quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Corpo a corpo


A campanha eleitoral nem começou na TV e os ânimos já se exaltaram. Nem estou pensando nas manchetes tendenciosas, cheias de malícia, que jornais e revistas andam publicando - e nem quero imaginar no que vem pela frente. Também acho desnecessário falar da militância aguerrida, com esses não tem discussão mesmo, o cara acredita em seu candidato e vai à luta. Basta ver que todos reclamaram de como William Bonner entrevistou o "seu" candiato. Ninguém saiu satisfeito.

O que tem me impressionado mesmo é a partidarização das pessoas comuns. Ok, é realmente muito bom ver que há bastante gente interessada nos destinosdo país... Mas a coisa atualmente não é tão simples. O que espanta é que gente comum, tipo você, eu e um milhão de almas usam o twitter, o facebook, os emails e os blogs pra não só divulgar seu voto, mas atacar os adversários e, acima de tudo, reagir de maneira espantosa a quem manifesta preferência por outro candidato que não o seu.

A impaciência chegou com tudo ao mundo virtual e o que antes era motivo para bons debates entre amigos, hoje tornou-se uma forma de agredir e até desprezar quem não pensa igual. Só por dizer que tinha votado no Lula nas duas eleições anteriores, me senti cortado da lista de algumas pessoas. As mesmas pessoas que me encontraram pela rede e se diziam mortas de saudades, vamos nos ver, etc etc. Um voto me transformou em persona indesejável na rede social.
Tenho amigos que vão votar no Serra, que fazem campanha aberta e escancarada pelos tucanos. Outros são Marina Silva desde a primeira infância. E há ainda os que votarão na Dilma sem pestanejar nem discutir as graves pisadas na bola da gestão petista. Tirando, obviamente, a opinião desfarovável que um tem a respeito do voto do outro, por que devo me afastar dessas pessoas? Por acaso, de agora em diante, só vou querer andar com corintianos e fãs do Chico Buarque? Na minha cabeça, já estavam mais que fora de moda figuras que só tinham amigos gays ou maconheiros ou jogadores de xadrez.
Dar opinião, ainda por cima em rede social, ficou muito complicado. Aquilo é terra de ninguém, é espaço público e, a não ser que você mande em private ou direct, está falando para todo mundo. Logo, está se submetendo ao julgamento geral e não pode reclamar de invasão de privacidade. Acontece que as opiniões favoráveis aos nossos não-candidatos são chatas. As favoráveis aos nossos candidatos também são chatas, mas pelo menos a gente concorda com elas em alguma coisa.
Uns e outros inundam as redes, caixas postais e tudo quanto é forma de comunicação falando bem do seu e mal do outro. E ai de quem tentar contestar. "Cretino" é praticamente um elogio de avó pra neto se compararmos com o que se escreve na rede. A palavra escrita, enviada a distância, serve de escudo e dá ao que escreve uma noção de super-poder que ele dificilmente teria no cara a cara.
Não deve ser difícil respeitar o voto alheio. Pessoas normais não saem se matando só porque torcem para times diferentes (pessoas normais, atenção). Podem bater boca, tirar sarro, tripudiar sobre o adversário que perdeu, mas não trata o outro como uma bactéria desprezível.
É claro que uma eleição não é um amistoso interclubes. O voto ajuda a definir os próximos anos de uma comunidade, um Estado, um país. É decisão que afeta a economia e o bem estar de muitos (ou pelo menos deveria ser assim). Mas a importância não significa que foi abolido o respeito à opinião alheia.
Se Serra conta com o apoio quase incondicional da imprensa. Se Dilma conta com o impulso irrefreável do governo federal. Se Marina Silva arrebanha os que não querem se envolver em briga de cachorro grande.Se Plínio revela agora um desconhecido lado de vovô da fuzarca... Todos esses "ses" serão resolvidos no dia da eleição. E passaremos os próximos anos submetidos à vontade da maioria. É assim que funciona.
E antes que eu me esqueça, meus votos decididos até agora são: Dilma pra presidente, Marta pro Senado, Erundina pra deputada federal e Salete Campari pra deputada estadual. É questão de opinião e não de aposta na mega sena. Se ganhar o Serra e meus outros votos não emplacarem, continuarei a tocar minha vida da mesma maneira. Mais crítico, claro, porque ninguém aqui é candidato a santo.

8 comentários:

  1. Nunca estive tão afastada de uma campanha como e stou dessa. Só vi a cara dos candidatos no debate da Band, para ver se eles estavam bonitinho e preferi assistir à agonia dos saopaulinos na libertadores, muito mais divertido.
    Eu também não gosto de discriminar ninguém por questões políticas, já trabalhei com petistas e tucanos, tem os bons e tem os maus, os simpáticos e os chatos.
    Político é tudo igual, vá um comitê tucano e verá o mesmo clima de um petista, ainda mais agora, que o PT ficou rico.

    Mas tenho visto petistas inflamados, fiz mais amigos entre eles, desses que vão com a adesivo da Dilma colado no peito dentro do trem.

    Eu não incluo mais nesse grupo de amantes do Partido dos Trabalhadores, eu me libertei dessa paixão, por sinal eles fizeram muito por isso.
    Mas acho que ainda é a melhor alternativa política, então vamos lá, é sexo sem amor.
    E por favor votem no Mercadante, eu não aguento o tal do Geraldo, nem esse bando de tucanos mamando há mais de uma década no governo do Estado. É preciso alternancia no poder, no mínimo, para os caras que chegam se mexerem e realizarem alguma coisa.

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  2. Até o momento, alternância de poder é uma tese que os tucanos advogam só a nível federal.
    Mercadante? passo. Geraldo? nem considero.

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  3. Olá Também prefiro a alternância e se possível em todas as esferas. Permanencia no Brail dá espaço para vícios e tempo de solidificação do que não presta.

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  4. Eu trabalhei com o Mercadante na campanha do Lula em 89, acompanhei-o num Roda Viva inclusive e depois trabalhamos juntos no Projeto Travessia, em 1996, era um cara disposto a fazer coisas, do bem, vaidoso toda a vida, mas eu acho que é infinitamente melhor do que o Alckmin.
    Daria uma agitada boa nessa pasmaceira, ia criar polêmica, seria um governador muito mais interessante do que os que têm passado pelo Bandeirantes.
    Mario, quer ver gente que tem ódio de tucano é professor, tenho me relacionado com muitos em comunidades virtuais, eles odeiam de morte o PSDB, foi o PSDB quem criou a progressão continuada e paga muito mal, mas muito mal mesmo para eles, a raiva é generalizada.

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  5. Mário Viana,

    Acho uma delícia de texto o seu trabalho mas o mais importante é que ele não é nada superfici.Bom humor não rima necessariamente com algo raso. Pena que suas peças, ao que eu saiba, não tenham vindo para a cidade do Rio de Janeiro, onde moro há mais de trinta anos, apesar de ser paulista de Mogi das Cruzes.

    Trato de Cinema e outras perplexidades. Sou escritor e crítico de cinema.Incluo também no Blog meus contos e poemas. Sempre que posso escrevo/faço correlações com questões GLBT. Convido você e aos seus leitores para conhecer meu Blog.
    http://www.pelaluzdosmeusolhos.blogspot.com/

    Espero que gostem e caso afirmativo recomendem aos amigos. Estou no twitter como nrsouza.
    Coloquei o seu blog como um dos meus blogs amigos.
    Um grande abraço,
    Nelson

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  6. Nelson, achei bem curioso o seu blog... eu não sei fazer tanta folia no computador, sou um loiro tecnológico... rs...

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  7. OLá, Mário! È no mínimo, ridículo, se afastar das pessoas ou julgá-las por conta de sua opção eleitoral, sexual ou esportiva.Já passei por situação similar a sua.Tb votarei na Dilma e na Marta.Um beijo.Shu.

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  8. Também achei muito primitiva a atitude das pessoas que se afastaram de você pela sua opinião política. Não faz o menor sentido. De uma maneira ou de outra, o que todos queremos para o futuro do país é quase a mesma coisa, não é? Melhorias na educação, na saúde, transparência... Por um caminho ou por outro, por um candidato ou por outro, o que desejamos é um Brasil mais justo.
    Gostei muito do seu blog, vou linká-lo!

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