quarta-feira, 25 de março de 2009

Manhã, tão bonita manhã

Parecia uma manhã carioca, de tanto sol e céu azul. Animado e querendo dar um pulo no Paraíso, dispensei o metrô e peguei um ônibus no Trianon. Subimos eu, uma estudante, - e um mendigo. O cobrador logo olhou feio - "Eh!" -mas o mendigo não se deu por achado. Mulato, jovem, cabelos raspados de qualquer jeito, revelando cicatrizes e outras marcas, ele vestia roupas que nunca foram suas - e que há muito tempo não sabiam o que era um sabãozinho.
Passei, ligado nos movimentos do rapaz, que estava atrás de mim. Sentei numa cadeira vazia e logo temi que ele quisesse ocupar o assento ao lado. Ele passou por baixo da roleta e optou por um lugar vago ao lado de uma jovem ruiva, de nuca bonita. Em voz baixa, trocou com ela umas duas ou três frases e, pra minha surpresa, ela respondeu. Quando eu quase me esquecia de sua presença ali, ele perguntou alto: "Que hora que é agora?". Não sei se ela respondeu, porque eu estava distraído pensando no que levaria alguém tão desprovido de tudo a se preocupar com a hora do dia. Atrasado, pra quê?
Três pontos depois, o rapaz levantou-se para descer. Ficou parado, esperando o ônibus encostar no ponto. Não empurrou ninguém, não pressionou. Mas ficou olhando, interessadíssimo, na bolsa de uma senhora que estava sentada próximo à porta. A mulher usava fones de ouvido e eu seria capaz de apostar que o mendigo queria roubá-la. O ônibus parou, a porta se abriu e ele desceu. Não roubou nada. Levou apenas a minha auto-imagem de cidadão sem preconceito.

6 comentários:

  1. Mário do céu, você tem um blog agora. Amei o que encontrei por aqui. Beijão.

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  2. Rosani, embaixatriz alvinegra! Ivam, príncipe de palcos e esteiras! Gente, esse blog tá se achando! Só vips!
    m.v.

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  3. Oh, Márcio Vieira,
    Tu tá andando de ônibus agora? É, a crise tá braba mesmo, não é marolinha não...

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  4. Tenho bilhete único e tudo, Vita. Só não uso orelhão... rs... mais por deficiência auditiva... abração! m.v.

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  5. Parabéns pelo blog Mário. Aqueles que só te conhecem pelo teatro e não desfrutam de sua companhia nas mesas de bar podem agora ler seu texto refinado no blog. Eu que ouço seus comentários de viva voz me sinto privilegiado.

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