segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Reality show de verdade
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Essa gente bronzeada mostra seu valor

Toda vez que vou a Minas Gerais (e bem que poderia ser mais vezes, quando lembro daquela comida gostosa...), me divirto lendo os jornais locais. São bons jornais, abertos ao noticiário nacional e internacional, cobertura ampla e tal. Mas quando falam de algum artista conterrâneo, fazem questão de lembrar isso ao leitor. Selton Mello não é apenas o ator e diretor de sucesso. É o "mineiro de Passos". É um orgulho ser conterrâneo de tal figura, diz-se nas entrelinhas. Ou é óbvio que faria sucesso - é mineirim, uai.
E antes que me acusem de tripudiar sobre o bairrismo, me adianto. Tenho a mesma sensação toda vez que os jornais noticiam algum evento internacional em que surja, de forma inesperada, a presença de um brasileiro. Esta semana aconteceu isso, com o acidente do avião na Colômbia. Uma aeronave partiu-se em três, uma mulher morreu do coração, não houve outros mortos - mas todos os noticiários aqui sublinhavam a presença de quatro brasileiros. Nem entraram no mérito de um deles, militar da aeronáutica, se não me engano, ter escapado ileso de forma bastante humana, mas não muito heroica.
Identificar um brasileiro num acidente aéreo, numa avalanche de neve em Bariloche ou numa enchente do Paquistão diferencia aquele incidente de outros tantos. O caso da adolescente condenada em Abu Dhabi por ter feito sexo com um motorista paquistanês só mereceu destaque porque a menina é "coisa nossa". Atentados terroristas ganham mais manchetes quando envolvem um brazuquinha perdido nos confins do Oriente Médio. Ah, esse nosso verde-amarelismo...
Não sei se outros povos - além do brasileiro e do americano - têm esse mesmo comportamento. Digamos que não. O que nos espanta tanto quando uma coisa dessas acontece? Será que até hoje não superamos nossa vergonha de ser colônia e viver longe do centro civilizado? Será que até hoje achamos inacreditável que um dos nossos - mesmo que não façamos ideia da existência dessa pessoa até o fato ocorrido - possa ter sido vítima ou testemunha de um acontecimento histórico?
Essa mania de achar que só turista alemão pode ser baleado num cruzeiro pelo Rio Nilo nos deixa na pole position em qualquer campeonato de provincianismo. Pior é quando as sensibilidades se sentem feridas - é o caso dos rapazes brasileiros condenados à morte na Indonésia por traficar drogas. É cruel, claro que é, especialmente pra quem - como eu - é contrário à pena de morte. Mas uma pessoa que infringe conscientemente uma lei severa sabe dos riscos que está correndo. Faz uma aposta alta e perde. As leis da Indonésia não livram a cara de ninguém só porque a pessoa nasceu num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza.
As distâncias aproximaram os mundos e, hoje, não é nada difícil para um brasileiro estar do outro lado do planeta quando alguma coisa acontece. Eu mesmo estava a 400 km de Sichuan, na China, no dia em que ocorreu aquele terremoto pavoroso, dois anos atrás. Lembro até hoje do frio na espinha ao chegar no hotel, desavisado, e ver o mapa da tragédia no noticiário na CNN. Era muito perto! Isso faria de mim uma manchete: "Terremoto na China mata 200 mil chineses e um brasileiro". O pior é que ia aparecer um espírito de porco perguntando: mas que diabo ele foi fazer lá? Tanto lugar bonito aqui pra conhecer...
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Corpo a corpo

quarta-feira, 4 de agosto de 2010
O meu dia dos pais

Em 2003, minutos antes de abrirmos as portas do teatro do Centro Cultural Banco do Brasil para a estreia de "Vestir o Pai", Paulo Autran - que dirigia a peça - olhou a plateia vazia e comentou: "A gente passa meses ensaiando a comédia que você escreveu, mas só vai saber se fez o trabalho direito na hora que escutar a primeira risada do público". Uns 15 minutos depois, ouvíamos a primeira das muitas risadas provocadas em "Vestir o Pai" e relaxamos nas nossas cadeiras. A bola agora estava com Karin Rodrigues, Leona Cavalli e Otávio Martins, em cena. Mas a lição ficou na cabeça: só descobrimos que acertamos quando o público ri. É a agonia de quem faz comédia.
Depois da gestação em nossos cérebros e computadores, a peça chega ao corpo dos atores, mas passa algum tempo - dois, três meses - trancada nas salas de ensaio. Ali, sim, a peça começa a ganhar vida. Mas piada repetida vai perdendo a graça e, depois de dez dias de ensaio, ninguém mais ri do texto. Nos ensaios de "Vamos?", a equipe riu muito - das invenções, cacos, erros, nunca mais do texto. A noção do que é engraçado vai se diluindo com o passar do tempo. E de repente lembramos que a porta vai abrir, o público tomar seus assentos e - torcemos - rir. No fundo do pensamento, como a goteira na pia da área de serviço, surge de mansinho o frio na espinha: e se eles não rirem?
Vão rir, eu sei. Mas o medinho impulsiona a melhorar e aprimorar o trabalho. É a incerteza que me faz caprichar em cada fala. Pelo menos, eu tento. Mas, por mais confiança no taco que se tenha, a gente sempre leva uma surpresa quando a coisa dá certo. Eu, pelo menos, sou assim. Recentemente, fui ao centro de São Paulo assistir ao ensaio aberto de "Rádio Varieté", o novo espetáculo de rua da Cia. La Mínima. Escrevi alguns esquetes pra esse espetáculo e fui lá ver se funcionava - ou seja, fui checar se as pessoas ririam.
Foi a primeira vez que escrevi para uma peça de rua e isso exige uma outra técnica, outra noção de tempo de piada. Pra complicar, me meti a escrever uma cena de ventríloquo e, graças ao Domingos Montagnier e ao Fernando Sampaio, aprendi muita coisa. Vocês já tinham reparado que boneco de ventríloquo fala pouco? Pois é, fala. Mas o pouco que fala tem de ser engraçadíssimo. A cena feita na rua, pela primeira vez, trazia um boneco astrólogo que tentava adivinhar o signo do público. A plateia riu e, juro, eu fiquei arrepiado. O primeiro riso em qualquer espetáculo libera uma adrenalina lascada.
Eu só acredito em teatro feito em conjunto. Não em grupo, como uma noção engessadora, mas em conjunto - autor, diretor, atores, técnicos e público, todos fazem a peça existir. Na falta de qualquer um deles, a coisa não acontece. Não acredito em artista auto-suficiente, que no mesmo espetáculo escreve, dirige, atua, vende ingresso e estoura a pipoca. Pra substituir o público por si mesmo é um passo.
A multiplicidade é que dá a liga. Deve ser por isso que me sinto em casa trabalhando com os Parlapatões e o La Mínima, dois grupos que não exigem fidelidade partidária - a não ser ao trabalho em si, à seriedade com que encaramos o riso alheio. Deve ser por isso que gosto de trabalhar com Jairo Mattos, que tem uma paixão incontrolável, como ele mesmo, pelo teatro . Deve ser por isso que chego no ensaio de "Vamos?" e me atiro nos braços da equipe toda - Dalton Vigh, Rachel Ripani, Alex Gruli, Tânia Khalil, Rafael Maia, Rita Batata, Otavio Martins, Tati, Chico, Ed, Valdir... A gente se juntou e fez um timão.
Deve ser por isso que, neste fim de semana, cinco peças minhas vão ocupar alguns disputados espaços teatrais da minha cidade. Coincidência, ok. Mas também uma alegria imensa e uma ansiedade desmesurada. Minha cabeça entrou em processo de parto de uma peça, de formatura da outra, de festinha da outra... São filhotes, espalhados pelo mundo, e que vieram, vejam vocês, todos me visitar no dia dos pais.
O "Festival Mário Viana de Teatro & Risos" é formado por (na ordem alfabética):
AMANHÃ É NATAL, com Álvaro Gomes, Cinthia Zacariotto e Nana Paquini. Direção de Jairo Mattos. Teatro Paulo Eiró, Av. Adolfo Pinheiro, 765. Sex e sáb, 21 horas. Dom, 19 horas. Ingresso: 10 reais. Até 22 de agosto.
CARRO DE PAULISTA (escrita com Alessandro Marson), com Tadeu Pinheiro, Vinicius Oliveira, Aline Abovski, Fábio Neppo e Rodolfo Valente. Direção de Jairo Mattos. T. Ruth Escobar, R. dos Ingleses, 209. Sáb., 22h30. Ingresso: 30 reais. Até 25 de setembro.
O MÉDICO E OS MONSTROS, adaptação do original de Robert Louis Stevenson, com Cia. La Mínima. Direção de Fernando Neves. Teatro Cleyde Yáconis, Av. do Café, 277, Jabaquara (ao lado do Metrô Conceição). Qui, 21h. Sex, 21h30. Ingresso: 30 reais. Até dia 29.
UM CHOPES, DOIS PASTEL & UMA PORÇÃO DE BOBAGEM, com os Parlapatões. Já faz parte do repertório cult do grupo. Sex, 21h. Sáb, 21h e meia noite, dom. 20h. Ingresso: 15 reais. Até dia 8.
VAMOS?, com Dalton Vigh, Tânia Khalil, Rachel Ripani e Alex Gruli, direção de Otávio Martins. Teatro Imprensa, Rua Jaceguai, 400, Bela Vista. Sex, 21h30, sáb. 21h e dom., 19 horas. Ingressos: 40 reais e 50 reais. Estreia.