domingo, 22 de março de 2009

A Menina do Chumbinho

Com açúcar, afeto e chumbinho, uma garota de 17 anos fez um bolo para a mulher de seu amante. Quem comeu o doce foram os três filhos pequenos do casal. Quase morreram envenenados pelo raticida. A serial caker foi presa - ou melhor, apreendida, pois se trata de uma 'de menor'. Do pai das crianças envenenadas, amante da menina de 17, não se ouviu falar.

Desde que li essa história no jornal, fiquei pensando no que levou a jovem à cozinha. Poderia ter pensado nas crianças, mas estavam todas fora de perigo. A mãe, grávida, nem tocou no bolo. Me instigou mesmo a doceira criminosa. Passional, sem dúvida. Ciumenta, possessiva. Mas, acima de tudo, apaixonada por um cara mais velho, preso a um casamento cheio de crianças - e com mais uma a caminho. À polícia, a menina disse que queria se livrar da rival grávida. O que ela faria com as pequenas órfãs? Assumiria?

O que a doceira ouviu de seu amante? O que ele prometeu antes de levá-la pra cama de algum hotelzinho barato na periferia? E, depois do crime consumado, a grávida sepultada e afastada para sempre do homem amado... o que aconteceria? Viveriam felizes como casal de fim de novela - com as crianças sendo criadas pela avó materna? A doceira e seu homem, finalmente sozinhos. Afinal, ele disse mesmo que ia largar a mulher, era só as crianças crescerem mais um pouco... Mas ninguém esperava era que a mulher, a titular, a oficial, pegasse barriga. Fez de propósito, a vaca. Quis prender o marido, tirar o homem da jovem apaixonada.

Isso pode ter passado pela cabeça dela? Pode. Mas ela também pode ser apenas mais uma desmiolada, para quem o desejo não satisfeito justifica qualquer ato vingativo. O desejo à custa da vida de quem quer que seja. Tem sido assim, já repararam? Pais morrem, mães são assassinadas, amigos se destroem, amantes se dilaceram - mas o desejo deve ser atendido. A dor do "não" desemboca em fúria. O sangue lava a rejeição.
Pensar que há alguns anos o Chico avisou: a dor da gente não sai no jornal. Tarde demais, Chico. Agora sai.

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