quarta-feira, 12 de maio de 2010

Coisinha do pai



Não deve ser obra do acaso a presepada do Romeu Tuma Jr. misturar-se à indignação nacional com a seleção escalada por Dunga, entremeada por gangues de PM exterminando motoboys e matadores dando cabo de mendigos no Jaçanã... De cada notícia, sai um comentário, nasce um espanto, ali um fica indignado e mais adiante um outro não acha nada, porque essas coisas não são com ele. Sobre os cinco sem-teto chacinados esta noite, o governador Alberto Goldman soltou uma pérola: "Eles não faziam mal a ninguém". Quando um político acha que cinco pessoas dormindo sob um viaduto numa noite de 10 graus ou menos não fazem mal a ninguém - nem mesmo a quem deveria se importar com isso - é sinal que a coisa anda feíssima.



Tuma Júnior, com seu visual de dono de estalagem medieval, saiu da sombra do pai para estrelar um quadro do Casseta & Planeta. Ou do Zorra Total. Quem sabe, mesmo, uma cena no programa do Ratinho. Não é possível criar uma trama mais absurda do que a do encarregado de combater a pirataria ser unha-e-carne com o principal muambeiro do país. E agora, caído em desgraça, Tuma Júnior estrela qualquer acusação - da forçação de barra pro namorado da filha ser aprovado num concurso público (vejamos a coisa pelo lado bom: ele está zelando pelo futuro da menina) ao roubo de merenda em algum creche do Amapá, a coisa vai sobrar pra ele.

Só não vai sobrar pro pai, porque o delegado e senador Romeu Tuma tem uma folha corrida cheia de elogios e tapas nas costas e do que se convencionou chamar bons serviços prestados ao país. Sejam ou não merecidos os elogios, o fato é que Tuma Pai sempre navegou tranquilo nas idas e vindas políticas. A traquinagem do Júnior vai abalar a imagem da família e essas coisas são danadas em agrupamentos de origem árabe.

Como cresceu em meio à noção de impunidade dos poderosos, Júnior não se abala. Oficialmente, saiu de férias para não ter de assinar o recibo de "suspenso para o bem das investigações". Era o que devia ser feito desde a primeira denúncia grave, mas o governo marcou touca, vai saber por quais laços de ternura. A troca de telefonemas entre Júnior e o chinês muambeiro é constrangedora pros envolvidos diretamente, pro governo que não tomou atitude e pro pai, que precisou vir a público declarar que a amizade sino-libanesa une as duas famílias há muito tempo. O cara foi chefe da Polícia Federal e traçava um churrasquinho com um importador de produtos ilícitos... Nem Odorico Paraguaçu chegou tão longe.

Quanto à seleção de Dunga, volto a afirmar que futebol não é minha praia. Pra mim, tanto faz se o gordo Adriano vai ou não. Se o Neymar é isso ou aquilo e se o Grafite vai se apagar na mão da primeira borracha argentina. Só sei que Dunga foi coerente com a terra em que vive. Se o encarregado de combater a pirataria compra game e celular por baixo dos panos, por que ele, Dunga - baixinho e gaúcho, ou seja, duplamente cabeça dura - vai ter de atender aos anseios da pátria de chuteiras? No Brasil, só quem leva opinião do público a sério é autor de novela.

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