quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Boa fé na contramão


O paulistano comemorou o Dia Mundial sem Carro no volante. Exceto Gilberto, o Alcaide - e os 500 fotógrafos convidados para registrar a mais alta autoridade municipal usar um bilhete único com a intimidade de um esquimó fazendo churrasco - poucos paulistanos se arriscariam a trocar seu confortável carrinho por um ônibus lotado ou metrô esturricando de gente. Seriam os paulistanos um bando de egoístas hedonistas totalmente insensíveis ao bem estar público? Sim, mas isso não responde tudo. A coisa vai mais além.

O Dia Mundial sem Carro é uma das mais bem sacadas manifestações pacíficas de protesto contra a poluição ambiental urbana. Nasceu na França, provavelmente em Paris - onde o cidadão pode ir da sala pro quarto usando metrô. O Dia sem Carro poderia dar certo em Nova York, Madri e Londres, onde o transporte público é de uma eficiência comovente - os metrôs, feinhos, funcionam e são acessíveis em qualquer esquina.

Transplantar a iniciativa ambientalista pra São Paulo - ok, a coisa foi nacional, mas vou falar da minha aldeia - mostra várias coisas: que estamos antenados com a onda mundial de tentar salvar o planeta; que temos aqui gente consciente de seu papel no mundo - e que somos também uns copiadores de péssima qualidade. Macaquear a boa fé não nos garante sequer um lugar na fila do paraíso.

De forma mais imediatista, o Dia Mundial sem Carro - por aqui - não teve este ano a divulgação de uma grande campanha. Caiu de para-quedas no meio-fio, atrapalhando o trânsito. Faltou divulgar, explicar, martelar mesmo na cabeça das pessoas que usam o carro sem necessidade premente. Uma campanha eficaz poderia começar, por exemplo, hoje - um dia depois da última. Não é preciso ser chato, mas sempre presente.

Não é fácil convencer um sujeito que mora em Guaianazes e trabalha na Vila Olímpia (pra quem não sabe, um extremo da zona leste e um ponto qualquer da zona sul ou sudoeste)... esse sujeito deve esquecer seu carro na garagem e procurar o transporte público para realizar, no dobro de tempo e em situação de pleno desconforto físico, a mesma viagem de todos os dias. Precisa ser muito bom de lábia pra conseguir a adesão do cara.

O governo brasileiro - nas três esferas, municipal, estadual e federal - passou anos sem investir no transporte público. Estradas esburacadas, ferrovias sucateadas e ônibus em petição de miséria são paisagem comum. É com essa rede que os ambientalistas querem trabalhar? Não rola. Mesmo nos últimos anos, quando a conscientização ambiental cresceu, medidas da prefeitura proíbem a circulação de ônibus fretados para que os carros particulares tenham mais facilidade de locomoção...

Ruas de pedestres no centro de São Paulo ganharam novamente seu quinhão de asfalto, para aumentar a circulação de carros - uma das medidas mais estapafúrdias e arcaicas tomadas por José Serra durante o curto período em que foi prefeito da cidade. Mas o noticiário, rendido à sedução tucana, nem tomou conhecimento.

Aderir ao Dia Mundial sem Carro sem fazer a lição de casa expõe a causa ambiental a um fiasco injusto - os bem-intencionados passam por ingênuos idealistas, daqueles que lutam por uma causa etérea sem aplicação prática. O insucesso também pesa na consciência de quem gostaria de ter aderido, mas não tem como cumprir sua agenda sem o auxílio do carro. Só ficam em paz mesmo aqueles que vivem de vender álcool e gasolina, aqueles que deveriam ter tomado alguma atitude no passado e não tomaram - ou os que simplesmente não estão nem aí.


17 comentários:

  1. eu deixo o carro na garagem direto pq meu escritório é em casa. mas qd tenho q sair tenho prazos e em geral vou em vários lugares. se eu tentasse fazer isso de ônibus eu calculei q o q fiz em uma hora e meia eu teria feito em seis horas. beijos, pedrita

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  2. Pedrita, eu também só tiro o carro da garagem em situações imprescindíveis. Podendo, uso metrô, bilhete único ou o nike air. kisses.

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  3. Mário,

    O Globo de hoje mostra o pujante prefeito carioca (depois reclamam que não saem do lugar) andando de bicicleta, dando sua "contribuição" para melhorar o trânsito da cidade. Na foto da capa, o burgomestre está andando com a bike (é mais chique assim) sobre uma faixa de pedestre. Dentro, uma foto dele andando numa calçada, com dois cidadãos desviando para não serem atropelados. É mole? E quer saber o pior, o jornal não fala nada do "descuido" do alcaide. Mas se o prefeito fosse do PT......

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  4. É um absurdo que uma cidade como São Paulo não tenha feito uma campanha eficiente sobre o Dia Sem Carros.
    Tenho cada vez mais bode de Gilberto, o Alcaide.
    O Mário sabe: há dois anos eu deixei de lado o hábito da direção, e uso ônibus e metrô quase sempre.
    Quando muito, uso táxi.
    Tínhamos dois carros em casa, pensamos melhor e optamos por ter apenas um, usado raramente.

    Em alguns casos, fica muito difícil não usar o carro, mas não é impossível.
    A maioria vai pelo conforto e pra mostrar a porcaria do carro.
    Essa coisa de mostrar que tem carro do ano é coisa de povo novo-rico. Cansei de pegar metrô em Paris ou Berlim, e ver gente de smoking a caminho do teatro ou da ópera.

    Aliás, quer coisa mais imbecil que, à beira do colapso climático, um governo incentivar a compra de automóveis com isenção de imposto? Só um país governado por um bebum iletrado faria isso, certo?

    Quanto ao prefeito do Rio, é bom lembrar que lá até carro pára na calçada, naquela terra sem lei. O fato do prefeito usar a faixa de pedestre não é nada perto da iniciativa de ir sem carro, palmas pro cara, Vita!

    Agora, SE O PREFEITO FOSSE DO PT, ele estaria comendo pamonha e jogando a casca de milho na calçada, Vita.
    E ainda culparia as administrações anteriores (rs)

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  5. Culpar as administrações anteriores é o esporte preferido de quem está no poder.
    E o Burgomestre do Balneário deve ter andado uns 100 metros de magrela (jovens, era assim que se chamava bike no século passado), quando muito. E com uma produção péssima - o cara tem mais assessor que gente na equipe e nenhum se preocupou em espantar os cidadãos do caminho?
    Como diz o Tutty Vasquez, "ô raça".

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  6. Mas Otávio, a Marta nunca comeu pamonha, além do marido, claro.....

    E nada de palmas pro cara que, ainda por cima, estava de bermuda e aquele capacete ridículo de ciclistas. Não gosto de ciclistas no poder. Imagina se a Soninha se elege prefeita? Vai ter um monte de gente querendo ser secretário da agricultura dela..... hehehe

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  7. Eu odeio andar a pé, como é sabido. Mas deixo o carro na garagem quando saio para o passeio da Filó! Vcs não imaginam como me sinto protegendo o planeta. São essas pequenas coisas que contam, afinal.
    Mas corremos o risco de escorregar na casca do milho jogada na calçada por um cidadão qualquer!! No meu caso, o risco é maior com a tucanaiada de Higiê!

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  8. Vita, vc é SENSACIONAL! Hahaha Eduardo Pamonha Suplicy! hahaha

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  9. Ana, a tucanada de Higiê joga embalagem de perfume. Reciclável, que é pra ser mais chique...

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  10. O povo de Higiê não joga nada fora, seus bobos.

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  11. MV, lembre-se, o bairro anda mais, por assim dizer, étnico. By the way, uma ótima sacada, como sempre.

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  12. Oi Mário, como sempre você está antenado nas pricipais questões que rondam a humanidade. O trânsito, nas maiores cidades brasileiras, está se tornando uma tragédia em todos os sentidos.
    Mai uma vez, te peço licença pra falar de assunto alheio ao texto. É que me meti a assistir PP e, confesso que estou sofrendo horrores nessas últimas semanas. Vocês pegaram pesado com Lígia, além de atentado e bala, a coitada é traida pelo amado sem saber, e, o pior é que o indivíduo fala pra outra que a ama. É de doer, não há alma que aguente tanto sofrimento, aff! qdo. será que a coitada vai sair desse sofrimento?. Sucesso a vocês, abraços, edi

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  13. Mário, como sempre, teu post é uma perfeição e a charge é mais deliciosa ainda do que aquela da Arca de Noé. Vamos ver se até a Copa, com metrô expandido, VLT e o diabo, dá pra fazer um Dia sem Carro que não seja uma balsa da Medusa pros cidadãos. Super-abraço, Flavio G.

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  14. Mario, sagaz como sempre - povo da Higiê não joga NADA fora... por isso são ricos. Talvez a Ana jogue algo fora, porque é penetra na região, como se sabe.
    Mas, gente, andar de ônibus em S. Paulo ninguém merece. Demora demais!!!! Impraticável!!!
    Eu uso o metrô, ando a pé e pego táxi - a contragosto, porque é dos mais caros do mundo!. O carro, só na emergência, viagens e tal.
    Mas a gente é privilegiado em vários sentidos. Muita gente não pode escolher e tem de andar de ônibus, até de carro. Mas tem muita gente que é esnobe mesmo, quer mostrar, PASSEAR DE CARRO... Como pode ainda isso, meu Deus? Agora, o que fazer, eu não sei. Rodízio há muito tempo que não funciona, não faz nem cosquinha. Com o Giba alcaide, tamos fú, como sabemos, porque o homem só se preocupa em cortar refeição de creche pras crianças não engordarem...

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  15. Ainda tem quem passeie de carro em SP? Esse trânsito vive engarrafado! Mas vamos e venhamos... as diaristas, por exemplo... reclamam dos ônibus lotados... então, por que moram tão longe? faz que nem a Ana, muda pra Higiê!

    Edi, se vc soubesse o que vem pela frente... ave maria... prepare os lencinhos de papel...

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  16. Nossa Mário, assim minhas ilusões ficam desnutridas. Abraços, Edi

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  17. oi mário, aqui não tem metrô, e ir a pé do outro lado da cidade não dá. qd saio é de carro mesmo. b

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