Foi
mais ou menos assim: a atriz, deputada estadual e missionária Myriam Rios (como
está em sua página da internet) apresentou um projeto de lei mirando os bons
costumes. O governador Sergio Cabral já assinou e a lei está valendo. Nas
reportagens que li, não dava pra entender direito o que eram os tais bons
costumes que a parlamentar defendia. Mas na chuva de posts que invadiu as redes
sociais deu pra entender uma coisa: preconceito é uma atitude daninha, seja
contra ou a favor da gente.
No
caso, o preconceito foi contra a deputada, cujo projeto de lei é mesmo
estapafúrdio. As armas usadas para atacá-lo, no entanto, foram as piores
possíveis: alguém fuçou na internet e descobriu imagens dos tempos em que a
hoje política era somente atriz e tinha um corpinho que não era de se jogar
fora. Sucesso em novelas da Globo, jovenzinha com tudo em cima e mais um pouco,
Myriam Rios sucumbiu às propostas de fotos sensuais, nua ou seminua - tanto
faz. Dizia-se nos posts que uma pessoa que fez aquelas fotos não tem o direito
de hoje, enfiar o dedo moralista no nariz da gente mais soltinha e
despreocupada.
Que
ela não tem por que se meter nos bons costumes alheios, é ponto pacífico.
Certamente o Estado do Rio tem problemas muito mais sérios pra assembleia
legislativa cuidar. Se queremos mesmo atacar a lei da Myriam, devemos mirar no
que ela tem de tacanha, reducionista, cafona - mas não vamos agir também de
maneira tacanha, reducionista e cafona. Recorrer ao passado doidivanas de
Myriam Rios não é o melhor meio de anular sua lei do bom comportamento.
Profissional
que era, Myriam deve ter recebido pra posar pras fotos. Assim como são
profissionais e recebem o combinado as moças que saem nas capas da Playboy e da
Sexy (e os moços da G, da Júnior, etc, também). Se hoje "acusamos"
Myriam de ter feito aqueles trabalhos, nada impedirá que amanhã ou depois
alguém saque da algibeira as fotos que muitas moças legais fazem por aí. Eu
mesmo sou amigo de quatro atrizes que foram capa da Playboy e posso garantir
que nenhuma delas tem comportamento moral discutível.
Myriam
Rios já fez muita besteira na vida - inclusive atuar. Casou com Roberto Carlos,
virou cristã militante e anunciou com orgulho estar há mais de 10 anos sem
sexo. Igualou homossexualismo com pedofilia, causou rebuliço, pediu desculpas.
E agora surge com essa lei boko-moko. Se ela tivesse levado uma vida de monja,
nunca tivesse blasfemado ou roubado doce de criança, mesmo assim seu projeto de
lei seria, no mínimo, risível. Não é o fato de ela ter mostrado as pudendas pra
garotada que a desautoriza.
Como
todo mundo, Myriam pode ter mudado de opinião e ponto de vista ao longo dos
anos. Quem não muda tem problemas sérios de aprendizado. Até onde eu saiba,
conta a favor da deputada ela não ter tentado apagar seu passado de saliências
- ao contrário daquela apresentadora loira cinquentona com voz de criança
atrasada na escola. Myriam fez o que fez, as fotos comprovam e ela agora
tornou-se o símbolo da caretice. O chato nisso é que milhares de pessoas deram
seu voto à caretice da moça.
Meu
medo na cruzada moralista anti-Myriam é o que ela esconde: o acanhado limite
que cada um que se diz liberado impõe ao outro. Infelizmente, é possível, sim,
ser tacanho quando se ataca a caretice.