quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Cachimbo da paz pode?


Abatida a tiros a esquadrilha da fumaça, a vida em São Paulo prossegue com as insanidades de costume. Nem mesmo os destemperos verbais dos senadores, capazes de envergonhar uma convenção de pedófilos, conseguiram incendiar tantos corações. Os comentadores deste blog merecem os parabéns - com uma ou outra exceção, foram de uma finura exemplar e democrática. Se alguém der um pulinho no blog do Marcelo Rubens Paiva, poderá ler comentários raivosos, escritos por gente disposta a matar com requintes de crueldade o primeiro fumante que cruzasse seu caminho. Coisa mais feia.


Na vida real, ocorreu uma descoberta inesperada depois da proibição de fumar em ambientes fechados: fumantes falam. Incrível o topete dessa gente. Eles saem de onde estavam e vêm para a calçada fumar - e conversar! Uns até se paqueram. Psiu neles! (Alô, alô, galera da Gambiarra: todo meu apoio contra o exibicionismo autoritário do fiscalzinho que os atacou domingo, usando a lei anti-fumo como desculpa)


Mas uma coisa que a severidade da lei não previu: onde os fumantes vão jogar suas bitucas? As calçadas têm amanhecido sujas. É capaz de Gilberto, o Alcaide, baixar uma norma obrigando cada fumante a sair com uma pá ou uma latinha pra colher as próprias bitucas - algo parecido ao que os donos de cachorro (os educados, pelo menos) carregam quando levam seus totós pra fazer totô.


Na mesma semana em que a lei seca dos fumantes começou a valer, fui assistir um concerto na Sala São Paulo. O maestro Zubin Mehta regia a Filarmônica de Israel tocando a Sétima Sinfonia de Beethoven. Quer coisa mais sublime? Pois na minha frente, um sujeito com cara de não-fumante passou toda a primeira parte do concerto mandando torpedos pelo celular. A rigor, eu não tenho nada com a carência tecnológica do rapaz, mas a luz do celular em salas de espetáculo me incomoda. Eu estava lá pra ver o maestro, a orquestra e aquele contrabaixista brasileiro, que saiu de uma favela paulistana pra viver em Tel Aviv (meu Deus, como ele consegue viver numa cidade tão perigosa, com atentados que podem tirar a vida de qualquer um a qualquer instante? estou falando de Tel Aviv).


Pedi pro rapaz interromper o colóquio torpedístico. Foi tudo educado. Ele parou, mas olhou feio. Era capaz de, numa enquete, eu ser o linchado da dupla. O rapaz saiu da sala e, na volta do intervalo, veio acompanhado da namorada. A cretina se atrasou (pra colocar aquela roupa, francamente, não precisava nem ter acendido a luz do quarto, quanto menos perder a hora) e certamente entrou em pânico pra chegar na Sala São Paulo. A noite continuou sem transtornos, mas eu pensava que, assim como a fumaça de cigarro incomoda os não-fumantes, a falta de educação e civilidade também atrapalha os vizinhos.


O que, em nome de Deus, impede uma pessoa de desligar um celular durante um filme, um show, um concerto, uma missa...? Que desesperada necessidade de estar na outra extremidade do fio é essa? O espaço alheio não é invadido apenas por barulhos na madrugada ou fumaça de cigarro. As mesmas pessoas que vociferam contra uns, muitas vezes, cometem indelicadezas do tipo contra outros.


Já vivemos dias difíceis o suficiente: não podemos beber e dirigir (ok, isso é bom), nem fumar, nem falar na calçada, nem mesmo abraçar ou beijar quem nos interessa - vai que pega a suína? Deixem, pelo menos, que eu ouça o Zubin Mehta tocar o allegretto da Sétima Sinfonia... sem interrupções de celular tocando, tuíter em ação ou a velha e famigerada balinha embalada em plástico.


Acima de tudo, seria muito importante que nossos legisladores dessem algum bom exemplo que fosse. Dessem e não só cobrassem. Rigorosa por rigorosa, a lei anti-fumo na China é bem mais radical: não se pode fumar nem mesmo ao ar livre, caso o espaço seja o de um parque municipal (um Ibirapuera, um Trianon, por exemplo). Em Macau, não se pode nem mesmo atirar o chiclete mascado no lixo sem antes embrulhá-lo em papel higiênico (há multa alta pra quem for pego cuspindo o chicletinho no lixo - cuspir na rua nem passa pela cabeça deles).


No Oriente, é tudo policiado, vigiado, punido com rigor. Mas político que é pego roubando pede demissão numa vexatória cerimônia pública. Uns até se matam com transmissão ao vivo. Se certos exemplos fossem copiados, ia faltar caixão no mercado.


14 comentários:

  1. Mário,
    Consegui ter acesso aos torpedos do rapaz e vou trasncrevê-los aqui para você. Não me pergunte como consegui: tenho minhas fontes!.

    Ele estava torpedeando com a namorada que ficou do lado de fora porque chegou atrasada. Vamos lá:

    Ela: Benhê, eu cheguei e uma mocreia não me deixa entrar. Diz que depois que o badalo toca, ninguém pode entrar.

    Ele: Que merda. Eu tô aqui sozinho escutando essa porra dessa música escrota. Que pora de badalo é esse?

    Ela: Eu não queria vir. Você que insistiu. Podíamos ter ido no aniversário da Ju.

    Ele: Você sabe que eu não gosto daquela vaca e daquele namorado dela com cara de porquinho.

    Ela: Mas mô, ela é minha melhor amiga. Tá foda ficar em pé aqui de salto alto. Esse lugar também é muito frio.

    Ele: Perá aí que tem um FDP enxendo meu saco aqui. Tem cara de fumante!

    Ela: Coitado de você, sentado do lado dessa gentinha com bafo de cigarro.

    Ele: Tou me controlando para não mandar o cara tomar no cu. Ouvindo essa bosta dessa musica e ainda esse puto me passando sermão. Vou desligar. TOu com vontade de dar umas porradas nele.

    Ela: Mas benhê, o que vou ficar fazendo aqui sozinha? Falta muito para acabar?

    Nesse ponto a transmissão foi interrompida...

    ResponderExcluir
  2. Amanheci ouvindo "Apesar de você", acho que por inspiração desses tempos bicudos. Estamos contruindo o Brasil, com a oportunidade de transformá-lo em tolerante e justo, mas o que tem prevaleccido é país ignorante-analfabeto, mero consumidor das casas bahia ou da Daslu. Proponho e me disponho a participar da resistência. Amigos, declaro: depois de fundar o PT vou votar na Marina. Esperança é mais importante do que desenvolvimento.

    ResponderExcluir
  3. Tenho dificuldade em me tornar alguém acessível 24h/7dias, alguns amigos reclamam quando não atendo celular, chegando a questionar pra que ter o aparelho e que é falta de educação não atender. Percebo que no cinema o hábito nem é desligar o aparelho mas deixar no silencioso. Uma vez questionei um amigo porque ele não desligava, ele alegou que tinha que ficar acessível o tempo todo caso a mãe ligasse numa emergência. Detalhe: ele morava no Rio e a mãe em Belém. Acho que se inventou uma cultura do instantâneo, tudo tem que ser experimentado "ao vivo", senão não vale, senão você perde o timing, fica obsoleto, é o "live" que a cnn inventou, são os blogs que correm pra dar a notícia primeiro, é o mp3 não finalizado "roubado" do estúdio onde o artista está gravando o cd, é o tmz se gabando de ter revelado primeiro a morte do rei do pop, é gente comprando monografia em faculdade, é a ejaculação precoce de toda uma sociedade. Quem vai perder tempo sob o risco de ser deixado prá trás feito um dinossauro jurássico?

    ResponderExcluir
  4. Maria Ester,

    Cuidado com a candidatura Marina. Pessoalmente, nada contra a senadora (a não ser o fato de ser evangélica e ser contra o aborto e outros avanços da medicina que não são permitidos hoje às mulheres e ao resto da população).

    Todos os jornais estão apoiando a Marina, todos os colunistas neocom estão apoiando, todos os leitores reacionários que escrevem para todos os jornais (cartas selecionadas, claro) estão a favor.

    Nesse caso eu sou do contra. Desconfio dessa campanha toda. Não podemos ser ingênuos, depois de ter ultrapasado os 40 anos e ainda estarmos com o fígado e os pulmões em dia.

    Daqui a pouco você vai ver as seguintes pessoas apoiando a Marina: Guilherme Afif Domingos, José Serra, Kassab, ACM Neto, Arthur Virgilio. Sinceramente, não voto em candidato ou candidata apoiado por essa trempa toda. Lembro de uma frase do saudoso jornalista José de Alencar, o Zé Grandão, que nos deixou há uns dois anos. Antes de tomar qualquer decisão, ele procurava saber qual a posição do Afif Domingos. Ele dizia: "Se o Afif é a favor do cinto de segurança, eu sou contra".

    E acho que o PT tem todo o direito de pedir o mandato de volta quando ela sair do partido. Não é porque ela é boazinha que vai disputar a eleição, perder e voltar para o senado com o mandato do PT. Ela ganhou por ela, mas também foi eleita pelos eleitores do PT. E agora existe a fidelidade partidiária. Quem sai na chuva é para se molhar, vide a freirinha Heloisa Helena, que vocifera, vocifera, mas não tem nada para apresentar em contraponto ao que está aí (ela também é contra o aborto).

    Ando muito puto com esses políticos ligados à religião que estão impedindo milhares de mulheres de tomar decisões por sua própria cabeça. Quantas morrem por abortos mal feitos em clínicas clandestinas ou no meio do mato? Quantas não vão poder votar em 2010 para presidente porque estarão mortas.

    ResponderExcluir
  5. Eu também desconfio um pouco da candidatura Marina. Nada contra a moça, mas... O diacho é não querer votar na Dilma, nem pra fazer número... Pior ainda é ser contra voto nulo. Oh, God.

    Tommie, gostei da análise!!! Ejaculação precoce da sociedade é ótimo. E a onipresença do seu amigo, também, sensacional. Vc é "assim" com Deus e não sabia!

    ResponderExcluir
  6. Amigos eu vi e ouvi.

    Certa vez, em jantar na casa da presidência da Câmara ouvi Marina Silva encarar o Zé Dirceu e a todos e dizer com todas as letras: "Não vim para o governo para fazer jardinagem". Por pouco ela não saiu, logo no começo, por causa da aprovação dos transgênicos.
    Ela deixou um governo que tem 80% de aprovação. Teve peito, coragem e desapego para fazer uma coisa dessas. Não se seduziu pela popularidade do chefe nem pela comodidade do poder.
    É a politica mais inteligente e sensível que já oportunidade ouvi falar, tem personalidade e sabe dialogar. Coloca Dilma, Marta, Gabeira, Aécio,no bolso.
    Ela é diferenciada, tem muita capacidade, acredito nela, sem fantasiar, apenas por enriquecer esse debate desenvolvimentista chato SerraXDilma que se configurava nas próximas eleições.
    Não confundam Marina com políticos tradicionais, ela é acima da média.
    Uma política, como a Dilma, que aceita e se contenta em segurar o lugar do chefe para as próximas eleições não merece muito meu respeito.
    Tenho tempo demais de greve, ato público, e passeata para engolir o narcisismo do Lula, o nosso rei Lear. Mas aguardemos os acontecimentos.

    ResponderExcluir
  7. Bacana a sua análise, Ester, maravilhosa a frase da jardinagem, mas ainda assim não me convenço. Vamos dar tempo ao tempo. A coisa tá no começo.
    O Rei Lear se fodeu porque dividiu o poder pensando que manteria a autoridade. Não sei se é o caso do Lula. É?

    ResponderExcluir
  8. A Marina escreveu um artigo na Folha falando do Rei Lear, uns acharam que ela falava do Sarney, mas há quem aposte que falava do Lula, por isso citei. O apego do Lula ao poder me decepciona, acho sim que ele quer deixar de ser rei sem perder a majestade, por isso escolheu Dilma. Talvez tenha fica ficado velho antes de ficar sábio, como disse o bobo ao Rei Lear. mas antes que seja massacrada nesse blog, como em outras oportunidade, ainda estou analisando, mas tendendo muito a votar nela.

    ResponderExcluir
  9. Também não vejo paralelo entre o Rei Lear e o sapo barbudo. Se ele ouvir o nome Shakespeare, certamente, por ser educado, responderá: "saúde".

    Mas falando do PV: é um partido inexistente, integrado por um monte de políticos direitistas que nunca se interessaram pela causa ecológica e da sustentabilidade.

    Acho que a Marina, numa análise que li hoje da Eliane (credo!) Cantanhede, pode se tornar o novo Cristovão Buarque. Acho que é bem por aí...

    Entendo que ela esteja magoada com o Lula, que não foi muito cavalheiro com ela, mas ela não pode fazer política com o fígado.

    E a candidatura dela é insustentável. Como governará sem partido, ou melhor, com um partido que não tem quadros? Como fará alianças? Ela não dura um ano no cargo, pois nossos queridos órgãos de imprensa vão destruí-la, porque ela já teria cumprido sua função, impedir uma nova vitória do Lula. HOje falam tão bem da Erundina, mas vocês se lembram o que falavam da tia quando ela era prefeita, como era ridicularizada? A tia tem mais estofo político que a Marina e a Heloísa Helena. Eu até gosto da Marina, mas pela Heloisa tenho o mais profundo desprezo. É uma grande oportunista. Na minha humilde opinião de corintiano e sobrevivente da segunda divisão.

    Mas eleição é assim. Votamos no que está aí. Escolhemos na prateleira. Por isso sou contra o voto obrigatório. Cada um vota de acordo com sua consciência. E, ao votar, eu acaba pensando mais nos outros do que em mim.

    ResponderExcluir
  10. Em tempo, Vita

    Eu acreditei na Marta que se dizia a favor do aborto e contra a discriminação sexual.
    Na última campanha ela mostrou oq ue foi capaz de fazer por uns votinhos de merda, pregar a discrimação ao insunuar que Kassab é gay.
    Para eu admirar um politico hoje em dia ele não precisa pensar como eu que sou a favor do aborto e e pelo laicicismo na política, assim como você.
    Adoro os seus comentários, não sabia que você era tão inteligente, com todo respeito a companheira Neusa (rs).

    ResponderExcluir
  11. Ester, minha linda, como você não sabia que eu era tão inteligente? Isso é um fato público!!!! rsrsrs

    Mas, voltando à vaca fria: a posição da dona Marta, como dizia o Maluf, também me decepcionou muito. Ela queria ganhar a eleição a qualquer custo e fez essas declarações infelizes. Eu não perdôo. Nesse ponto podem dizer que sou rancoroso, porque sou. Acho que Marta é carta fora do baralho e terá que se contentar em se eleger deputada ou vereadora. Acho também que o Supla Dylan, de quem eu gosto, não vai se reeleger por conta da cagada que fez ao levar a namorada para Paris com dinheiro público. A mulher de César tem que ser honesta e parecer honesta. Mas, se ele fizer um mea culpa público, enfiar a faca no peito até o sangue jorrar com honestidade, talvez consiga. Mas se não fizer, corre riscos, infelizmente, porque os outros pretendentes ao cargo são lamentáveis.

    Beijos

    ResponderExcluir
  12. Li com atenção todas as opiniões dos que conheço e respeito. E também da Tommie Ohtake carioca – um primor a frase “ejaculação precoce de toda uma sociedade”!
    Eu gostei da saída Dilma assim que foi proposta. Alguém que faz a FIESP tremer merece meu respeito, mesmo sem uma análise mais aprofundada. Das Marinas e Heloísas ando meio de saco cheio. Na minha humilde maneira de encarar as coisas políticas desta republiqueta, as duas são fruto de uma mesma sociedade, que abomino, machista e igrejeira que é.
    Depois do debate saudável neste blog memorável, estou a considerar o MEU voto nulo. Ao contrário do MV, acho que é uma saída mais do que política. Quem foi que disse que o voto em algum candidato é obrigatório? Nunca foi para mim, mesmo votando corretamente estes anos todos. Mas não estou aqui fazendo campanha do ‘Cansei’; estou lhes falando sobre uma hipótese. Mas acho que não podemos ficar só no plano institucional, precisamos de ações concretas. Já reservei um taco de beisebol no submarino! Às ruas, companheiros!

    ResponderExcluir
  13. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  14. Ana

    Democracia é a maior conquista da nossa geração. Não nos esqueçamos do trabalho quedeu para alcançá-la e do fundamental que é para o Brasil, mantê-la.
    Mas acho que votar nulo tb é fortalecer a democracia, nada contra.
    Só não concordo em voce colocar a Marina Silva e e a Heloisa Helena no mesmo saco.
    Ana, se você conhecer a Marina, seu bom homor, inteligência feminina e delicada, mas aguerrida como um hércules, você concordaria comigo.
    Eu sou figurinha carimbada do PT, inclusive trabalhei lá por duass vezes, prefeitura, governos, várias e fui até para Brasilia,sou amiga de muitos dos seus quadros.
    Igual a Marina não tem. Quando tiver alguma reunião com ela, vá conhecê-la, você vai se surpreender eu garanto.
    bj

    ResponderExcluir