terça-feira, 16 de junho de 2009

Parada rumo ao armário




Os cariocas têm muito a ensinar. Em São Paulo, devíamos copiar alguns de seus métodos. Realização de grandes eventos, por exemplo. Desenvolvi comigo mesmo a teoria que o Rio de Janeiro fecha um pacto com os chefões do tráfico a cada grande acontecimento – Rio 2000 e tanto, Carnaval, Réveillon... Quem só vai ao Rio nessas ocasiões sai de lá com a melhor das imagens. Tudo funciona, tudo é lindo, tudo é perfeito. Tudo rola na santa paz do senhor.
A Parada Gay do último domingo virou, mais uma vez, o centro do noticiário local. Não é pra menos. São milhões de pessoas desfilando pelas Avenidas Paulista e Consolação, teoricamente defendendo o direito de cada um deitar com quem quiser. Dizem os organizadores que foram 3,5 milhões de almas – número rebatido pela oposição do próprio movimento gay. Em meio a tanta gente, a polícia registrou umas 60 ocorrências entre roubos variados e, horror, gente ferida, esfaqueada...
Por conta desses problemas, voltam a defender o fim da Parada na Avenida Paulista. Quem é o primeiro a alardear essa intenção? Gilberto, o alcaide. Só por isso eu já devia ser contra. Mas vamos ser democráticos e discutir a idéia. A primeira pergunta a ser feita é: por que? Porque a parada interrompe o trânsito de duas mega-avenidas paulistanas, impedindo o acesso a hospitais e cemitérios (convenhamos, fazer um velório escutando “I Will survive” ao fundo é de tremendo mau gosto). Realmente, a Parada altera e atrapalha o trânsito da cidade no domingo.
Mas... E a São Silvestre? O trajeto da corrida patrocinada pela Rede Globo é muito maior e interrompe o trânsito de muito mais ruas. E o show do ano novo, quando a prefeitura e a Rede Globo (gente, ela de novo!) montam um palco enorme no meio da avenida para que ídolos populares faturem o seu e animem a galera (público de evento é sempre galera). A construção do palco consome dias e dias, atrapalha o trânsito da Paulista dias e dias... Sua desmontagem também. Assim como a Marcha para Cristo (que reúne outros milhões de almas), o show de fim de ano é um evento pa-ra-do. A Parada e a São Silvestre passam pela Paulista. Interrompem, mas logo passa. Portanto, dizer que só a Parada atrapalha é falso.
Alegam agora o problema da segurança. E realmente, a coisa tá feia. Eu mesmo caí numa arapuca domingo. Fiquei 15 minutos vendo a parada, ali, na altura do MASP – perto do palanque das autoridades. Do nada, uma ambulância mal orientada entrou na avenida e começou a forçar caminho entre as pessoas. Foi um empurra-empurra assustador, o risco de tropeçar e virar purê era imenso. Nessas, meu celular passou do meu bolso para outro, sem que eu me desse conta. É um saco, claro, tenho que refazer a agenda, gastar dinheiro com um novo aparelho... mas pelo menos estou inteiro. Escapei ileso.
Enquanto buscava um meio de escapar à multidão (foram meus 15 minutos mais apavorantes dos últimos tempos), fiquei pensando na falta de policiamento – ok, guardinha nenhum daria jeito na turba. Pensei também no motorista daquela ambulância: quem é ele, quem o deixou entrar ali? A imprensa, que podia descobrir isso, nem se importou. Preferiu reportar o pânico de duas mães, que estavam ali no meio da turba com seus bebês – um deles, num carrinho!
Eu vi essa sujeita. E fiquei me perguntando o que faz uma cabeça de alcachofra dessas levar um bebê pequeno num carrinho a um evento que vai atrair milhões de pessoas. Mães também têm direito a se divertir, claro, mas sem colocar a vida dos filhos em risco. E sem querer dividir a responsabilidade com milhões de estranhos mais preocupados em seguir o trio elétrico da Marta Suplicy ou da Salete Campari (a Salete é a loira mais natural). Querer que a parada saia da Paulista porque a dona Alcachofra quase perdeu o filho é hipocrisia. Ou advogar um lugar mais aberto só porque o Mário perdeu o celular... ora... Multidão, minha gente, é assim mesmo, aqui ou em Nova York. A queima de fogos pelo 4 de Julho americano, lá em Manhattan, também é um pega-pra-capar incontrolável.
Afastar a Parada da Paulista pra onde? A Marta Suplicy, quando prefeita, organizou uma festança na 23 de Maio – uma possível alternativa, avenida larga, etc. Foi a festa mais chata da paróquia. Sem graça, sem charme. Mandar os trios, as travecas e os go go boys para o Sambódromo também é outro mico. Só vão eles, uma caravana de Jundiaí e a turma que mora na Zona Norte. Mais ninguém. Será que a intenção é essa? Devolver os gays, os simpatizantes e até seus assaltantes de estimação pro gueto?
A classe média intelectualizada, que sempre achou o máximo uma parada gay em São Paulo, capaz de nos igualar a San Francisco, Sidney e Nova York, essa classe média já vem se afastando da ‘nossa’ parada. Eles se sentem acuados com “o pessoal da periferia” – um pessoal mais feinho, magricela, disposto a encher a caveira com aquele vinho de quinta... A maioria nem é gay! Ou pelo menos não parece. Vai lá pra tirar foto abraçado às drags, que vivem seus momentos de Paris Hilton do Tietê.
Enquanto era um evento mais elitista, a parada atraía atores, jornalistas, escritores, pintores, arquitetos e outras categorias profissionais mais chiques. Com a chegada das caravanas e com o empobrecimento estético e econômico de seus participantes, ir à parada é out, fora de moda, cafona. “Bem feito que foram assaltados! Quem mandou?” Assim, se Gilberto quiser mandar as travecas pobrinhas pro Sambódromo, danem-se eles... Acontece que as monas, drags, bibas e bichinhas caipiras, doidas pra ferver no coração de São Paulo são tão donas da Paulista quando o Abram Szajman, Gilberto Kassab, Salete Campari, eu ou você.
Pior: lá no outro lado do Tietê, a Parada vai virar um evento falsamente popular. Não há metrô nem ônibus que levem ao sambódromo, pelo menos com acesso tão fácil quanto na Paulista. O sambódromo paulistano, sabemos todos, é um arremedo do carioca. É tão paulistano quanto o Lagoa do Abaeté. O charme, a beleza e o segredo da parada é estar na Avenida Paulista, é usar o corredor financeiro do país pra mostrar que aqui tem veado, lésbica, mãe de família, guarda de trânsito e aposentado se divertindo. Tem cenas homofóbicas, também, e essas devem ser reprimidas com rigor. Mas, no geral, o clima é de festa e não de reunião de pais e mestres. E é isso, acima de tudo, que precisa ser preservado.
Senhores empresários que faturam com o Pink Money, não deixem que estrangulem a galinha dos ovos de ouro. Lojistas, hoteleiros, donos de restaurantes e saunas e bares, batedores de carteira e camelôs de vinho vagabundo, uni-vos!


8 comentários:

  1. Maravilhoso, Mario, matou, é isso mesmo, em Sampa o preconceito é contra pobre. Já não frequentam o Masp nem a Fiesp, se dependesse dessa elite idiota, sequer andariam pela Paulista. Não sai barato eleger o direitaço do Kassab. A invasão da Usp é outra afronta, meu filho está louco da vida, a polícia cercou a faculdade dele. Essa gente truculenta, elitista e hipócrita está colocando as manguinahs de fora. Acho que os homens e mulheres de boa vontade precisam reagir, reabilitar discursos fora de moda como "sou pelos direitos humanos".

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  2. Mario,
    É isso mesmo o que você escreveu.... a Passeata vai pro gueto, como todas as manifestações que não são do agrado da direitona pefelê vão. Antigamente era um pouco pior, iam para a câmara de gás da pefelândia germânica. Mas, já antevendo o que virá, vou sugerir alguns eventos culturais para substituir a Parada Gay na Paulista que, com certeza, são mais famílias e seguros:

    1) Parada do tricô e do crochê - Caravanas de vovozinhas de Monte Sião virão todos os anos a SP abrilhantar uma passeata de tricotadores. No final da passeata, as peças de vestuários tricotacadas e crochetadas serão doadas a uma institutição de caridade.

    2) Parada dos colecionadores de selos e numismatas - Reunindo colecionadores de selos e moedas antigas. O público pode doar moedas novas para obras de caridade no final do evento.

    3) Parada dos imitadores de Elvis e Rauzito - Claro que todos vestidos a carater. Não serão permitidas versões gays ou travestis dos dois ídolos populares. A única exceção é a Elke Maravilha e Marta Suplicy vestidas como elas próprias. Só para ser um contraponto jocoso.

    4) Parada da auto ajuda - Essa tem um cunho mais forte e humano. Com a participação de autores de mais de 30 obras, como é o caso daquele deputado que-já-foi-secretário-e-que-eu-não-lembro-o-nome, mas que escreve obras como eu cato piolhos (não meus claro, pois meus cabelos são limpinhos e nunca tive lêndia).

    Essa é a minha humildade contribuição para substituir a finada parada gay.

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  3. Ester, justiça seja feita,o preconceito contra pobre é generalizado. Fortaleza, Maceió e Recife têm uma classe média de arrepiar!
    Vita, parada de auto-ajuda é o máximo! Imagina o trio elétrico do Paulo Coelho! E o do Chalita?!

    E como dizem do samba: a Parada Gay agoniza, mas não morre!

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  4. Tres milhões e meio na avenida e 60 ocorrências de B.0. ; dois agredidos violentamente ( um morto )por motivos desconhecidos , talvez violência homofóbica mesmo; 22 feridos.Milhares de bêbados pelo caminho.
    Até que para tanta gente espremida foi pouco,né?
    Em jogos de futebol no Pacaembú também tem a mesma zorra e mortes estúpidas. Ninguém pensa em acabar com torcidas organizadas ou com o futebol.
    Mas com a Parada já estão pensando em mandá-la para longe da civilização.

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  5. Tentam sempre acabar com torcida organizada, sim. Volta e meia aparece um promotor com a idéia. OK, é preciso mesmo coibir, dar um basta à violência. Mas a ordem sempre estoura em cima dos pobrinhos... rs... coincidência, claro.
    Aliás, levar qualquer coisa pro Sambódromo não é solução - é só fazer um levantamento do número de assaltos que rola nas imediações do Anhembi durante o carnaval.

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  6. Mário,
    Primeiro sobre a segurança,quer dizer que segurança?Vi o postinho de sempre no Trianon e só,nada de PM ou guarda Civil,apenas bombeiros. Agora no dia da passeata contra a truculencia da polícia na USP fomos brindados durante todo o trajeto com milhares deles,que nos cercavam,se rolasse a mínima confusão,não teria nem para onde fugir!Segundo, ah Mário a Parada virou a casa da mãe Joana vai?Carnaval fora de época,é qualquer coisa menos celebrar o orgulho gay!Aí, acho o fim,porque o unico propósito é encher a cara e sair agarrando qualquer um no meio da Paulista.Vou lá por um objetivo que não é ver dois caras batendo uma,nem um cara masturbar uma menina em pleno Trianon!Mas tirar de lá também não tem o menor sentido...

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  7. Menina, teve tudo isso e eu perdendo tempo sendo roubado... É, reconheçamos que descambou... Mas se fosse a única coisa descambada nesse país...

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  8. boa Marião.Apesar dessa porra de parada passar na porta de minha casa há anos,me impedri de sair ou entar de carro em minha garagem e estourar os meus tímpanos,acho justo a coisa continuar onde esta.Em relação a Marta,não só ela tem um loiro menos natural,como tbm o botox é dismetric e de pior qualidade

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