segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Dá licença?


Tem acontecido com frequência cada vez maior. Este fim de semana, por exemplo. Sentado numa poltrona do Espaço Unibanco, à espera do filme, não reparei que um rapaz tentava entrar na fileira. O que ele fez? Começou a empurrar minha perna até que eu desse passagem. O outro, que se sentou ao lado, não teve o menor constrangimento em tirar do bolso um celular do tamanho de uma caixa de sapato e ver a hora ou mensagem ou... Ok, isso pode ser comum, mas eu não me acostumo com essas grosserias. Ainda mais no meio de um filme como "Bastardos Inglórios". O escalpo é o mínimo que um sujeito desses - o do celular - merece.

Nos ônibus, as pessoas vão passando, sem pedir licença. Na rua, perguntam as horas e, depois da resposta, não agradecem. Te empurram e não pedem desculpas. Várias vezes já me senti pressionado numa calçada e não era assédio nem assalto: era alguém querendo passar e não conseguia pedir licença! Alguém, mais antenado com a modernidade, bem que poderia tentar me explicar o que fizeram com uma expressão tão simples como "dá licença?". Eu confesso, não sei.


E sinto falta dessa gentileza. Não precisa ser nada meloso, não. Formalidade demais é chato. Mas podia ser educado, já bastava. Quer um exemplo? Quando saio de manhã pra ir fazer ginástica... posso encontrar gente no elevador... um simples bom dia já tá bom. Às vezes, na rua mesmo. Desconhecidos que 'cometem' pequenos gestos educados - como dar passagem a alguém mais velho e a pessoa olhar de volta e agradecer com um sorrisinho. Nem precisa falar. Só olhar e sorrir.

Parece (e deve ser) pedir demais. Mas é o único jeito de não me sentir tão fora de moda como uma bicicleta antiga.
p.s. Por falar em "Bastardos Inglórios", o filme é impressionante. Tarantino cresceu e domina a linguagem do silêncio como pouquíssimos. Neste filme, as pausas e silêncios são de uma eloquência avassaladora.

3 comentários:

  1. eu passei por isso em uma rua, duas pessoas vinham e eu ia. só dava pra dois passarem, os dois continuaram firme, não queriam saber q eu não tinha pra onde ir. eu tb não me acostumo com essa falta de educação. eu sempre penso q tem a ver com o mercado competitivo. q isso faz as pessoas nunca quererem ser passadas pra trás no trânsito pq senão não serão vencedoras. o celular então nem se fala. não podem perder uma mensagem. como se duas horas mudasse muito ele ler ou não a mensagem no celular. tem faltado bom senso e principalmente educação. beijos, pedrita

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  2. Seu artigo lembrou-me "O prisioneiro da segunda avenida" com Jack Lemmon e Anne Bancroft. Tem uma cena ótima dela fumando na banheira, estresadissima, depois de ter ido fazer o papel do marido, trabalhar fora e enfrentar os perigos da selva novaiorquina.
    Chega uma hora que até Deus estressa, como diria Fagundes no "Deus é Brasileiro".
    Outro dia, no Era do gelo III, uma senhora chegou em cima da hora para começar o filme e queria que eu mudadesse da minha poltrona duramente conquistada, para que ela e a filhinha pudessem ficar lado a lado. Fiquei irritadíssima e me neguei, disse não enfáticamente, que ela que chegasse mais cedo se quisesse sentar num bom lugar.
    Eu me desconheci, foi uma atitude no auge do estresse, a falta de tato vai se acumulando, chega uma hora que a gente enloquece e começa a não suportar a mínima folga de ninguém.

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  3. Achei curioso vc odiar mais o cara do celular, do que o que empurrou sua perna sem abrir a boca. Tb sinto falta dessas palavras que aprendemos, ainda no prezinho, e não deveriamos nunca esquecer. Mas tem gente que esquece. As vezes penso que, mais do que falta de educação, é uma falta de capacidade de se comunicar mesmo. Imagine seguir esta pessoa que nos esbarra na calçada, e vermos suas atitudes a partir dali. É o cara que não olha pro atendente ao pedir o pão na padaria. Ou mesmo o que chega em casa, se enfia no quarto e não fala com a mãe.
    É uma falta de educação misturada a incomunicabilidade. E esta pode ter razões bem mais complexas. É, Mario, é o stresse da vida moderna.

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