terça-feira, 17 de março de 2009

Variações enigmáticas

Foi dia de debate nos Satyros. A poética homoerótica na dramaturgia, uma iniciativa da Cooperativa Paulista de Teatro. Mediados pelo gente boa Ferdinando Martins, estávamos João Fábio Cabral, Vange Leonel, Alberto Guzik e eu - entre os criadores - e um rapaz legal de Santo André, chamado Cássio.
O bate-papo seguia seu rumo. Mais que discutir, trocávamos impressões sobre personagem gay, peça gay, público gay... enfim... Abrimos para a platéia. Tudo bem. Até que um sujeito, lá do fundo, pede a palavra e estranha que até aquele instante ninguém tinha falado em pedofilia. Os da mesa se olharam, perplexos. A Vange deu uma boa primeira resposta, dizendo que estávamos discutindo personagens com opção sexual própria - e pedófilos são agressores sexuais. São criminosos, emendou o Guzik. Eu disse que seria difícil escrever sobre um personagem pedófilo e fazer com que a platéia simpatizasse com ele. Nem o Kevin Bacon, no filme "O Lenhador", conseguiu isso.
O cara deve ter saído puto da vida com esse bando de autor frouxo, que fala de veado, de lésbica e os cambau e não tem peito de encarar um pedofilozinho... No que me concerne, eu já passei da idade de atrair a categoria em questão...

********

A revista "Veja" traz uma sensacional entrevista nas Páginas Amarelas com o arcebispo de Recife. Não foi preciso a repórter discutir com ele. Os próprios argumentos do religioso encarregam-se de mergulhá-lo no pantanal. Leiam. Merece.

***************

Dois filmes essenciais: "Entre os muros da escola" e "Palavra (en)cantada". Quem escreve e lê por ofício e prazer se emociona com o segundo. Eu chorei. Chico, Bethania, Lenine, Ferrez, Tom Zé... são inúmeros entrevistados e incontáveis cenas bonitas. E sobre poesia e música, palavra e escrita.

"Entre os muros" é uma porrada. Sem sair da sala de aula, o filme coloca você dentro da França de hoje. Todos os conflitos sociais que agitam a terra da baguette estão lá, naquele microcosmo explosivo.
Na sessão que vi, tinha um grupo de estudantes. Os créditos finais começaram a subir e um aluno se levantou: "Que filme de merda!" Reclamou, xingou, disse que se era pra ver uma vida igual a sua não precisava ter ido ao cinema, etc. Na saída do Unibanco Artplex, no trecho entre o cinema e a escola Wolf Maia, o rapaz parou e ficou xingando o filme, em voz alta, para um amigo. Parei ao lado dele e falei firme: "Olha, você tem todo o direito do mundo de não gostar do filme. Mas respeita quem gostou. Eu achei o filme genial. Mas não saio por aí gritando. Respeito a sua opinião, portanto, respeite a minha também". Ele se calou, quase pediu desculpas e murmurou um "tá certo". E nem me chamou de tio!
Voltando pra casa, lembrei do trecho em que ele falava que o filme era igual à vida dele. "Entre os muros da escola" é mais universal do que imagina esse rapaz. Mais que isso, é triste. Trágico.

3 comentários:

  1. adorei o comentário sobre o debate. ficou exato e hilário. e foste exato sobre "entre os muros". vou correndo ver a "palavra encantada". abração! guza

    ResponderExcluir
  2. Gostei do blog e do passado jornalístico. Dá uma passadinha no meu, é bem diferente do seu, mas também é gostoso. hehehe. bjuz
    http://faustinoni.blogspot.com
    Flávio

    ResponderExcluir
  3. {ironia on}Claro, estamos falando de poética homoerótica, ÓBVIO que a evolução natural da conversa deve passar por pedofilia. Eu não fui, estou esperando o próximo congresso de necrofilia {ironia off}

    Hm, essa situação poderia ofender alguns. Outros podem rir, né?

    Gostei do que vi aqui.

    ResponderExcluir