terça-feira, 17 de agosto de 2010
Essa gente bronzeada mostra seu valor
Toda vez que vou a Minas Gerais (e bem que poderia ser mais vezes, quando lembro daquela comida gostosa...), me divirto lendo os jornais locais. São bons jornais, abertos ao noticiário nacional e internacional, cobertura ampla e tal. Mas quando falam de algum artista conterrâneo, fazem questão de lembrar isso ao leitor. Selton Mello não é apenas o ator e diretor de sucesso. É o "mineiro de Passos". É um orgulho ser conterrâneo de tal figura, diz-se nas entrelinhas. Ou é óbvio que faria sucesso - é mineirim, uai.
E antes que me acusem de tripudiar sobre o bairrismo, me adianto. Tenho a mesma sensação toda vez que os jornais noticiam algum evento internacional em que surja, de forma inesperada, a presença de um brasileiro. Esta semana aconteceu isso, com o acidente do avião na Colômbia. Uma aeronave partiu-se em três, uma mulher morreu do coração, não houve outros mortos - mas todos os noticiários aqui sublinhavam a presença de quatro brasileiros. Nem entraram no mérito de um deles, militar da aeronáutica, se não me engano, ter escapado ileso de forma bastante humana, mas não muito heroica.
Identificar um brasileiro num acidente aéreo, numa avalanche de neve em Bariloche ou numa enchente do Paquistão diferencia aquele incidente de outros tantos. O caso da adolescente condenada em Abu Dhabi por ter feito sexo com um motorista paquistanês só mereceu destaque porque a menina é "coisa nossa". Atentados terroristas ganham mais manchetes quando envolvem um brazuquinha perdido nos confins do Oriente Médio. Ah, esse nosso verde-amarelismo...
Não sei se outros povos - além do brasileiro e do americano - têm esse mesmo comportamento. Digamos que não. O que nos espanta tanto quando uma coisa dessas acontece? Será que até hoje não superamos nossa vergonha de ser colônia e viver longe do centro civilizado? Será que até hoje achamos inacreditável que um dos nossos - mesmo que não façamos ideia da existência dessa pessoa até o fato ocorrido - possa ter sido vítima ou testemunha de um acontecimento histórico?
Essa mania de achar que só turista alemão pode ser baleado num cruzeiro pelo Rio Nilo nos deixa na pole position em qualquer campeonato de provincianismo. Pior é quando as sensibilidades se sentem feridas - é o caso dos rapazes brasileiros condenados à morte na Indonésia por traficar drogas. É cruel, claro que é, especialmente pra quem - como eu - é contrário à pena de morte. Mas uma pessoa que infringe conscientemente uma lei severa sabe dos riscos que está correndo. Faz uma aposta alta e perde. As leis da Indonésia não livram a cara de ninguém só porque a pessoa nasceu num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza.
As distâncias aproximaram os mundos e, hoje, não é nada difícil para um brasileiro estar do outro lado do planeta quando alguma coisa acontece. Eu mesmo estava a 400 km de Sichuan, na China, no dia em que ocorreu aquele terremoto pavoroso, dois anos atrás. Lembro até hoje do frio na espinha ao chegar no hotel, desavisado, e ver o mapa da tragédia no noticiário na CNN. Era muito perto! Isso faria de mim uma manchete: "Terremoto na China mata 200 mil chineses e um brasileiro". O pior é que ia aparecer um espírito de porco perguntando: mas que diabo ele foi fazer lá? Tanto lugar bonito aqui pra conhecer...
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eu adoro os jornais mineiros, o acolhimento dos mineiros, as comidas, e claro. os doces. beijos, pedrita
ResponderExcluirBom texto, Mário. Eu morro de vergonha quando o JN mostra páginas da internet de outros paises comentando algo que aconteceu por aqui. Acho de uma demosntração de inferiodade sem fim.
ResponderExcluirImagino uma TV alemã dando importãncia ao que im portal daqui diz sobre eles,nunquinha
E também quero morrer quando comparam a nossa economia com a da Islândia ou paises insignificantes comparativamente a nossas dimensões territoriais e econômicas, como exemplos de que eles dão certo e nós não.
O Brasil ainda se preocupa muito com o que pensam dele.é muito complexado, colonizado, jacu, mesmo, eu diria.
Os baianos são ainda piores que os mineiros, Mario. Aqui uma pessoa é identificada mais ou menos assim: Fulano de Tal é bailarino, ativista social e baiano. Ou então, como no caso daquele carinha que joga vôlei de praia: "o baiano Ricardo conquistou...". É o que dá viver na província.
ResponderExcluirGrande abraço.
Lembrei da Zilda Arns e do Sérgio Vieira de Mello, ambos mortos em ações humanitárias, embora em razões bem diversas. Mas quando vc questiona se eles, os gringos, tb se referem aos seus mortos em terras estrangeiras do mesmo modo que nós, eu penso que não. Como o comentário acima diz, tb acho que isso é um mote de província mesmo. Na época do acidente com o avião da Air France em território nacional, me perguntei como os parentes daqueles mortos de várias nacionalidades reagiram àquela fatalidade, uma vez que ocorrrera no Brasil. Sério, não pude deixar de pensar que talvez eles tivessem lamentado "ah, mas se não fosse no Brasil...". Sei lá, acho que é um pensamento provinciano tb. ;))
ResponderExcluirOi Mario, também já tinha reparado como a nossa imprensa sempre acha um brasileiro nas desgraças do mundo. Parece que se não houver brasileiro a tragédia não vai interessar, não vale a pena, não tem importância.
ResponderExcluirMuito infantil essa necessidade de que tudo gire em torno do nosso umbigo tupiniquim.
Gostei do Blog. Bjs Bel Pedrosa