terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Então é Natal...


Pode parecer uma incongruência falar de outra cidade num dia em que São Paulo amanhece submersa num mar de lama, desta vez também real. Eu deveria estar voltando meu olhar aloirado para a - digamos - administração que Gilberto, o Alcaide, tem imposto a esta cidade. Aliás, impor é um verbo bastante adequado para a (novamente, digamos) administração do presente alcaide. Nunca se lê nada que ele faça que não esteja vinculado a qualquer aumento ou criação de algum imposto. O retorno - como provam os vários mortos dessa madrugada, a situação calamitosa do transporte público, a falência de qualquer semáforo quando chove, etc - não corresponde à tara por taxas. Mas Gilberto, o Alcaide, fica para outra hora.

Desta vez vou falar de Natal, onde passei agradáveis dias no fim do ano. Natal, a ensolarada capital do Rio Grande do Norte, tem como - digamos - administradora uma certa Micarla, cuja popularidade só faz cair entre todas as classes sociais. Como tenho vários amigos ligados ao PT e aos partidos de esquerda, minha tendência natural seria achar que eles estavam pegando no pé da pobrezinha. Estão, mas motivos não faltam.

Durante as caminhadas para acessar a Praia de Ponta Negra, prestando a maior atenção no calçamento para não enfiar o pé em inesperados e imensos buracos, pensei no desconforto que é viver numa cidade turística que não dá a menor pelota pro bem estar do visitante. Se não há sequer interesse em bajular quem traz divisas pros cofres municipais, o que esperar do tratamento dispensado aos nativos? Policiamento nas praias, por exemplo, é outra ilusão de ótica. Em uma semana, a única viatura que vi em Ponta Negra foi dos bombeiros, que estava passeando pela areia, sem pensar que carros em movimento não combinam com turista deitado ou criança brincando na areia.

Nesse ponto, Natal - que é, repito, uma cidade agradável, bonita, gostosa de passar uns dias - retrata o Brasil: para nós, que deveríamos saber viver da chamada indústria do turismo, o que menos interessa é tratar bem o turista. Quando o sujeito é colocado num hotel da Via Costeira, uma avenida bem desenhada, localizada ao longo do litoral, ele pode até pensar que tirou a sorte grande. Afinal, um visual daqueles, com o Morro do Careca reinando absoluto à direita, não se tem a todo instante. Pena que, para se locomover entre as atrações, apresentam-se ao turista (e, por tabela, aos nativos) duas alternativas: o ônibus, uma só linha, com intervalos médios de 30 minutos e uma lotação de matar o metrô paulistano de inveja... Ou o táxi, cuja bandeirada começa alta e assim prossegue até o fim da corrida. A impressão é que o gasto mínimo de táxi em Natal gira pelos 30 reais. É caro, pra distância percorrida.

A ideia que sustenta esse serviço caro é simples, básica, quase comovente: o turista deve ser depenado, escalpelado, depilado, despido de todo o dinheiro que trouxe para a nossa cidade. Como contrapartida social, oferecemos a praia, a areia, um serviço de barracas irregulares e sem o mínimo de higiene - banheiros, pra quê? Cobraremos o aluguel das cadeiras de plástico (R$ 10 ou 15 reais, caso você queira mesinha e guarda-sol) e, se o fornecedor acordar cedo, teremos coco gelado. Se não, não. Policiamento, bobagem. Mas caso o amigo esteja interessado dispomos de meninos e meninas prontos para o que der e vier.

Volto a insistir, Natal é uma delícia de lugar e passar algumas horas refestelado em Ponta Negra faz a gente esquecer da vida. Curtir o cardápio temático do Bar do Rei Roberto Carlos ou comer as tapiocas da Casa de Taipa, a carne de sol do Farofa d'Água e do Farol e os inesquecíveis crustáceos do Camarões Potiguar são atividades que valem a viagem. Mas entre uma refeição e outra, o turista se sente o próprio pato. É assim em várias cidades brasileiras e, pior ainda, é assim com quem vive e labuta em sua cidade. Eu acredito firmemente nisso: o modo com que tratamos o visitante reflete a maneira com que cuidamos de nossos moradores. A diferença é que visita vai embora e, no máximo, vai choramingar as pitangas em algum blog.



10 comentários:

  1. É triste, Mario. Estive em Natal pela última vez em 1993. Um dos lugares onde fui mais bem tratado como turista. Um lugar delicioso, com pessoas simpáticas e educadíssimas e uma comida maravilhosa. Violência quase inexistente. O tempo passa e o Brasil piora (à medida que melhora, o que é uma terrível contradição). Salvador, onde nasci e onde vivo, é uma cidade em ruínas, assolada pela violência, pela estupidez coletiva e pela desigualdade. O restante do Nordeste, antes tão gostoso, vai seguindo o mesmo caminho.

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  2. na época q meu amigo esbraveja a inundação no condomínio da m boi mirim, li na exame q o prefeito em junho estava em brasília para tentar interferir no projeto de lei q estava em votação para aumentar o tempo para o pagamento dos precatórios. se o condomínio fosse nos jardins ele já tinha enviado batalhões de limpadores de ruas pra ajudar o condomínio a tirar a lama. beijos, pedrita

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  3. Vianinha,vc sintetizou o que eu presencio todos os dias.Natal realmente é uma cidade bonita,agradável,com seus camarões e carnes de sol,faz o quidim dos turistas.Mas é preciso cuidar da cidade,e esse cuidado não existe,a cidade nessa administração Micarla de Sousa caminha para o caos,a revolta é geral,chega a quase 80% a rejeição a prefeita.Esquecendo essas mazelas,porque esses desgovernos passam, a cidade resiste, estamos aqui sempre esperando vc e Wanderley porque a nossa cidade a gente também inventa.
    Bjssssss

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  4. Não se preocupe caro Mário Viana.

    Dias piores virão para o RN e para Natal.

    O que esperar de uma cidade que, mesmo sendo contemplada para receber alguns joguinhos da Copa de 2014, ainda tem gente (José Agripino, o vice-prefeito, dirigentes do américa, donos do Carnatal) trabalhando para que isso não ocorra?

    Como natalense, sinto vergonha do caos que Natal e o RN vivem.

    Micarla foi a maior catástrofe para a minha cidade.

    No entanto, o RN como um todo continuará a viver tempos caóticos, principalmente com a volta da "turma do Agripino" ao Executivo Estadual.

    Aliás, boa parte da trupe que estava desgovernando Natal junto com Micarla (ela foi uma criação de Agripino) foi para o Executivo Estadual.

    Gustavo Lucena

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  5. Mário, belíssima síntese de "nossa" cidade. Nasci no interior do RN e moro em Natal desde 89. A cidade já foi bem mais cuidada, bela e simpática. Continua muito bela e simpática, com um povo extremamente acolhedor, porém, o descalabro administrativo é enorme, além de que os custos de vida aqui sobem a valores completamente descompassados com a inflação e até mesmo quando comparados a cidades de mesmo porte, como João Pessoa. Tudo aqui é mais caro, desde imóveis a pequenos serviços.

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  6. Infelizmente o povo daqui confundiu urna eleitoral com vazo sanitário durante as eleições municipais. Para PResidente e governado o povo continuou cag&$#%@ nas urnas...Os indicados do Zezinho Rabo de Palha saíram vencedores.
    Resultado disso tudo é um caos que Natal nunca tinha visto, mas, como disseram acima, a cidade sobreviverá e espero que o povo não acredito mais em contos de fadas!
    De qualquer maneira Natal ainda tem uma qualidade de vida excepcional!

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  7. Se você ama nossa cidade, colabore com Natal. arremate a "Pió" prefeita e livre a municipalidade.
    http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-168135518-vendo-prefeita-de-natal-micarla-de-souza-_JM

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  8. Ei, vários comentários de natalenses mesmo! Legal! Olhem, como eu conheço Natal desde 1984 e sempre me senti bem lá, recebam minha solidariedade nesse período de gestão tumultuada (pra ser elegante e não receber processo... rs).
    Agora, comprar a prefeita, não vai dar. Já tenho um aqui em SP que só dá trabalho, desgosto e dor de cabeça.

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  9. Natal é uma cidade hipócrita, vive de aparências, é uma cidade que ainda se utiliza de sistema ultrapassados de coleta de esgotos, apenas 40% da cidade é saneada. Significa dizer que Natal está fincada na merda.

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  10. Mário:
    Vc começou falando do alcaide paulistano e depois passou a contar suas agruras como turista em Natal!
    Sei bem o descaso com o visitante q nossas capitais nordestinas dispensam... uma lástima!
    Já sobre o alcaide, além das taxas (IPTU, ônibus, táxi) que aumentaram acima da inflação, ele desaparece nos tempos de enchente! E sabe o q ele está tramando nesse início de ano? Um novo partido para assegurar sua intenção de se candidatar a governador! Pode? O povo e a cidade literalmente debaixo d'água, e o mocinho correndo atrás de legenda partidária para novo cargo! Não é o máximo do absurdo?
    Mas levemos a vida (ou deixemos q ela nos leve, como canta o Pagodinho!)
    Bjs
    Maurício

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