
Só Deus e a Mônica, assistente do meu dentista, sabem o quanto eu peno naquela cadeira - e olha que o Ary é dos bons. Mas não tem jeito: o barulhinho da broca girando dentro da minha cabeça me deixa atordoado. Sentar na cadeira do dentista é o prenúncio de 60 lentíssimos minutos. Confesso tudo isso pra dizer que foi um verdadeiro conto de terror a história do menino de Brasília que teve todos os dentes extraídos por um açougueiro juramentado. Todos!
O rapaz tem problemas mentais, me parece - quer dizer, no fim da história quem tem problema mental mesmo é o dentista, mas continuemos - e, por isso, recebeu anestesia geral antes da extração de dois dentes. O trabalho devia estar uma moleza, porque o chamado profissional de odontologia se entusiasmou e passou a extrair um por um os dentes do menino. Esse cara - que trabalha num hospital público e dá aula em universidade - cometeu uma amputação. Não sei se o termo médico-legal é esse, mas na prática o que aconteceu foi isso: de uma hora pra outra, um menino de Brasília se viu sem nenhum dente. É como dormir bípede e acordar sem uma perna.
A última notícia que consegui do fato dizia que o dentista seria preso e indiciado. Outra, mais cedo, dava conta que o IML de Brasília reconhecia que não havia necessidade da cirurgia radical. Alguém tinha dúvida? E o Conselho Regional de Odontologia pedia pra preservarem o nome do carniceiro. Eu, se fosse dentista, exigiria a identificação do indivíduo - até pra não acharem que ele e eu frequentamos o mesmo clube.
E hoje, nada nos jornais e sites. A história morreu ali mesmo, enquanto o rapaz se esconde em casa, com vergonha dos dentes ausentes. Não sei detalhes, realmente, mas posso concluir que o tal rapaz é pobre. Se fosse, pelo menos, classe média, teria direito a um pouco mais de indignação dos meios de comunicação. Coitado, banguelo e anônimo, sem muitas portas onde bater - a não ser naquelas que querem explorar o sensacionalismo do caso, expondo suas gengivas de maneira pornográfica nos programas de TV. Também anônimo, até agora, continua o dentista - mas vejam como são as coisas: o anonimato protege o criminoso, mas não a vítima.
Graças a tipinhos assim é que a categoria dos dentistas é tão, digamos, temida. Ninguém brinca com dentista, ninguém entra no consultório só pra dar um alô e matar as saudades. Nem na ficção dentista marca muita presença. Você lembra de algum personagem de novela que fosse dentista? Aguardo colaborações, eu não lembro.
Em cinema, teve o dentista nazista vivido pelo Lawrence Olivier em "Maratona da Morte" - a cena em que ele torturava um jovem apavorado Dustin Hoffman é um clássico. Teve o dentista do "Procurando Nemo" e aquele outro, acho que "A Pequena Loja de Horrores", algo assim. Tem o personagem do Diogo Vilela em "Toma lá, dá cá", mas aquele programa é tão ruim, que nem merece ser lembrado.
E nem vou desenvolver minha teoria de que dentistas são péssimos ouvintes. Seja amigo de um dentista e faça o teste. Ele tá tão acostumado a falar para um coitado espremido e boquiaberto que não costuma dar muito espaço para as respostas. Mas isso é uma teoria minha, não tem muita base científica. Aliás, não tem nenhuma.
Só resta mesmo acender uma vela pra Santa Apolônia, que - viva o google - descobri ser a padroeira dos dentistas. Mas daí a retratarem a santa com um boticão é de um tremendo mau gosto. Prefiro continuar achando que Santa Apolônia é apenas o nome da principal estação ferroviária de Lisboa. É bem mais agradável.
O rapaz tem problemas mentais, me parece - quer dizer, no fim da história quem tem problema mental mesmo é o dentista, mas continuemos - e, por isso, recebeu anestesia geral antes da extração de dois dentes. O trabalho devia estar uma moleza, porque o chamado profissional de odontologia se entusiasmou e passou a extrair um por um os dentes do menino. Esse cara - que trabalha num hospital público e dá aula em universidade - cometeu uma amputação. Não sei se o termo médico-legal é esse, mas na prática o que aconteceu foi isso: de uma hora pra outra, um menino de Brasília se viu sem nenhum dente. É como dormir bípede e acordar sem uma perna.
A última notícia que consegui do fato dizia que o dentista seria preso e indiciado. Outra, mais cedo, dava conta que o IML de Brasília reconhecia que não havia necessidade da cirurgia radical. Alguém tinha dúvida? E o Conselho Regional de Odontologia pedia pra preservarem o nome do carniceiro. Eu, se fosse dentista, exigiria a identificação do indivíduo - até pra não acharem que ele e eu frequentamos o mesmo clube.
E hoje, nada nos jornais e sites. A história morreu ali mesmo, enquanto o rapaz se esconde em casa, com vergonha dos dentes ausentes. Não sei detalhes, realmente, mas posso concluir que o tal rapaz é pobre. Se fosse, pelo menos, classe média, teria direito a um pouco mais de indignação dos meios de comunicação. Coitado, banguelo e anônimo, sem muitas portas onde bater - a não ser naquelas que querem explorar o sensacionalismo do caso, expondo suas gengivas de maneira pornográfica nos programas de TV. Também anônimo, até agora, continua o dentista - mas vejam como são as coisas: o anonimato protege o criminoso, mas não a vítima.
Graças a tipinhos assim é que a categoria dos dentistas é tão, digamos, temida. Ninguém brinca com dentista, ninguém entra no consultório só pra dar um alô e matar as saudades. Nem na ficção dentista marca muita presença. Você lembra de algum personagem de novela que fosse dentista? Aguardo colaborações, eu não lembro.
Em cinema, teve o dentista nazista vivido pelo Lawrence Olivier em "Maratona da Morte" - a cena em que ele torturava um jovem apavorado Dustin Hoffman é um clássico. Teve o dentista do "Procurando Nemo" e aquele outro, acho que "A Pequena Loja de Horrores", algo assim. Tem o personagem do Diogo Vilela em "Toma lá, dá cá", mas aquele programa é tão ruim, que nem merece ser lembrado.
E nem vou desenvolver minha teoria de que dentistas são péssimos ouvintes. Seja amigo de um dentista e faça o teste. Ele tá tão acostumado a falar para um coitado espremido e boquiaberto que não costuma dar muito espaço para as respostas. Mas isso é uma teoria minha, não tem muita base científica. Aliás, não tem nenhuma.
Só resta mesmo acender uma vela pra Santa Apolônia, que - viva o google - descobri ser a padroeira dos dentistas. Mas daí a retratarem a santa com um boticão é de um tremendo mau gosto. Prefiro continuar achando que Santa Apolônia é apenas o nome da principal estação ferroviária de Lisboa. É bem mais agradável.