segunda-feira, 13 de abril de 2009

E aí, vai pegar?


As leis no Brasil são uma força da natureza. Algumas nascem e vicejam, fortes como floresta amazônica. Outras brotam, tal qual o grão de feijão embrulhado no algodão molhado, mas não avançam. Por aqui, algumas leis pegam. Ou não. A cada nova lei polêmica - e elas sempre parecem polêmicas - alguém faz um muxoxo, olha de lado, ajeita a correia da havaiana e profetiza: "Essa não vai pegar". O Brasil deve ser o único país do mundo onde a força da lei é optativa (bom, somos também o único país onde a Abin recruta seus agentes através de concurso público - concurso pra agente secreto... nem o Maxwell Smart pensou nisso). Mas, voltando...
Algumas leis contrariam a voz do povo e pegam. A lei do cinto. A da Cidade Limpa. Pegaram. Houve campanha, fiscalização, multa, quase uma caça às bruxas, mas as danadas vingaram. Houve mesmo um radicalismo em alguns casos. Em certas ruas de São Paulo, você não consegue distinguir um restaurante de uma sapataria ou de uma clínica médica. Quando deixar o cargo e tiver de ir por conta própria, sem batedores ou asseclas conduzindo, Gilberto Alcaide descobrirá na pele que poderia ter sido mais flexível na aplicação xiita da Cidade Limpa.
Agora o bate-boca é em relação à lei anti-fumo do governador José Serra. Anti-tabagista convicto, radical, passional e teimoso, Serra não descansou enquanto não viu sua lei aprovada. É uma lei sem concessões. Proíbe que se fume até em quarto de hotel, quando o indivíduo deveria, em tese, relaxar e ficar por conta e risco. Depois que o próprio governador apareceu dizendo que vai ser duro fiscalizar, a turma da profecia já abriu as asas: "Não pega". Citam como exemplo a Lei Seca, cujos critérios fundamentalistas punem até quem usa Cepacol e que, agora, é considerada um tanto quanto agonizante. "Você conhece alguém que foi pego?", perguntam os céticos.
As duas leis - a seca e a anti-fumo - são até bem intencionadas. Mas pecam, e pecam feio, no radicalismo. Ex-fumante há 12 anos, eu detesto voltar para casa com a roupa cheirando a cinzeiro usado. Mas em vez de banir o fumo, opto por evitar lugares fumacentos. O bar do Espaço Parlapatões, por exemplo, é um fumacê só. Mas dá tranquilamente pra curtir o bar e as quase sempre boas companhias tomando uma cervejinha na calçada.
Não preciso que o José Serra saia do Palácio dos Bandeirantes e venha dizer se eu posso ou não sair com amigos fumantes. Daqui a pouco ele vai cismar que todo mundo deve torcer pro Palmeiras, já que ele é alvi-verde. Eu me mudaria na hora pra Aracaju. Ou Guarulhos, que é quase a mesma coisa, só que sem mar.
Há radicalismo nos fumantes, também. Dá, sim, pra se divertir sem defumar o interlocutor. Em Paris e Montevidéu, duas capitais nas quais o cigarro era quase obrigatório, as pessoas continuam saindo pra jantar e beber. Quando querem fumar, pedem licença e vão pra calçada. Fumam, voltam e retomam o papo. Não se registrou nenhuma amizade abalada, casamento rompido ou paquera frurstrada por causa disso.
Por conta de nosso desapego aos rigores da lei acabamos não criando hábitos saudáveis - como cobrar do governo que cumpra a Constituição, que aplique o que deve ser aplicado em Educação, Saúde e Cultura... Vocês podem até não fazer aí, mas deixem a gente por aqui... Um não mexe com o outro. Quando a balança da indolência sai do prumo, a gritaria é geral e as aspirações democráticas adormecidas renascem num jorro.
Talvez calejados pela lentidão e estupidez da Justiça, desistimos de brigar nos tribunais contra aspectos ditatoriais de certas leis. Preferimos jecatatuar. Sentados, aguardamos que o broto da lei resseque ao sol. "Não falei? Não pegou".
P.S. A foto do post foi tirada no banheiro masculino da estação central de trens do Porto, em Portugal. Ó pá.

6 comentários:

  1. Mário,

    Essa lei não vai pegar. O autor dela também não vai, rezo toda noite, acendo vela, faço despacho, mato bode... Meu santo é fortíssimo. E, aqui o meu vizinho que é babalaorixa, que é assim com os orixás de Angola e Moçambique, também está trabalhando firme nas encruzilhadas, nas matas e no mar... Ehehe Zifio!!!!! Passa a marafa!!!!!

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  2. Mário, esse não é o tema do post, mas quero desejar boa sorte na estréia da novela hoje... que venha muito sucesso pra vcs...

    abraço!

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  3. Valeu, Alysson!
    Vita, seus contatos com o Além podem ser muito úteis, no futuro.

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  4. Oi Mário lindo e loiro... aqui fala adriana saboya, direto das areias calientes...
    Ora "mar minino", como se diz aqui em terras alencarinas...
    o par "cocó e trança", mentor, guru de zéserra, o iluminado FHC, quer descriminalizar a maconha e o outro que proibir geral o careta? onde já se viu?
    é assim? baseado póóóóóde!
    um amigo perguntou hoje: se for proibido fumar em hotéis e motéis, será que a galera vai ter esquecer o tal do "uma dose antes e um cigarro depois?" ,antecipar a conjugação carnal, só pra dar aquela baforada depois do ato?
    imagina a cena: o cara levanta enrolado num lençol e diz "meu amor, peraí que eu vou lá fora e volto já".
    ninguém merece!

    obs.:só lembrando que não tô fazendo apologia à souza cruz... também sou ex-fumante e meus cabelos loiros agradecem quando ninguém sopra fumaça neles.

    bjoooooooooooo

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  5. mais uma: é por essa e outras que no ceará, só faz sucesso, bar de beira de calçada.
    botar arcondi na bodega, aqui, é pedir pra falir.

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  6. Viram, crianças? Fortaleza na vanguarda da democracia fumante!

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