quinta-feira, 20 de maio de 2010

Síndrome de São Tomé


Por que a gente é tão desconfiado? Por que uma pessoa tão otimista como eu lê no jornal que o Senado aprovou por unanimidade o Projeto Ficha Limpa e não sai comemorando feito torcedor do Santos após cada gol dos meninos? Por que diabos a gente tenta descobrir o que há por trás de cada ação anunciada na imprensa? Em que ponto da história, da nossa história nacional, a classe dirigente e política pegou o desvio que nos colocou definitivamente de pé atrás?


Eu sei que ser ingênuo é até bonitinho, mas dá muito trabalho. Decepcionar-se com o seu candidato deveria constar naquela lista de coisas que causam estresse. É por isso que mantemos a pulga em plantão permanente atrás da orelha, para não sermos surpreendidos por um passo em falso de quem deveria ser nosso alvo de confiança. "Eu sabia...", frase dita com um misto de descaso e conformismo, torna-se quase um mantra nos dias que correm.


Deputados e senadores, surpreendidos pelo abaixo-assinado de 1,6 milhão de cidadãos, enfiaram a viola no saco e aprovaram o projeto Ficha Limpa. Em tese, condenam seus pares atuais e futuros a não poder se candidatar caso sejam condenados juramentados da Justiça. É claro que a coisa não é tão simples como eu escrevi, tem uma série de 'senões', além dos que a lei vai ganhar até finalmente ser sancionada. De repente, inventam que a lei só vale pra deputado condenado por juiz cujo nome comece por Y. Vai saber.


Aprovar na Câmara também é uma malandragem. Olha a desconfiança de novo. Uns políticos ligados ao governo chegaram a dizer que ainda não era hora de aprovar a Ficha Limpa... uma demonstração que chegar ao Poder elimina qualquer resquício de caráter em certas almas (que, certamente, já não era muito católicas antes... o Poder só agravou a coisa)...
Caso o presidente quisesse agradar aos seus, teria de vetar a lei, o que daria um tremendo prejuízo de imagem em ano eleitoral. Caso aprove, Lula pode provocar muxoxos em muitos aliados, que carregam uma ficha mais suja que as ruas de São Paulo ao fim da Virada Cultural. É uma sinuquinha, convenhamos, mas quem se dispõe a acalmar os ânimos do Irã não se assusta com um romerojucá qualquer.


Eu queria confiar mais e abrir, não um champanhe, que não sou besta, mas pelo menos uma cervejinha e dizer: os deputados e senadores acordaram, criaram vergonha, deram-se ao respeito. Infelizmente, não consigo. Deixa a cerveja na geladeira, esperando que a realidade política se mostre mais positiva.


Mas que foi legal, foi.



Um comentário:

  1. no brasil é difícil acreditar, a corrupção parece estar em todas as esferas como no funcionário público q leva papel sulfite pra lista escolar do filho. e depois q eu vi o sarney sendo a favor da ficha limpa, insistindo pra q assinássemos, não dá pra confiar. ficha limpa eu sempre lembro de porteiros de prédios. as quadrilhas infiltram candidatos a porteiros com ficha limpa pro porteiro entregar toda a ficha do prédio pra eles roubarem. não dá pra confiar. beijos, pedrita

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