segunda-feira, 25 de maio de 2009

Os tios e as tias do Caetano


É muito complicado escutar o último CD de Caetano Veloso quando se está dirigindo. A vontade de pular faixas é irrefreável e pode se tornar tão perigosa quanto tomar uns chopes antes de ligar o carro. Mas “Zii e Zie” – esse é o nome do disco – tem momentos bem legais. Talvez valha a pena copiar e fazer um outro CD, eliminando as besteiras e colando com as coisas legais de “Cê”, o disco anterior (que também tem bobagem, mas menos).
A primeira faixa, “Perdeu”, é legal. A segunda, “Sem cais”, é bem ok, aí a coisa começa a degringolar. Chega em “Lobão tem razão” – e você precisa se controlar para não encostar o carro e pular aquela faixa para sempre. Se queria fazer média com um de seus mais contundentes críticos, Caetano poderia usar o próprio blog, enviar um e-mail, um twitter, talvez até dar um telefonema. Não precisava dividir com o público esse momento constrangedor. “Mais vale um lobão / do que um leão”... Tem dó da gente, Caetano.
“A cor amarela” é bem legal e minha memória combalida pelo tempo não me deixa lembrar de que programa ela era trilha sonora. Seria de “Ó pai ó”? A música tem a maior cara de Lázaro Ramos, apesar de falar de “uma menina preta, de biquíni amarelo, que onda, que onda que dá, que bunda...” Lázaro é preto, mas não é menina e sobre sua bunda... bom, o Caetano mesmo preferiu elogiar a bunda do Tony Garrido numa entrevista recente à Playboy. Mas a música tem uma levada baiana gostosa, uma coisa meio Barraca do Loro, na Praia do Flamengo... ô beleza.
“A Base de Guantánamo” é outro momento chato pra caramba. Caetano quer mostrar que lê jornal e tem opinião formada sobre a situação mundial. Ok. Acho bacana, mas ele já fez isso em discos anteriores e de forma mais criativa. “Ele me deu um beijo na boca”, do começo dos anos 80, ainda é um libelo forte. “Guantánamo” só não é a música mais chata do disco, porque Caetano compôs “Tarado ni Você” – essa é imbatível. As três palavras – vá lá, duas e meia – do título resumem praticamente a letra toda.
Os melhores momentos de “Zii e Zie” não foram escritos por Caetano. São os sambas “Incompatibilidade de Gênios”, da dupla João Bosco e Aldir Blanc, e “Ingenuidade”, de Serafim Adriano. Ambas foram gravadas nos anos 80 por Clementina de Jesus, mas as versões de Caetano não fazem feio. Ele continua um ótimo cantor, de voz agradável e trabalhada. E a maneira seca com que canta o samba de Bosco/Blanc traduz e moderniza a música.
Desde “Cê”, Caetano Veloso vem se cercando de músicos jovens – alguns, parceiros de seu filho Moreno – no que fez muito bem. A sonoridade desses discos aproximou o sexagenário Caetano de uma turma mais habituada a bandas de garagem... Mas não era preciso ‘rejuvenescer’ as letras. Se a coisa funcionou melhor em “Cê” – “Rocks” nasceu de um papo com um dos filhos mais novos e é uma delícia – a fórmula dá umas rateadas em “Zii e Zie”. Talvez seja porque, desta vez, Caetano quis adaptar o som da banda ao seu jeito recôncavo de ser. Não colou.
De todo modo, é bom escutar o trabalho de um dos nomes que ajudaram a construir a música brasileira. Egocêntrico, pavão, barraqueiro – mas acima de tudo, um letrista refinado e cantor impecável, Caetano não deixa a peteca cair e forma ao lado daqueles artistas para quem o tempo que passa não significa desistência ou conformismo. Às vezes, ele até exagera em mostrar energia – como na insistência atual em falar de sexo. É como se o velho baiano quisesse provar pra moçada que ele ainda dá no couro. Mas como o homem escreve bem, sempre rende umas imagens legais – “Veio a maior cornucópia de mulheres / todas mucosas pra mim”, da canção “Odeio”, é muito legal. Mas é do cd anterior...

7 comentários:

  1. Algo me diz que mais "mais vale um lobão do que um leão meto um sincerão " é um citação, creio que alguma fábula, quem souber que conte. De graça é que o Caetano não iria fazer essa rima.
    Gostei mais do Zii na segunda vez que ouvi, achei bonito, até mesmo a Guantamo, é óbvio mas é bom alguem dizer.

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  2. Pois é, pra mim Guantánamo, Lobão e Tarado pioram a cada audição. Tanto que não quis ser precipitado e demorei pra escrever. Queria ouvir mais. Como é vasto o mundo das opiniões...

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  3. Mário,
    Botei outro dia no tocacd do carro o Fina Estampa. Eta coisa bonita.... Acho que não quero ouvir esse novo não. Pra mim é que nem defunto, nunca olho a cara do morto para ficar com a lembrança dele vivo. Quero lembrar do Caetano vivo.

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  4. Vita, tô contigo e não abro. Nos últimos anos, tenho gostado muito mais do Caetano cantor -- Foreign Sound é outra delícia.
    beijos procê e pra patroa!

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  5. Ah, gente, dá pra ouvir, sim. Não podemos ser tão sectários. Engraçado, o Foreign Sound eu nunca ouvi. Nada...

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  6. Ouço Zii pela terceira vez, fica cada vez mais bonito.
    Uma opiniãozinha a mais, apenas, nesse vasto mundo.

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  7. Oi Eliane,
    Tudo bem contigo? E aquela sua filha que tem um lindo nome e, principalmente, é paulissssssssssssta? Onde vc tá enganando agora?

    Saudades suas menina!!

    Beijão!!!

    Só aqui na sala de estar do Mário Viana para reencontrar os amigos do século 20!!!

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