segunda-feira, 27 de julho de 2009

Nem todo herói morreu de overdose











De uns 8 meses pra cá, Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e sua turma invadiram as bancas de jornais do país. Há cerca de dois meses, a invasão ganhou o reforço de Luluzinha, Bolinha, Alvinho, Aninha e outros da gangue. Das bancas para as mãos de seres com idade superior a 10 anos, foi um pequeno passo. Qualquer leitor de gibis dos anos 60 a 80 vai achar que isso é a maior obviedade - mas qualquer leitor mesmo vai saber que estou falando dos adolescentes. Sim. Mônica, Cascão, Luluzinha, etc etc etc, cresceram. E pelo sucesso de vendas de suas revistas, vivem aventuras que calam fundo em milhares de jovens brasileiros.



Por curiosidade e por causa do núcleo adolescente da novela ("Poder Paralelo", Record, segunda a sexta. Pronto, mais um merchan), virei leitor desses gibis. Na verdade, eu fui leitor de Luluzinha nos idos de... bem, há tempos imemoriais, quando os animais falavam, a Hebe era morena e a TV só funcionava depois do meio-dia. Os gibis tinham o tamanho de revistas, eram coloridinhos, deliciosos. Também acompanhei a Turma da Mônica, mas dava preferência à Tina, Rolo, o Louco e outros personagens menos infantis.



Maurício de Souza, o pai da Mônica, foi quem teve a sacada: seus personagens cresceram, estudam o segundo grau (ou seja lá como se chame agora), são ligadíssimos em jogos de RPG e estão com os hormônios à flor da pele. Mônica, é claro, puxa um trem por Cebolinha, que só troca letra quando fica nervoso. Cascão toma banho e adora esportes. Magali continua comilona, mas só procura alimentos orgânicos, politicamente correta. Até o Anjinho adolesceu! E a linguagem do gibi é a dos mangás japoneses (existe mangá de outra origem?).



No rastro, veio a gangue da Luluzinha. Ela e suas amigas ficaram lindas, Alvinho virou aprendiz de surfista e Bolinha, de bolinha só guardou o apelido: virou um gatinho, trocou o violino desafinado por uma guitarra e arrasa corações. Os gibis de Luluzinha Teen são interativos: Luluzinha e sua amiga Aninha alimentam um blog - real - e respondem aos leitores no meio das histórias. A internet e suas revoluções, como o twitter, estão assimiladíssimos pela turma da Lulu.



Há várias coisas interessantes no crescimento dessas crianças tão familiares. Um deles é que nenhum deles carregou os "defeitos" (notem as aspas, please) da infância: Bolinha alongou-se e ficou uma lindeza; Cascão perdeu o medo da água; Magali come e mantém a silhueta gata... Espinhas, acnes, peso elevado, crescimento desordenado dos braços, revolta com os pais... nada disso interfere - até o momento - na vida dos personagens dos dois grupos. Talvez eles sejam o espelho idealizado dos seus leitores e isso explicaria o sucesso.



Também quase não há adultos nos gibis. Se antes víamos pais e mães - seu Cebola, a mãe da Lulu (uma boa senhora, gorducha e ruiva...) - agora eles praticamente inexistem. E não fazem falta, nem às histórias, nem aos leitores. Adolescentes gravitam em torno de si mesmos, portanto, qualquer interferência de gente crescida é mal vinda. Em compensação, nenhum dos personagens avançou na sexualidade: namoram, ficam, trocam beijos e... fica tudo por isso mesmo. Mas não será nada desinteressante ver os personagens teens em campanhas pelo uso de preservativo entre adolescentes. Maurício de Souza sempre fez várias campanhas de saúde pública com seus meninos.



Por fim, é interessante notar que Luluzinha tem o Teen e não o Jovem ou o Adolescente acoplado ao seu nome. Lembro de quando aprendi a palavra teen, nas aulas de inglês da sétima série com a dona Sônia. Teen definia aquilo que éramos: adolescentes, a misteriosa fase da vida, que ia dos 14 aos 19, 20 anos. Hoje, teen é todo um conceito, e explica por si só muitas coisas, que envolvem qualquer criatura com idade variando entre 11 e 28 anos (alguns rapazes prorrogam o estágio para depois dos 30, acreditem). "Teen" adequa-se perfeitamente à tendência jovem de abolir as palavras com mais de três sílabas: faculdade virou facu; professora é pró; refrigerante é só refri. A longuíssima e defasada 'adolescente' virou 'teen', em bom português. Segura o Aldo Rebelo...
















12 comentários:

  1. Sobre adolescentes,a Unicef divulgou pesquisa semana passada que mostra que 46% dos adolescentes brasieliros, entre 12 e 18 anos, que morrem, morrem assassinados. Regiões metropolitanas e novos polos de desenvolvimetnos é onde ocorre o maior numero de assassinatos. Jardim Ângela é o paraiso perto do resto.
    Os novos gibis, pelo visto, são para poucos e bons. É nessas horas que eu repenso...

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  2. é, teve esse relatório chocante... mas é doido, né? as filhas da minha diarista, de 12 e 16 anos, adoram esses gibis. Moram no Jd. Ângela (ou arredores) e não perdem um exemplar. Portanto, essas aventuras dizem algo a elas também.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. São 46% dos que morrem, e não do total de adolescentes brasileiros, que a causa da morte é assassinato, graças a Deus. Desculpe se pareci agressiva, não foi a intemção, gostei do post.

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  5. Oi Mário, gostei do texto, a turma da Mônica é parte da história de muita gente. Mas o Aldo compreende as constantes mudanças do mundo e da língua Portuguesa. Olha, qto. ao outro comentário, aqui em Goiânia não temos muitos grupos de teatro, mas temos alguns bons. meu trabalho não é nessa área, vivo entre petições, audiências, processos.., mas, sempre se conhece alguém, ficarei atenta à possibilidade, com certeza não é para o imediato, mas sempre há a possiblidade. E, ainda, nas relações de gênero, o que se pretende é o companheirismo, nem a submissão, nem a superioridade. Sempre, Sucesso a vc.
    bjs, Edi

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  6. eu lia muito a turma da mônica. estou adorando poder paralelo. beijos, pedrita

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  7. Obrigado, gente!!!!

    Ester, não achei seu coment agressivo, não. Eu só falei das filhas da diarista pq achei justamente curioso... e legal!

    Pedrita e Edi, a novela tá esquentando!!!! Aguardem! E depois me digam se gostaram da Luluzinha Teen....

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  8. Tá, confesso q tive um certo preconceito qdo vi a Turma da Mônica crescida, da Luluzinha fiquei sabendo agora.
    Pô, aprendi a ler e a gostar de ler com a Turminha, depois do seu post vou dar uma conferida.

    Agora esta sua frase: "(alguns rapazes prorrogam o estágio para depois dos 30, acreditem)" foi perfeita kkkkkkkkk
    "miacabei" de rir aqui, estava em reunião e dei aquela risada de porquinho, sabe?!
    VEXAME!!! KKK
    ABS

    tatiane

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  9. Márcio Vieira,

    Vou dar minha opinião simples de alguém que foi dotado por deus com uma alma corintiana: não gosto desses gibis de personagens que crescem e ficam pentelhos. Como leitor e colecionador de gibis desde os 13 anos de idade, ou seja, meados do século XIX, sempre me mantive fiel aos meus heróis, que não morreram de overdose, mas talvez tenham ficado com artrite.

    Gosto da Luluzinha antiga. Lembro até hoje da fazenda de Minhocas do Bolinha, do clube fechado para meninas em cima da árvore, do Carequinha, que era amigo da turma, mas se borrava de medo da irmã, a Aninha, que era muito feinha, mas era boa gente.

    Nunca gostei da Mônica e sua turma. Gostava mais do Chico Bento e daquele dinossaurinho sartreano, que acho que não existe mais.

    Mas ao contrário dos personagens que cresceram, quem cresceu fui eu e comecei a aderir aos gibis mais adultos, como Spirit, um clássico do Eisner até hoje.

    Hoje quando quero descansar do mundo sério e chato, vou à minha gibiteca acumulada desde a idade do bronze, sopro a poeira acumulada, enxoto as aranhas de suas teias e bato um papo com meus heróis, alguns com capa e máscara, outros com revólver no coldre. Se um dia eu vier a faltar, como dizia nosso saudoso colega Roberto Marinho, temo pelo destino de minha coleção. Como sei que no céu não há espaço disponível (é tudo digital) e no inferno o material entraria em combustão, dado o calor excessivo do local com cheiro de enxofre, ficaria sem minhas raridades. E, me diga Mário, como eu poderia suportar o peso de uma pós-vida repleta de felicidades e cítaras e violinos afinados (não os do Bolinha), ou da danação eterna no andar de baixo, sem meus gibis? Como iria passar o tempo? Levar a Bíblia, nem pensar. Eita livro chato.

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  10. Vita, o regressado!!!!
    Doa pra Gibiteca Henfil. Vai ser mais útil que doar esses órgãos atingidos pela crueldade desgastante do tempo...
    Se bem que as novas gerações não vão entender o humor de "Pinduca", "Os sobrinhos do capitão" e outras raridades do seu acervo...

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  11. Olá Mario,bom dia!!!unca tive muito apreço pela turma da Monica,na minha adolescencia quem eu gostava mesmo era da turma de Luluzinha,adorava bolinha,aquele clube fechado.Tou sempre vendo a novela,vc sabe que vicia,e eu sou noveleira.Quarta feira viajo a Mossoró,Bortolotto e Reinaldo Moraes chegam sexta e voltam na segunda.Se vc gosta de Caio não deixe de ler o livro de Paula Dip "para sempre teu,Caio F.,pra quem curte Caio é o relato mais completo sobre a vida do cara.Eu tou apaixonada pelo livro.

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