quarta-feira, 15 de julho de 2009

Você não vale nada...




Sei que não é muito elegante falar da concorrência, nem é muito inteligente, porque chama a atenção justamente para a concorrência. Mas o fato é que há algum tempo me dá certa coceira aquele forró gostosinho, "Você não vale nada, mas eu gosto de você", que martela os ouvidos de quem assiste "Caminho das Índias". A música é tema de um dos personagens mais engraçados da trama, a Norminha, vivida com exuberância de curvas por Dira Paes.




O resumo da ópera, pra quem não vê a novela, é o seguinte: Norminha é casada com um guarda de trânsito xarope, mas de bom coração. Toda noite, ela serve leitinho morno pro marido, temperado com sonífero. O guarda cai no sono e Norminha cai na farra. Acaba seduzindo um adolescente indiano com nome de prato do Almanara. Noite após noite, Norminha desmente o nome, descendo a rua, sendo vista pelo rapazinho a ajeitar os peitos dentro do sutiã rendado - e dá-lhe forró. "Você não vale nada, mas eu gosto de você..."




Como eu vejo a novela muito de vez em quando, não sei detalhes da trama. Mas me incomodava o fato de uma mulher que pula a cerca de maneira bem humorada "não valer nada" em rede nacional. Tudo bem, traição é sempre algo ruim, especialmente se você é a parte traída. Mas escapar do casamento meia-boca é não valer nada? Agora, a coisa piorou. Li que Norminha será castigada pelo marido, levando uma surra pública e exemplar.




O humor físico, desde Buster Keaton e Três Patetas até o Kramer, de "Seinfeld", volta e meia apela para surras, tapas e pescoções, com resultados hilários. A história deixa de ser bem humorada quando a violência é usada como solução moralizadora. A quem interessa que Norminha leve uma surra? Às donas de casa fora das medidas curvilíneas e sem condições de exibir os peitos em sutiãs rendados? Aos maridos dessas mulheres, que condenam a assanhada, mas apreciam uma vizinha que o seja? Aos guardas de trânsito?




Norminha é um personagem engraçado e a brasilidade explícita da atriz bane pra longe todos os arebabas e narrins da novela. Não sei quando será o linchamento moral da assanhada Norminha. Para ter algum fundamento prático, poderia ser no mesmo dia em que forem descobertas todas as mentiras contadas pela mocinha, Maya. Seria um paralelo interessante: mostraria que o olhar retrógrado não mora apenas na Índia. Está também em nossos bairros mais populares, em condomínios de luxo, em praças, parques e shoppings. Muitas vezes, está nos consultórios como o da psicóloga carioca que trata homossexualismo como doença e advoga teses que o papa Bento 16 acha meio conservadoras. O nome da moça, guardem, é Rozângela Justino - o sobrenome só pode ser ironia.


14 comentários:

  1. eu não tenho muita paciência com caminho das índias. raramente vejo algo. essa música está no filme chega de saudade da laís bodanski. beijos, pedrita

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  2. Eu também não vejo ESSA novela (rs), mas acho que o problema é ser escrita pela Glória Perez, rasa e machista. Se Norminha caísse nas mãos de Gilberto Braga ia estourar como a Bebel (Camila Pitanga). Talvez ajudasse ter um par à altura. O indiano mocinho é bonitinho, mas ...

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  3. kkkkk Esse pedaço de letra de música, come o cérebro mesmo!!
    bjs

    Tati

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  4. humm... eu só ouço comentarem que a personagem não faz nada, não tem 'função' nenhuma na trama; aí fica sem 'defesa' porque é só a traição. Pena porque a Dira é ótima atriz...

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  5. Acho o personagem ridículo e esteriotipado, sorry.
    Gloria Perez prá variar , faz novelas rasas e sem pé nem cabeça. Como disseram aí em cima, é um personagem fake.
    A música também é um pé no saco.
    Não gosto dessa novela.

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  6. Sr. Mário, você é excelente, escreve muito bem, pegou na veia sobre a falsa moral. Eu não assisto "Caminho das Indias" só ví o começo, cansei, por enquanto, prefiro assistir Poder Paralelo, já tinha lido o livro e o nome da novela me chamou a atenção. Porém, em PP alguns temas também são tratados, na minha pinião, não muito adequadamente. teve cenas que insinuaram dois estupros, Buno e Fernanda, Tony e Lígia, ou seja, os próprios companheiros e não houve consequencia alguma, que dizer, companheiro pode? há cenas de agressão e troca de tapas entre Bruno e Fernanda, será que isso é mesmo necessário ou é apenas pra mostrar que no Brasil a violência doméstica é grande? as mulheres são agredidas e perdoam, também o índeice de traições nas relações amorosas é alto em PP. No mais, a novela tem um bom enredo e é bonita, particularmente, gostaria que se aproximasse mais do enredo do livro, acho que seria mais legal. Sucesso a vocês e desculpe o atrevimento do comentário. Edi

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  7. Meus queridos leitores, a ética não me deixa analisar ou dizer o que eu acho de Caminho das Índias. Estou diretamente envolvido com Poder Paralelo - Edi, gostei do seu comentário; essas cenas foram muito discutidas entre a equipe de autores - e só posso dizer uma coisa: meu gosto novelístico pessoal passa muito, mas muito longe do Rio Ganges. Are baba.

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  8. Olá Mário,posso chamá-lo sem o "SR"?. Como sou só telespectadora, posso falar bobagens. Imagino que até o próprio Ganges passa longe dos "Caminhos". A equipe de PP está de parabéns pelo trabalho. Eu me coloquei o desafio de assistir o máximo que puder, quero ver o desenrolar da abordagem sobre Estado e corrupção. Acabei na torcida de Lígia e Tony, acho que Lígia precisará ler "A Arte da Guerra" de Sun Tzu para enfrentar a disputa com Fernanda. Edi

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  9. Edi, sem o sr., por favor! Lígia ainda vai penar muito... onde já se viu mocinha de novela ter as coisas de mão beijada?
    Mas eu acho o casal Fernanda e Tony um arraso! Eles transpiram desejo um pelo outro.
    E se vc prestar muita atenção, o Tony nunca falou eu te amo pra nenhuma das mulheres dele - nem pra que explodiu, coitada.

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  10. Mário, vc é D+. OK! Se fosse diferente não seria novela, claro. Porém, as personagens são construidas segundo seus autores. POR FAVOR! só uma coisa, não façam da Lígia uma "delatora", se não for só pela personagem, que seja pelas mulheres. As mulheres são capazes de gruardar segredos e enfrentar seus algozes com altivez. Qdo eu for a São Paulo e tiver algum trabalho seu em cartaz, irei assistir. Desculpe tomar seu tempo com esses comentários, mas, obrigada pela atenção. Saudações, Edi

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  11. Edi, espero mesmo que vc consiga assistir alguma peça minha. Mas nada impede que um grupo de sua cidade queira montar. Por que não?

    Não sou o Lauro Cesar, portanto, não posso responder pelas personagens. Mas é difícil imaginar a Lígia uma delatora. Ela é íntegra, ética - seu defeito é se apaixonar por um possível chefe mafioso. Já ouvi mulheres reclamando dela, pq uma Mulher Moderna não pode abrir mão tão facilmente de sua vida, seu emprego, por causa de um homem. Longa discussão. Mas ela tá voltando à ativa jornalística e, posso adiantar, vai ter MUITO trabalho nas próximas semanas, coitada.
    bjs

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  12. Mário, aqui em Goiânia não temos muitos grupos de teatro, mas sempre há a possibilidade. Ficarei atenta a uma possibilidade, é uma boa idéia e seria um prazer ter uma peça sua aqui. Bjs, Edi

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