
Já li e ouvi algumas pessoas falando mal de "A Fita Branca", novo filme do suíço Mikael Haneke. Eu estou no time dos que gostaram - e gostaram muito - do filme (foto) Com menos entusiasmo, gostei de "Um homem sério", dos irmãos Cohen. Os dois filmes me conquistaram por suas cenas finais e, em especial, por deixar muita gente na plateia com cara de ovo frito. "O que aconteceu?" foi a primeira pergunta que mais ouvi. "Isso lá é fim" foi a segunda. A cada manifestação dessas, eu gostava mais de cada filme.
Tem um filme famoso dos anos 70, que nunca vi nem sei o nome, mas lembro do impacto que me causou a cena final (que, obviamente, me contaram): pra decidir a grande questão do filme, o personagem joga uma moeda pro alto, vai resolver no cara ou coroa. E a imagem congela com a moeda voando no espaço. Tchau e bênção. Desde esse dia eu gosto de finais assim, que deixam na boca o gosto de continuidade - mais ou menos como os finais dos melhores contos de Lygia Fagundes Telles.
Mas parece que a plateia de hoje não é muito chegada a essa múltipla escolha derradeira. Quer o final explicado, definido, de preferência feliz. Não há espaço pra dúvidas, dilemas e quem-sabes. Talvez houvesse se a pessoa não passasse metade do filme mandando twitters ou torpedos ou atendendo o celular ou comentando qualquer coisa com a pessoa do lado. A necessidade neurótica de estar conectado 24 horas com o mundo acaba dispersando as atenções e impedindo qualquer concentração. Daí, a obrigatoriedade de um final claríssimo.
A tecnologia avança a passos cada vez mais largos e qualquer novidade às 10 horas já se tornou obsoleta ao cair da tarde. Pior, estamos aplicando essa velocidade em nossa vida. Não temos tempo de ouvir, falar, ver, amar, nada. Não temos paciência para entender que o Outro é diferente e nem sempre concorda conosco. Buscamos nossos Iguais, no sentido mais rasteiro do termo. Qualquer sinal de diferença acaba em afastamento imediato, quando não em troca de insultos.
Um bom exemplo é o twitter. Hoje, recebi vários posts de um ator amigo, declarando sua aversão a Dilma, Lula, PT, etc. Vários, dezenas de posts. Respondi com apenas um: "Democracia é bom, mas dá trabalho. Eu não voto em tucano". É uma opinião minha, exclusiva, mas que achei legal partilhar com quem estava dando a sua. A resposta foi um silêncio sepulcral. Será que o fato de votar no outro candidato, torcer pro outro time ou preferir outro gênero musical vai nos afastar tanto assim uns dos outros?
Eu não quero nem faço questão de viver rodeado de quem pensa como eu. Deus me livre. Ter opinião e defendê-la não significa construir uma barricada que impeça a entrada dos 'inimigos'. Hello, pessoas: não há inimigos. Não neste campo, pelo menos. Podemos conviver com o diverso, foi pra isso que lutamos, acho eu. Não precisamos de finais de filme engessados, mas podemos ter aqui e ali, pra quem goste. Não é isso que vai fazer o filme melhor ou pior, no fim das contas. Podemos e devemos ter nossas preferências. Melhor ainda, devemos manifestá-las sem medo nem prepotência. Mas o bom senso anda tão fora de moda...