De março pra cá, o mundo virou de ponta-cabeça na Tailândia. Bangcoc, a cidade feia mais interessante do mundo, já fora tomada pelos camisas-vermelhas quando estive lá - mas tirando uma vez em que os revoltosos pintaram a casa do ministro com sangue, as manifestações eram pacíficas. Essa do sangue, apesar do mau gosto, também não foi violenta - os caras passaram a noite doando o próprio sangue, que era recolhido em baldes e transformado em "tinta", vocês podem imaginar o cheiro que deve ter ficado.
Agora, as pessoas morrem durante os protestos e o governo ordena toque de recolher. Não deve estar fácil fazer turismo - sempre tem um alemão desavisado - na Tailândia. Pode-se ficar protegido sob o teto dos hoteis bacanas, mas isso é pra quem tem bala na agulha. Um percentual muito grande dos turistas que desembarca em Bangcoc é mochileiro puro. As coisas lá, em geral, são muito baratas. Os mochileiros caminham para cima e para baixo da Khao San Road, uma espécie de 25 de março da turistada alternativa (e onde se pode comprar camisetas bem legais e comer um crepe de banana feito na hora, delicioso), às vezes fazendo massagem nos pés, outras procurando uma lan house ou uma pousada de preço camarada.
Bangcoc é uma cidade maluca. O rio Chao Phraya serve de meio de transporte, barcos coletivos ligam uma ponta à outra, a passagem custa bem barato e é incrivelmente fácil de se mexer - mesmo não sabendo uma palavra daquela língua deles. No centro histórico, o palácio real e vários templos - do Buda Deitado, do Buda de Ouro, do Buda de Jade... - são um delírio arquitetônico. No centro moderno, avenidas largas, metrô aéreo e prostituição feminina e masculina convivem com restaurantes populares ao ar livre e camelôs de tudo quanto é tranqueira 'importada' da China.
Seguindo a linha do metrô, você pode tanto ir jantar no Lemongrass, um restaurante de comida tailandesa tradicional (isto é, apimentada até arder na alma da sua bisavó), ou no Cabbages & Condoms, um restaurante temático - o tema é camisinha -, que destina parte de seus lucros a programas de planejamento familiar. O restaurante serve comida tailandesa também, apimentada também, mas a decoração lembra um Famiglia Mancini com delírios de grandeza. É enorme, iluminado e muito legal. E bem intencionado, ainda por cima.
Mas o metrô também leva ao Mercado Chatuchak, onde convivem (leio no guia) 6 mil barracas de tudo quanto é artigo vendável: artesanato, tempero, camiseta, toalha, almofada, roupa cafona e panela de inox. De lá, pode-se visitar a Casa Museu de Jim Thompson - esse Jim era um americano que investiu na pesquisa de fiação de seda. O cara chegou à Tailândia como soldado da Segunda Guerra e acabou virando um dos maiores empresários do país, amigo da família real e dono de uma casa lindíssima. Nos anos 60, ele foi visitar amigos no interior e desapareceu. Sumiu sem deixar vestígios nem herdeiros. Por iniciativa de uma das princesas, a casa foi transformada em fundação e hoje administra a melhor loja de artigos de seda do país. E a visita à casa é muito legal - especialmente se termina no restaurante do museu, tomando cerveja bem gelada.
E entre o museu e o mercado, você desce no meio de umas esculturas modernas espalhadas pela rua. É o caso do cesto de lixo gigante, aí da foto, no qual fui parar. Nesse dia, os camisas vermelhas fizeram uma carreata pela cidade e foram bastante aplaudidos pela população pobre em geral. Com suas bandeiras vermelhas defraldadas, seu sorriso aberto no rosto e sua vontade de gritar o que pensam, eles lembravam os primeiros tempos do PT, lá nos anos 80. Agora, infelizmente, a coisa desandou. E eu confesso que saí de lá sem saber se a causa deles era justa ou não. Só sei que achei muito maluco esse número de pintar parede com sangue. Se a moda pega...
Devo declarar que se a moda do sangue pegar por aqui... peguem o meu lá na Receita Federal!
ResponderExcluirQue bom ter amigos que visitam para nós esses lugares. E ainda por cima mandam notícias, anotam memórias. Faço minhas as suas memórias de Bangcoc ora em diante.
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