O serial killer de meninos pobres, libertado por um juiz , matou seis moleques e, novamente preso, foi encontrado morto em sua cela, pendurado a dois metros do chão... Fala sério, ia escrever o quê sobre o caso? A história é tão cheia de nonsense e sangue... Qualquer comentário vira um pleonasmo e, aparentemente, só nos resta acompanhar de "olhos boquiabertos" (como escreveu uma repórter) as declarações do juiz, que dormia tranquilo por ter seguido a lei ao pé da letra. E que se danem as seis famílias enlutadas.

Aí o pedreiro se matou e é claro que qualquer teoria conspiratória encontraria terreno fértil para germinar. Alguém viu na TV a corda que o pedreiro fez para se enforcar, usando retalhos do colchão? O homem era um talento desperdiçado, um artesão de mão cheia, um tecelão caprichoso, de raro senso estético. Era uma corda perfeita e todo mundo achou normal. É claro que no Brasil as autoridades têm o dom de transformar a realidade ao seu prazer e conveniência. Exceto pelas seis famílias enlutadas (desculpem tocar novamente nesses pobres chorões), todos dormem sossegados agora que o serial killer passou desta pra melhor. À família dele, até o momento, foi negado o direito do sepultamento, pois é preciso esperar o fim das investigações. Cruel, cruel.

E chega a notícia de Santa Catarina, terra de gente loira e civilizada (dizem), onde tudo é uma amostra do país que poderia dar certo (também dizem). Lá, um rapaz apanhado numa blitz de trânsito, com o carro entorpecido de tantas multas não pagas, apela para a mãe - já que os rapazes de hoje não sabem fazer nada sem o apoio de pais superprotetores. A mãe correu para ajudar o filhote e, lá pelas tantas, do alto do clássico você-sabe-com-quem-está-falando, dá uma carteirada no PM. "Sou desembargadora do Tribunal de Justiça", ao que o PM responde: "Pois devia dar o exemplo e seguir a lei". É bem capaz desse policial atrevido perder o cargo e ser processado por ter peitado uma desembargadora.

Aproveito a ocasião para tentar esclarecer uma dúvida que me acompanha há anos: o que faz um(a) desembargador(a)? Desembarga? É tipo assim um comendador, que só 'comenda'?

Em vez de se indignar com a carteirada, registrada em filme no celular de outro PM, a Associação dos Magistrados de Santa Catarina emitiu nota de apoio à colega, que teria sido ofendida por um vulgar policial militar. O espírito de corpo se sobrepõe à vergonha e à decência. Na notícia, a fulana já pagou as dívidas, que eram muitas, tirou o carro do Detran catarinense e sumiu sem dar notícia. No Brasil, quando autoridade carteirista some sem deixar rastro é sinal de culpa no cartório.

Isso me fez ficar pensando nas mães enlutadas de Luiziânia. E também na mãe do pedreiro serial killer. Tão mães quanto essa doutora, elas não tiveram chance de mostrar se também são superprotetoras, nem receberam alguma moção de apoio. Não sei se existe a associação das mães de meninos molestados por tarados libertados pela justiça... ou mesmo uma federação das mães de molestadores sexuais... Mas devo deduzir que elas também estão sofrendo e não têm como dar carteirada - com o RG puído, talvez? Mas RG sem pedigree não conta pra nada.

Agora que o rapaz, dizem, se matou, a coisa vai ficar por isso mesmo. Ninguém teve culpa de nada e os meninos morreram porque deram corda a um estranho... E daqui a uns 30 ou 60 dias, a família do pedreiro recolhe seu corpo congelado e enterra, sem tempo de avisar algum conhecido e até sem lágrimas nos olhos, porque até lá, secou tudo.

Não tive pena dele, não. Era um doente que deu o azar de encontrar pela frente uma equipe de profissionais incompetentes, preguiçosos e que julgam qualquer pobre merecedor apenas de descaso. Um doido a mais ou a menos na rua, que mal faz? Esse fez. Matou seis meninos e teria matado mais, se não fosse preso a tempo. Com a dele, são sete cadáveres na conta de profissionais - psicólogos, médicos, advogados, juízes -, cujos nomes mereciam ser expostos em praça pública, pra servir de exemplo e alerta. Sete famílias enlutadas são as credoras dessa fatura.

Enquanto isso, a desembargadora catarinense desembarga sua carteira pra salvaguardar o filhote dos PMs sem coração.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Memórias de Viagem 2 - Adeus, lembrancinhas


A ficha caiu no meio da viagem, literalmente. Estava numa cidadezinha chamada Hoi An, no Vietnã, e fui conduzido a uma loja de sedas e de roupas feitas sob medida. Disparado, eram as roupas mais feias do mundo, uns ternos desconjuntados e uns vestidos que criariam poeira até em brechó de quinta. Saí de lá, percorri as ruas margeadas por lojas de artesanato... e me dei conta que, na verdade, o artesanato está acabando. Está em extinção, junto com a onça pintada e o sagui do topete verde (se é que existe um).


Fiquei pensando nas últimas feirinhas de artesanato que já percorri - e eu confesso, adoro percorrer feirinha de artesanato desde o tempo em que a da Praça da República se chamava feira hippie. A cada ano que passa, os produtos são mais e mais iguais: no Nordeste, as mesmas estampas de camisetas percorrem todos os Estados, mudando apenas a identificação: Recife, Natal, Fortaleza... Bolsas de couro, caixinhas coloridas, alguns bonequinhos pornográficos - e nisso se resume a quase totalidade dos "artesanatos", que mais parecem feitos em série num torno mecânico de fundo de quintal.

Não é só no Brasil. Há 17 anos, a rua de Patpong, em Bangcoc, era um festival de roupas de seda e produtos de couro trabalhado a mão, lindos. (Era também a rua dos puteiros, onde as moças extraíam bananas, bolinhas de pingue-pongue e até giletes da vagina - mas isso não mudou, continua). As barracas agora vendem camisetas muito semelhantes às que você encontrará nos países vizinhos. Eu disse 'países' e não exagerei. Quando é o mesmo país, então...

Em Phuket, no sul da Tailândia, vi uma camiseta bem legal, que acabei deixando de comprar por preguiça - tem hora que você enjoa de barganhar cada compra, é um saco ficar discutindo preço até com chofer de táxi. Não me preocupei, porque acharia uma igual em Bangcoc. Dito e feito. Só que em vez de "estive em Phuket" vinha um "estive em Bangcoc"...

No lugar das roupas de seda e artefatos de madeira, o que se vende agora? Cópias de relógios Rolex; camisetas Lacoste; cuecas Armani e calcinhas Dolce&Gabbana... A máfia das falsificações tomou conta das barraquinhas de suvenir - de Porto Alegre a Macau, de Belém a Dubai. Agora, em vez de colaborar pro orçamento de uma tiazinha bordadeira de Maceió ou Marrakesh, você ajuda a rede do crime organizado. Não, não é paranoia: se alguém ler "McMafia", de Misha Glenny, ou "Ilícito", de Moises Naim, vai entender o que eu estou falando. Comprar um Rolex falso pode ser uma onda divertida, mas para o nego que vende armas contrabandeadas do Tucurunduquistão pro Iraque, não é divertido, é lucrativo.

Essa onda pegou força mesmo na China, país que não é nenhuma congregação de freiras descalças. Na terra dos mandarins, os caras têm a manha de falsificar até trem de alta velocidade - compraram o projeto alemão, que está em Xangai, lindo (liga a cidade ao aeroporto, a 32 km, em 8 minutos!) e logo copiaram pra construir um genérico em outra cidade. A coisa tá feia nos tribunais internacionais de marcas e patentes. Mas a mania espalhou e hoje todo mundo - mesmo o seu amigo mais careta - chega de Dubai ou Miami todo satisfeito exibindo roupas, relógios e tênis falsificados. Qual é o prazer disso? Exibir a marca ou a falsificação?

Em meio a tanto "lolex" (é como os orientais chamam o relógio, juro), há sempre um respiro. No Laos, o país mais pobre da velha Indochina, ainda sobrevive o mercado noturno de artesanato à moda antiga. Tá certo que Luang Prabang, a cidade mais bonita do Laos, parece ter parado em 1976: se não fossem as lan houses, você se sentiria em pleno território hippie. Todos falam baixo, todos respeitam você, ninguém te aborda na rua e tudo é meio paz-e-amor. Beleza pura.

O mercado noturno (na foto) também é assim. Lá você ainda encontra toalhas de mesa feitas à mão, almofadas bordadas mesmo e esculturinhas de gosto duvidoso, porém autênticas. Ah, encontra também camisetas feitas em série - mas que só são vendidas na cidade... Em Luang Prabang, o império das falsificações ainda não chegou à avenida principal.



quarta-feira, 14 de abril de 2010

Arrivederci, Claudio


A notícia chegou sábado, no momento em que eu começava a almoçar no Bar da Dona Onça. O jornalista, roteirista, boa praça em geral e amigo em particular Claudio Barbutto tinha morrido naquela manhã, aos 40 e poucos anos (ele não revelava a idade...). Um enfarte fulminante o levara, em Milão, onde vivia com a mulher, Maria Helena.
Quando Patricia me ligou contando, a Dona Onça trazia à mesa uma amostra de um novo prato, o cassoulet de frutos do mar, delicioso... E eu, em meio à tristeza, saquei a sincronia: entre meus amigos, Claudio era o que mais gostava de provar novos pratos e sabores... Era um apaixonado por gastronomia e passava essa paixão para quem o conhecia.

Quando ele e MH moraram em Roma, estivemos juntos - e fizemos um deslumbrante passeio a pé pelo Forum Romano, à noite, iluminado de forma especialmente linda. Era um dos passeios prediletos dele - e tornou-se o meu, claro. Além disso, Claudio sempre levava o turista a um restaurante diferente, sempre um melhor que o outro, muitas vezes em lugares que nem os italianos nativos encontravam fácil - mas onde se podia saborear um espaguete com frutos do mar digno dos deuses... E o sorvete de arroz, fabricado na Picca, com direito a todos os trocadilhos?

Um homem tão apaixonado pelos prazeres da vida e pela Itália não precisava ter sido submetido, depois de morto, a tanto descaso: a polícia italiana demorou 3 dias para levar o corpo da casa para um insituto médico legal. Três dias! Faltava a autorização do médico do bairro, que estava de folga no fim de semana... A burocracia italiana reduz a terra de Fellini, Mastroiani e Armani a um muquifo de quarto mundo.

p.s. Rosani, obrigado pela foto.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Memórias de Viagem - 1


Antes de virar guru de auto-ajuda, o filósofo suíço Alain de Botton escreveu um livro bem legal sobre turismo e o por que as pessoas viajam e o que isso muda na vida delas, se é que muda. Num dos capítulos, Alain tenta explicar porque a gente sempre tem boas ideias e resolve problemas complicados quando está no meio das férias. O horizonte, diz ele, se amplia, perdemos as nossas referências cotidianas e isso nos ajuda a encontrar soluções até óbvias para coisas que nos incomodavam. É claro que ninguém vai descobrir a cura pro xulé durante as férias, mas sempre dá pra ter uma boa ideia pra começar uma peça, um conto, uma paquera, sei lá.

Falava disso com a delicada Adelia Nicolete outro dia, num encontro fortuito no café da Livraria Cultura, e ela me questionou: a gente só encontra essas saídas quando viaja? e quem não viaja? Boa! (Nelson Rodrigues nunca saiu do Brasil, vejam só...) Ficamos tertuliando, pensando que ser turista em seu próprio mundinho, em seu próprio quintal, também é um ótimo método. Ser turista, no caso, é aprender a olhar as coisas sob diferentes luzes e ângulos; é buscar o inusitado no mesmo; é olhar direto pro Outro, o nosso interlocutor, porque o Outro é uma surpresa que nos obriga a assumir novas atitudes, sempre. (Pelo menos é o que se espera do Outro, que não seja uma panqueca insossa todo dia).

Depois, Adelia me escreveu falando sobre os que viajam, viajam e não saem de casa. Sei de gente que, mal chegou a Nova York pra uma estadia de 7 noites, correu em busca de um restaurante brasileiro, porque ardia de saudades do arroz-e-feijão. Notem: era uma semana de viagem pra Nova York, que não é destino exótico nem pra quem vive em Cabul. Depois, o tal patriota reclamou que a comida deu dor de barriga e eu disse: bem feito. OK, ninguém precisa comer besouro crocante, cérebro de sagüi ou olho de bode só pra dizer que está aberto às novidades. Mas um pouquinho de jogo de cintura não interfere na camade de ozônio de ninguém... Custa dormir sem pijama, comer carne mal passada ou tomar cerveja sem espuma? (é praticamente impossível explicar pra um garçom do Vietnã que, sim, você gosta de colarinho no chope: "The white?", ele pergunta espantado - e serve a cerveja sem nadica de espuma)

Por que escrevo tudo isso? Porque levei um susto tremendo em Dubai. Quase um mês longe da tropical folia brazuca, vendo coisas melhores, vendo coisas piores, enfim, curtindo... e eis que, ao sair de uma estação do novíssimo metrô dubaiense, me vi diante da foto que ilustra esse post. Contive o grito de "Perseguição!", saquei a máquina e pensei: essa vai pro blog. Ironia é isso - tanta gente bacana pra lembrar a 12 mil quilômetros daqui e eu fui lembrar justo de Gilberto, o Alcaide! (É ele ainda, né?)



quarta-feira, 7 de abril de 2010

Reabre alas!!!


(espreguiça, tira a poeira, esconde o veja multiuso, fica direitinho, olha a postura... pode começar? pode. então, vamo'lá)


Volto da minha turnê pelos mistérios da Indochina e caio direto no Brasil da Maureen Bisilliat, no Sesi da Avenida Paulista. Percorro fascinado as 200 fotos de Maureen, feitas quase todas sob inspiração de algum escritor - Guimarães Rosa, Jorge Amado, Adélia Prado... Maureen explica as fotos e demole a teoria de que uma foto vale mais que mil palavras. Imagem e palavra se completam e, quando usadas de modo inteligente, fazem a gente avançar um tiquinho. É o caso dessa exposição.


A irlandesa Maureen, instalada no Brasil desde o começo dos anos 60, percorreu caminhos que a maioria de nós jamais ousou - nem mesmo na estante de casa. Pois ela não só leu, como ficou amiga e foi atrás dos personagens citados nos livros. Gente, ela ganhou apelido dado pelo Guimarães Rosa! Eu não consigo fazer com que o porteiro do meu prédio acerte meu nome - "Oi, seu Mauro"...


As fotos de Maureen nos trazem os sertanejos de Guimarães, os baianos de Jorge, as mineirinhas de Adélia... E trazem também figuras bolivianas, chinesas, japonesas... E atingem o máximo no segmento da Pele Negra, baseada numa das primeiras exposições da fotógrafa, com ensaios de negros... A foto do menino de pele escura, com asa de anjo e uma flor, à espera da procissão, é de cortar a respiração. Os modelos de Maureen têm em comum o olhar altivo, a pose de quem está em seu terreno... Ao contrário de muito retratista famoso, Maureen acha que o importante da foto é quem está diante da câmera e não atrás dela.


Foi bom re-mergulhar no Brasil pelas lentes de Maureen. Afinal, este não é o mesmo país de um mês atrás. Quando eu saí de férias, deixei o Glauco aí e agora... Dona Marta, Geraldão e outros tipos devem ter chorado muito e eu não pude estar aqui pra dar uma força. Volto e procuro o Rio, escondido debaixo da chuva. (Ontem, num boteco da Nove de Julho, parei pra observar um gari, um entregador de cerveja e um aposentado olhando fixamente o noticiário da TV, com as imagens da tragédia carioca... Um deles comentou com o outro: "Igual São Paulo, uns tempos atrás...". "Coitados", respondeu o outro. E o tom de solidariedade, de 'eu sei como eles estão sofrendo', me deixou filosófico).


Volto pro Brasil e encontro o Alberto Goldman no lugar do Serra, que saiu do governo pra disputar a presidência. É cena repetida: ele já fez esse esquete na prefeitura. Pelo jeito, caso o Serra ganhe a eleição pra presidente, a gente vai ter de rezar bastante pro papa viver muito. Senão, já viu...


Tô alimentando o projeto de blogar uma série "Memórias de Viagem". Caldo, dá. Vamos ver.


Tava com saudades.