domingo, 7 de junho de 2009

Levantou, mas não sacudiu a poeira


“Um homem de moral”, o documentário dirigido por Ricardo Dias, começa de maneira inusitada. Tendo como tema a obra do homem que compôs ‘Ronda’, o hino da boemia paulistana, o filme se inicia com o nascer do sol. Gente indo pro trabalho, preparando as barracas da feira, esperando a loja abrir... O filme começa quando os personagens de Paulo Vanzolini vão dormir. Ao longo do filme, esses personagens vão aparecendo em flashs, como se tivessem saído das letras do compositor.
Ricardo Dias conhece bastante o seu personagem. Desde criança, é amigo de Vanzolini. É cientista, que nem ele. Trocam idéias e figurinhas. Graças a essa intimidade, o filme registra um Vanzolini à vontade, distante da imagem de urtigão que se tem dele. Mas é também graças a essa intimidade que o filme de Ricardo Dias tropeça. Por conhecer demais Paulo Vanzolini, o cineasta esqueceu-se de contar ao público quem é aquele velhinho cheio de marra e perspicácia. Quem não sabe nada sobre a vida do compositor continuará sem saber. Pena. Ricardo Dias chega ao ponto de contar na primeira pessoa, em off, sobre um outro filme que fez com o compositor. Não explica e, se não pesquisar, você fica sem saber que filme era ou de quem era a voz que contou isso.
“Um homem de moral” ganha pontos em alguns números musicais – mas atinge o máximo, mesmo, ao mostrar para muita gente que Paulo Vanzolini assinou muitas letras sensacionais. Pena que nem todas sejam tão conhecidas. Algumas dessas letras podem figurar entre as mais bonitas da música brasileira – “Praça Clóvis”, por exemplo, é uma obra-prima. “Chorava no meio da rua”, outra. “Maria que ninguém queria”, mais uma. Saímos do filme com a sensação de ter visto um show bacana.
Mas depois de “Simonal, ninguém sabe o duro que dei”, fazer documentário sobre músicos brasileiros pode ser mais complicado do que catar meia dúzia de depoimentos, colocar seis ou sete artistas pra cantar – e estamos conversados. Não basta expor, é preciso refletir sobre, inovar na apresentação e surpreender a audiência.
Não é por acaso que os melhores momentos de “Um homem de moral” fogem do esquema. Quando junta uma renca de gente cantando versos de “Volta por cima”, Ricardo Dias emociona – eis a prova: a obra daquele homem é mesmo conhecida por todo mundo. Isso é lindo e poderia ficar ainda melhor se ele tivesse confiado no taco, tirando a gravação com Noite Ilustrada, que guia as participações populares. Outro momento sensacional é a japonesa no karaokê – explicitando um depoimento do próprio Vanzolini no começo do filme. Bárbaro.
Tem ainda um inusitado depoimento de Adoniran Barbosa, o outro compositor símbolo de São Paulo. Autor de muito mais sucessos populares que Vanzolini, Adoniran parece intimidado ao falar do amigo – eles eram amigos – e reproduz a voz corrente: Adoniran era bom, mas Vanzolini (doutor) era mais completo – por que era doutor, por que escrevia certo, por que não era bagaceira. Pena que Adoniran não esteja vivo para que alguém o contestasse. Mentira.
Adoniran e Vanzolini têm a mesma estatura, são excelentes compositores e conseguiram captar o coloquial brasileiro em suas letras como poucos. Achar que as excelentes letras de “Ronda”, “Volta por cima” e “Praça Clóvis” sejam superiores a “Apaga o fogo, Mané”, “Vide verso meu endereço” e “Iracema” é lançar um olhar preconceituoso sobre poemas tão lindos. Nenhum dos dois merece isso.

5 comentários:

  1. Não vi o filme, só vou elogiar a edição de fotos do seu blog, por enquanto. Está original, de bom gosto, cuidadosa. A sua cara, meu amigo.

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  2. olá mário, vim conhecer o seu blog. beijos, pedrita

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  3. oi, pedrita. bem vinda. beijos no bam-bam.

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  4. eu quis colocar o blog pedrita e bam bam, mas meu amigo se recusou a ser o bam bam. aí como ele queria 007, coloquei a mata hari de quebra. só q meu email continuava pedrita e não mudei. agora tenho que carregar o nome desse jovem no meu blog há 7 anos. bejios, pedrita

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