quarta-feira, 29 de julho de 2009

Rubinho, o Grande Personagem


Tenho um entendimento de Fórmula 1 muito próximo do que conheço de Física Nuclear Avançada. Ou seja... necas. Mais ainda: dedico ao "esporte da velocidade" o mesmo interesse febril que tenho por boxe tailandês ou o cultivo de ruibarbos no País de Gales. Mesmo assim, não consegui ignorar o acidente que juntou, a mais de 250 km por hora, a testa de Felipe Massa ao parafuso de Rubens Barrichello. O acidente acompanhado ao vivo pelo mundo inteiro teve de tudo um pouco: drama, comédia, pastelão e ameaça de tragédia. Até o momento em que escrevo, Massa se recupera bem num hospital militar da Hungria. Bom pra ele e pros seus fãs.


Meu interesse, no entanto, recai sobre o dono do parafuso solto, o nosso Rubinho Barrichello. Como não gosto nem me interesso por corridas, atrevo-me a concluir que Rubinho é um bom piloto. Deu azar de despontar depois de Ayrton Senna, tido e havido como um dos grandes no ramo - e morto de maneira trágica, em plena corrida. Mas o assunto é Rubinho: nenhuma escuderia investiria milhões de dólares num roda-presa qualquer. Mesmo assim, o ufanismo verde-amarelo não perdoa: Rubinho é sempre motivo de piada. Mas que ele dá motivo, isso dá.


Rubinho sofre do que eu chamo de Síndrome da Mão na Bunda. Sabe aquele menino chorão, que sentava nas primeiras filas - mas nem por isso tirava boas notas? Aquele menino que era o último a ser chamado pro time de futebol... Que quando havia festinha, era sempre convidado com um displicente "aparece também"... Que, em toda brincadeira mais física dos meninos, era sempre o que mais levava mãozada na bunda? Pois é. Pra mim, era ele.


Rubinho tem sempre uma cara de choro. Está sempre sendo vítima de algum complô multinacional para afastá-lo da corrida. E raras vezes chegou ao topo do pódio - e dizem que, quando chegou, teve vertigem por conta da altura. Frequentemente, ele chega em segundo lugar. Mas um levantamento anunciado pela BandNews FM informa que, na história da Fórmula 1, Rubinho é o segundo colocado em segundos lugares. Agora, vem a história do parafuso. Não foi culpa dele, evidente. Mas que rende piada, rende...


Não conheço o homem Rubens Barrichello, só sei da sua vida o que a Caras mostra de vez em quando. Mas o personagem que se pode criar a partir do que é mostrado nas corridas é estimulante. Se tivesse índole trágica, Rubinho seria Iago, o mais genial vilão criado por Shakespeare. Invejoso, traiçoeiro, ardiloso, Iago põe em movimento a tragédia de "Otelo". Se fosse mais próximo da comédia, haveria sempre uma vaga para Rubinho nas peças de Moliére.

Mas na verdade o que Rubinho é... é um sujeito igual a muitos de nós, que mais perde do que ganha... e que, quando perde, não posa de derrotado olímpico, não: ele chora, como qualquer um de nós choraria.


Somos mais rubinhos do que gostaríamos. Como num poema de Fernando Pessoa, nós adoraríamos ser campeões em tudo, sem nunca ter levado porrada nem ter chorado em público. Queremos todos ser Ayrton Senna, Lewis Hamilton ou Michael Schumacher. Esses, mesmo quando perdem, mantêm o olhar de campeões (isso é uma arte de sobreviver na selva urbana). E, no entanto, rimos do bom que parece fraco - talvez porque "segundo colocado" é o que não chegou a primeiro... Rimos do espelho que Rubinho nos mostra, porque rimos sempre de nós mesmos.


Se não tivesse colocado em risco a vida de Felipe Massa, o parafuso do Rubinho teria sido a grande piada nacional. A malandragem brasileirinha contra a empáfia italiana da Ferrari. O truque escondido no chapéu de palha do Jeca Tatu, capaz de desmontar a cartola dos europeus. O drible torto de Garrincha versus a fofice bem comportada de Kaká. Se não se parecesse tanto com todos nós, Rubinho seria o macunaíma de capacete, herói veloz da nossa gente... E Massa, o menino fofo que deu azar de ficar na frente do parafuso.


p.s. A foto, de minha autoria, foi tirada num shopping center de Hong Kong. Piada pronta.

22 comentários:

  1. O Rubinho se fodeu quando declarou que o contrato dele coma Ferrari exigia que ele desse passagem para o Schumaker e, numa corrida ele que era lider,deixou o alemão passar, na última volta.
    Perdeu o respeito, virou burrinho Barrichelo. pé-de-chinelo, por ai a fora. Tivesse ficado quietinho e disfarçado a ultrapassagem, simulado uma perda de rendimento do carro, talvez hoje ele fosse outro personagem.

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  2. Eu que me interesso desde pequeno por Fórmula 1 e portanto concluo, entendo mais que você, ainda não tinha pensado nisso. Rubinho, somos nós quase todos, que não chegamos em primeiro, não somos campeões, mas estamos na vida correndo. No circo da F1 não tem ninguém bobo. Todos são muito bons e chegar em segundo, é melhor que terceiros, quartos, etc. A vida não é feita só de primeiros lugares. Agora francamente dona Maria Ester. Prefere a dissimulação e a hipocrisia? Nesse mundo de F1 rola grana paca! Não tem nenhum santo e todos ali dá o seu quinhão para ficar por ali, ganhando muita grana.
    O que menos importa é a capacidade. Isso todo mundo tem.

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  3. Dissimulação e hipocria passam longe das minhas bandeiras, Carlos, prefiro defender criança de rua, trabalhador, meio ambiente, democracia, coisas com trabalhei durante toda a minha vida e a quais ainda me dedico. Só quis relatar o fato historico que acredito ter determinado a imagem do Rubinho.

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  4. Mário, você foi perfeito! E cada um dos comentadores disse uma verdade. Somos mais Rubinhos do que imaginamos e somos mal resolvidos com essa questão de heroísmo. Ainda vivemos uma infância tardia com essa ilusão de que um salvador da Patria, um super-herói, um Messias irá nos redimir e nos salvar de todo mal e nos colocará no lugar mais alto do pódio. Tenho impressão de que Rubinho é bem mais prestigiado lá fora do que aqui e admiro sua determinação e sua capacidade de sempre dar a volta por cima. Quando todos pensavam que sua carreira terminaria ano passado, eis que ele surge na escuderia revelação do ano. Pode não ter uma estrela de campeão como Senna, mas sem dúvida, é um grande cara! Gosto dele.

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  5. Ueba, polêmica!!!! rs.
    Ester, eu entendo o seu primeiro comentário como uma confirmação - e não uma negação - do que eu escrevi. Até nesse momento Rubinho se revelou "brasileiro como eu, como nós" - citando Mário de Andrade. Pensa bem, lembra dos seus vizinhos, amigos, parentes, conhecidos e até da gente mesmo... quantas vezes nós não caímos de admiração e respeito pelo 'de fora'? A gente é treinado pra - ao mesmo tempo em que cultiva um verde-amarelismo radical - ser reverente com o que vem de fora. Deve ser informação herdada dos tempos coloniais. Ester, vc é formada em História, sabe mil vezes mais que eu sobre isso.
    Vitor e Carlos, adorei vossas participações. Prossigam!!!

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  6. Eu, projeto frustrado de historiadora, que até hoje acho estranho quando me chamam de jornalista, devo dizer que brasileiro é bobo, mas não é burro. Não dá mole para quem vende a alma ao capeta e ainda conta, querendo se fazer de vítima, como fez o polichinelo. Eu me recuso a ser declarada da mesma turma do Rubinho. Não me subornaram, nem me convidaram para a festa pobre, não tive oportunidade de me vender, como ele. Por isso, como a maioria dos brasileiros sou muito exigente com meus heróis. E batendo a mola na cabeça do Massa mais uma vez ele deu passagem para o Shumacheer. Como brincava o Casseta e Planeta: sempre atrás do alemão...

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  7. Convenhamos, Ester, desta vez foi sem querer. O cara não tinha como saber que o parafuso ia bater justo na testa do anão que não troca cueca em dia de grande prêmio...

    Agora, exigente com seus heróis... forçou, comadre... bjs

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  8. Como diria a sábia, Zibia Gasparetto, nada é por acaso. E deixa eu mentir um pouco, caramba, deixa de ser patrulheiro.

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  9. Mário,
    Esse foi o melhor texto que você já escreveu aqui. O mais bem escrito nas linhas e entrelinhas. Não tem uma palavra nem parafuso ou mola fora do lugar.

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  10. O Rubinho virou motivo de chacota por marketing da televisão brasileira. Mesmo, ele sendo o anti herói brasileiro q é, o admiro muito por levar tudo numa boa, não é qlquer um q aguenta tanta chacota assim, sem ter um ataque de estrelismo.


    Tati

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  11. By the way, Maria Ester, usar frases clichês da Globo é meio q alienação total né? Logo a Globo que adora manipular o povo!!
    A imprensa não é neutra...


    Tati

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  12. Se eu soubesse que não gostar do Rubinho me vincularia ao projeto Globo eu nem expressaria minha opinião nesse blog. Sempre passei por engajada militante de esquerda depois de horas de greve, passeata, movimentos sociais. Finalmente fui desmascarada, assumo sou agente infiltrada do Irineu marinho, no blog do Mario Viana.

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  13. Ih, gente, sem clima. A Ester tem um pretérito mais que perfeito em termos de militância. E sempre, desde a mais tenra idade, teve o que se chama por aí de "opiniões próprias".
    Discordar é saudável.

    Agora, Zibia Gaspareto... ai, Jesus...

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  14. Eu não falava sério, ao citar a Zibia. Odeio auto-ajuda, e picaretagens do tipo, só estava brincando. Vou melhorar o texto, doravante.

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  15. Vc ia bem nas linhas e entrelinhs tb lidas pelo Vita, mas encasquetou de dizer que ele é como a gente (leia, nós que nunca ganhamos, etc).
    Mário Viana!!! Lembrei do meu holerite e precisei me controlar para não chorar!!
    Quisera eu fazer um contrato milionário para ser a segunda sempre!

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  16. Oi Mário. Passei por aqui por acaso, vindo do blog do Vitor Santos e gostei. Comentei anteriormente e voltarei mais vezes. Entendo que opiniões divergentes são sempre saudáveis quando a discurssão fica em bom nível. Blog interessante. Parabéns.

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  17. Carlos, volte sempre! Gostei!

    Ana, você é a primeira sempre, meu bem! É a primeira pessoa de Torrinha que eu conheço, por exemplo.
    E depois, quem liga pra holerite? Isso é coisa de paulista.

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  18. Olá Mário, acho que estou me tornando leitora de seus textos. Esse aqui está o máximo, confesso que rí bastante enquanto lia. Você conseguiu dizer o que a maioria pensa sobre o Barrichello e, de resto, sobre cada um. Só uma resalva, mesmo ele sendo como "qualquer um de nós", ainda há uma diferença da maioria de nosotros: a conta bancária. Se bem que não é só isso que conta, mas, nesse mundo .... Abraços, Edi

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  19. Ana,

    Por acaso você é a popular Ana Vidoti? Tentei entrar em seu perfil, mas estava indisponível.
    Beijos

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  20. Caro senhor Vita,
    Sou a popular Ana Vidotti (com 2 tês, please) e onde está este meu perfil indisponível????
    Será que é por isso que nenhum bom contrato rola na minha vida???
    Bjks

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  21. Ana Maria,
    que bom encontrar você por aqui. Você também não tem nada pra fazer né?

    Eu cliquei em cima de seu nome e apareceu uma página dizendo que seu perfil estava indisponível. Será que é por causa daquelas fotos escandalosas lá de Torrinha? Para quem não sabe, Torrinha é uma cidade progressista que um dia saiu na capa do Estadão. Foi a primeira vez em cento e tantos anos de vida independente do vetusto jornal que o nome da cidade saiu grafado em letras de forma, corpo 10, acho. E eu fui o autor da façanha. Nem título de cidadão torrinhense eu recebi. Eta povo ingrato!!!

    Beijos

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  22. Delícia de texto, MV.
    Verdadeiro. Como bem disse Maquiavel, um príncipe precisa ter talento... mas também fortuna. São raros os que têm as duas coisas.

    Bjs!

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