Quantos posts dura a sua revolta? Você já se habituou a conter sua indignação nos 140 toques do twitter? As redes sociais estão aí e há mesmo quem diga que a primavera árabe começou graças a meia dúzia de twittadas bem dadas. Tenho minhas dúvidas sobre a eficácia do facebook como agente propagador de revolta - pelo menos, do tipo de revolta que derruba ditadores, destitui o senado e avança rumo à liberdade. Como se fosse um personagem de peça enigmática dos anos 70, me pergunto se "O Sistema" permitiria realmente a ampliação descontrolada de um serviço que pode causar tantos danos aos de cima.
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Posta e deixa rolar...
Quantos posts dura a sua revolta? Você já se habituou a conter sua indignação nos 140 toques do twitter? As redes sociais estão aí e há mesmo quem diga que a primavera árabe começou graças a meia dúzia de twittadas bem dadas. Tenho minhas dúvidas sobre a eficácia do facebook como agente propagador de revolta - pelo menos, do tipo de revolta que derruba ditadores, destitui o senado e avança rumo à liberdade. Como se fosse um personagem de peça enigmática dos anos 70, me pergunto se "O Sistema" permitiria realmente a ampliação descontrolada de um serviço que pode causar tantos danos aos de cima.
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Monstros sem Freud
A culpa deve ser do Tom e Jerry. Ou do Bip Bip e Coiote. Não há outra explicação razoável para a série de atentados terroristas que tem vitimado cães, no que parece ser a última moda em bestialidade moderna. O sujeito pega o cachorro, amarra no carro e sai arrastando o bicho estrada a fora. Outro enterra o cãozinho recém-nascido ainda vivo. Soube de crianças em um condomínio que brincaram de atirar gatinhos recém-paridos contra a parede - um deles sobreviveu com sequelas cerebrais. Não é culpa dos astros, dos pais nem da água? Então, só pode ser coisa de Tom e Jerry: as pessoas deram pra acreditar que o mundo é um desenho animado, você explode uma bomba aqui, atira o outro pela janela ali - e no quadro seguinte, a vida prossegue como se nada houvera.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Muitas Chinas
Quando a escritora Lygia Fagundes Telles embarcou para a China, em setembro de 1960, eu era apenas um bebê de dois meses e meio, nascido abaixo do peso e sem muitas garantias de sobrevida. Lygia já era Lygia, tanto que foi convidada pelo governo chinês, junto com um grupo de intelectuais e artistas, como a atriz Maria della Costa, a visitar o país e constatar com os próprios olhos o que a revolução comunista vinha aprontando havia 10 anos na antiga terra dos mandarins. A tinta revolucionária estava fresca nas paredes, já houvera uma troca de comando na cúpula e a Camarilha dos Quatro, gangue que implantou o terror governista com a Revolução Cultural, ainda não tinha posto as manguinhas de fora. Essa viagem está no delicioso "Passaporte para a China", que a Companhia das Letras acaba de lançar.
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
A lei do Hato
Quando ainda era vereador, o hoje deputado Jooji Hato estava em seu carro e foi assaltado por um motoqueiro - ou melhor, pelo carona do motoqueiro, que ia na garupa. Foi traumatizante, diz o deputado, e ninguém duvida. Por conta disso, o político vem há anos tentando emplacar uma lei que proíbe o transporte de caronas em motos. A motocicleta, como todos sabem, tem espaço para duas pessoas - o piloto e seu convidado. Em qualquer lugar do mundo é assim. Menos no Estado de São Paulo, a depender da vontade de Jooji Hato e seus colegas de plenário. Espera-se agora que o anjo que soprou um pouco de bom senso nos ouvidos da então prefeita Marta Suplicy tenha igual fôlego quando o projeto estiver diante do governador Geraldo Alckmin - e, assim como fez a petista, o tucano vete o projeto de lei, sob risco de sair de destaque no grande desfile dos ridículos a que somos expostos pela incansável classe política.
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
O SUS do Lula
Foi como tosse no intervalo de um concerto. Mal saiu a notícia de que Lula teve diagnosticado um câncer na laringe, começaram a pipocar na Internet os mais variados comentários - do apoio solidário às piadas de humor negro. Teve início uma campanha para que o ex-presidente abrisse mão do atendimento em um dos melhores hospitais do país para tratar-se no SUS, o Sistema Único de Saúde mantido aos muitos trancos e abissais barrancos pelo governo federal.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Aética Aplicada
Ninguém sabe com certeza se foi Charles ou William Lynch quem oficializou, ainda no século 18, o assassinato de uma pessoa, cometido por uma multidão, sem prévio julgamento ou prova de culpa. O certo é que a prática do linchamento tornou-se corriqueira e ganhou, mesmo, entre nós, uma subcategoria, a do linchamento moral. No Brasil, em especial, parece que linchar é um esporte tão fácil de praticar quanto jogar peteca ou chutar bola. Com o auxílio tecnológico das redes sociais, então, ficou ainda mais fácil participar de qualquer campanha linchatória sem sequer sujar as mãos. E é tudo muito rápido, veloz, um zás-trás: anteontem era o Rafinha Bastos, ontem foi o Orlando Silva e amanhã... talvez o ministro da Educação, por conta das sucessivas besteiras em torno das provas do Enem. É bom preparar as pedras - virtuais ou não.
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Alô, alô... responde...
Quantas palavras existem no mundo, não faço a menor ideia. Só sei que todas elas, juntas, não estão dando conta do recado. Nunca se falou tanto, nunca se escreveu tanto, nunca se comunicou tanto para tantos - e, contraditoriamente, nunca nos entendemos tão pouco. Nos e-mails, nas redes sociais, nos livros, jornais, blogs, revistas, nunca tantas palavras foram atiradas a esmo. Emitimos sinais, contamos façanhas, lançamos apelos - para quem? Antes, quando escrevíamos uma carta, colocávamos o destinatário no envelope e dávamos um rumo definido à mensagem. Trocamos o destinatário por "amigos" e "seguidores", subtraímos rosto e digital - mas perdemos em retorno. Com quem falamos? Quem tenta, em algum ponto do planeta, falar conosco? Consegue?
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Rafinha: basta.
O imaginário cultural brasileiro vive num clima de eterno Fla-Flu: você é marlene ou emilinha, chico ou caetano, elis ou gal, machado ou zé de alencar, legião ou barão. É como se no verde-amarelo das cores pátrias não houvesse lugar para o cinza ou, vá lá, um verde mais claro. Somos xiitas disfarçados em pele de cucas frescas. Nesse eterno sábado de aleluia tropical, o judas da temporada atende pelo nome de Rafinha Bastos. O irônico é que - mantendo a metáfora das festas católicas - o mesmo Rafinha passou o Natal sob melhores luzes: não era o cristinho da manjedoura, mas um dos reis magos, com certeza. Os ventos sopraram em outra direção, Rafinha Bastos não se tocou e agora se tornou a celebridade que todo mundo quer achincalhar. E só por escrever isto é bem capaz de alguém interromper a leitura e já me chamar de "adorador" do Rafinha. Dá um tempo. Continua a ler, no final a gente conversa.
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Sem Olívia nem Stabler
Narrada em poucas linhas, a notícia parecia mais a sinopse de um episódio de "Law & Order: Special Victims Unit". No meio da aula, um garoto de 10 anos se levanta, aponta um revólver para a professora e atira. Em seguida, volta a arma para a própria cabeça e se mata. Infelizmente, a história é real, aconteceu em São Caetano do Sul, na região metropolitana de São Paulo, e está fora da jurisdição de Olivia Benson e Eliott Stabler, os carismáticos detetives da série de TV. Nos jornais do dia seguinte, repórteres e especialistas tentam, mas não conseguem explicar o que houve naquela escola.
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
Parceiros, ainda e sempre
Coloquei o ponto final na primeira versão de "Pantagruel" no dia 10 de setembro de 2001. No dia seguinte, extremistas a mando de Bin Laden jogaram dois aviões contra o World Trade Center, em Nova York. Obviamente, um fato não tem relação nenhuma com o outro, mas a gente encontra meios muito particulares de marcar acontecimentos importantes em nossas biografias. Para mim, o 11 de setembro é e será sempre o dia seguinte ao fim da primeira etapa de um trabalho que mudou a minha vida: terceira parceria minha com os Parlapatões, "Pantagruel" me estimulou a pedir 4 meses de licença não-remunerada do Estadão e, por sua vez, estimulou o Estadão a me colocar na lista de demitidos quando houve um corte brutal na redação.
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Um chicabon metafórico
A página da Wikipedia informa que a cantora Zélia Duncan completou os 42 km de sua primeira maratona em 5 horas, 10 minutos e 34 segundos, no dia 10 de outubro de 2010. A enciclopédia virtual ainda não comunica aos leitores que no dia 3 de setembro passado, a cantora de Niteroi comemorou 30 anos de carreira fazendo em cerca de 60 minutos uma estreia impecável: "Totatiando", o espetáculo que Zélia não quer chamar de show, é sedutor da primeira à última sílaba. Se, no começo, as pessoas estranham a cantora espremida num terninho escuro... Se, ao contrário dos shows normais, há poucos aplausos entre uma música e outra... Se a encenação bem conduzida pela atriz Regina Braga segue uma partitura detalhada... Tudo isso converge para um final que poderia ser chamado de apoteótico, caso o adjetivo não estivesse tão desgastado. É um final energizante, pronto.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Azelite
Hoje cedo, ouvindo a Band News FM, escutei a entrevista de uma moradora do Morumbi, um bairro que a gente da minha safra cresceu sabendo que era "dos ricos". De uns bons tempos pra cá, o Morumbi ganhou favelas, conjuntos residenciais e, pasmem, chegou a ser definido - pelo locutor, esta manhã - como bairro de classe média. Alta, mas média. A notícia hoje era que moradores do Morumbi organizaram uma manifestação, um protesto, pela falta de segurança no bairro.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
A Bovary do Horto
Publicações em blog têm curta validade e este, em especial, vence na sexta-feira, quando a última cena de "Insensato Coração" for ao ar. Eu sei que há coisas mais importantes em que pensar - a indignação do governo federal com a publicação das fotos dos presos no escândalo do Amapá, por exemplo, dá muito pano pra manga. Mas vou falar da novela.
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Carta aberta ao vereador Carlos Apolinario
Prezado vereador Carlos Apolinário (DEM)
Venho por meio desta solicitar a atenção do nobre edil, eleito por milhares de moradores desta cidade, para uma situação de extremo preconceito que acontece anualmente em nosso município.
Como sei do empenho que o prezado vereador dispensa às minorias oprimidas – veja-se o caso do seu esforço na criação do Dia do Orgulho Hétero, que levou e ainda levará nossa amada cidade ao noticiário mundial, especialmente por criar a categoria até hoje pouco estudada da maioria oprimida - venho reivindicar a mesma gana legislativa para a criação do Dia do Órfão Paulistano.
A implantação desta data comemorativa é tema urgente e de capital importância para o respeito a todas as categorias sociais que convivem em São Paulo. Assim como a Câmera dos Vereadores ousou desafiar o seu tempo e criou o Dia do Orgulho Hétero, esta tarefa é de fundamental providência por parte dos dedicados edis de nosso município, eleitos e mantidos com os votos de milhões de paulistanos.
Não acho que seja o caso de se chamar Dia do Orgulho Órfão, já que nem mesmo a mocinha que mandou o namorado dar cabo dos pais tem orgulho em exibir a orfandade, acredito eu. O Dia do Órfão justifica-se a cada temporada de Dia das Mães e Dia dos Pais. São datas criadas pelo comércio, é claro, mas a Parada Gay de São Paulo também se tornou a menina dos olhos do turismo paulistano e só a entrada de dinheiro nos cofres municipais já justifica a manutenção do evento na principal avenida da cidade – os evangélicos e os sindicalistas, em sua maioria, são daqui mesmo e não animam hoteis, restaurantes, lojas e outros templos consumistas que fazem a alegria da comunidade gay.
É necessário que os vereadores se sensibilizem com a causa dos que sofrem a falta de seus entes queridos a cada campanha publicitária. “Temos o presente para qualquer tipo de pai” ou “Dê a sua mãe tudo o que ela quis” são slogans que, antes mesmo de estimular o consumo, constrangem os cidadãos privados de seus genitores. É de uma violência abissal, desumana, impensável. É a orfanofobia em marcha, aproveitando um termo criado por Vossa Excelência na revista Veja desta semana.
Como cidadão paulistano, profissional que vive do seu trabalho e por ele paga todas as taxas e impostos cabíveis (e incabíveis, também), eleitor com a situação em dia, e – acima de tudo – órfão de pai e mãe, julgo-me pleno de direitos em reivindicar ao vereador que abrace a nossa causa.
Superaremos diferenças políticas em nome de um bem maior, lembrando que nossa luta em nada depõe contra a figura humana dos que têm pai ou mãe vivos – alguns têm ambos! É preciso combater o excesso de privilégios dados a esses cidadãos já aquinhoados com os pais em plena atividade.
O órfão paulistano cansou-se de ser humilhado em shopping centers, lojas e anúncios de TV. Chega! Nossa luta está apenas no começo!
Atenciosamente,
Mário Viana.
terça-feira, 26 de julho de 2011
Chico!
Antes de convidar à leitura, vou logo avisando: este é um território chiquista, com evidente e democrático espaço para discordantes, desde que mantido o nível de civilidade. Isso posto, vamos ao post em si. Saiu Chico, o CD novo de Chico Buarque. Mais que novo, é um grande CD. Maior que seus 31 minutos de duração. Poderia ser um resumo da carreira de Chico desde os anos 60, mas é evidente e audível a vontade do compositor de não ser o mesmo, de avançar, de arriscar. Chico escapa do olê olá, com métrica certinha, e abusa do descompasso entre verso e música, as palavras faltam aqui, sobram ali, como que deslocadas. E estão - é esse o segredo.
quarta-feira, 20 de julho de 2011
Portinari, para poucos
A menina magricela, de uns 10 anos mais ou menos, estava entre inconsolável e revoltada. "Por que não posso fotografar os quadros que eu quero?", perguntava-se sem obter resposta do segurança gentil (porém desinformado) nem dos pais, de aparência de quem tem pouca intimidade com o ambiente dos museus. A cena se passou domingo no MAM, onde foi aberta uma delicada exposição de Cândido Portinari. Tenho uma tendência quase psicopata de dar informação a quem se encontra perdido na rua e, desta vez, não reprimi meus instintos. Expliquei pra menina que alguns quadros pertenciam a colecionadores particulares, que o emprestavam, mas proibiam fotos. O pai ou a mãe da menina tentavam ajudar. "É pra ninguém fazer cópia e vender na rua". A menina assumiu a frustração e decidiu: "Quando eu ficar grande, vou comprar quadros bem bonitos e deixar todo mundo fotografar". Tomara.
sexta-feira, 8 de julho de 2011
Órfãs de filho
Um nunca soube do outro e se não fosse a coincidência de frequentarem as páginas do noticiário nos mesmos dias, certamente não haveria porque ligar Juan a Yoham. Mas ambos tinham muito em comum: eram meninos, brincavam na rua, tinham vários irmãos e foram batizados por suas mães com nomes que buscavam tirá-los da sina madrasta que uniformiza os caminhos de tantos zés, joões e carlinhos. Não deu certo a mandinga. Isso foi outro ponto comum entre os meninos. Ah, e o fato de serem, os dois, pobres.
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Tempo tempo tempo tempo
O tempo nos incomoda. Perturba. Confunde. É um inimigo contra o qual a batalha é sempre perdida. Pode, sim, ser nosso aliado, quando precisamos de calma para encontrar soluções ou queremos apreciar o crescimento de alguém ou alguma coisa. O tempo mexe com todos. Penso no tempo que passa desde o final dos anos 70, quando Caetano gravou "Oração ao Tempo", no LP (era LP naquela época) Cinema Transcendental. Naquela época, um colega da revisão da Abril, o Zeca, todo chegado a papos-cabeça, babava-se pelo Caetano - vocês acreditam nisso, jovens? os universitários babavam pelo Caetano e não pelo vencedor do último reality. "O Caetano fez um tratado filosófico sobre o tempo", dizia o Zeca. E eu passei a prestar a maior atenção na música e, até hoje, quando a ouço, lembro da cena, do Zeca e concordo com ele. "Oração ao Tempo" é mesmo um tratado.