sexta-feira, 10 de julho de 2009

Em maus lençóis maranhenses


O Maranhão é um Estado singular. Sua capital é a única, entre as históricas, que não foi fundada por portugueses. Em sua culinária, aparecem alguns dos pratos mais saborosos da cozinha brasileira, como o arroz de cuxá e a torta de caranguejo. De suas escolas, saíram dezenas de escritores – enquanto a Bahia tem cantores e o Ceará, humoristas, o Maranhão é o Estado que mais forneceu ocupantes às cadeiras da Academia Brasileira de Letras. Em uma de suas igrejas (essa, da foto ao lado), está sepultado o traíra-mor da Inconfidência, Joaquim Silvério dos Reis. O Maranhão também figura como um dos Estados brasileiros onde o coronelato político mais fincou raízes.

O clã Sarney está aí pra não me deixar mentir. Quem já esteve no Maranhão sabe que Sarney é sinônimo de Deus, ou alguma coisa muito, muito perto disso. Antonio Carlos Magalhães, com sua empáfia baiana, teve mais visibilidade – a Bahia sempre gostou de se exibir. Mas Sarney, protegido pela distância, fez do Maranhão uma grande e empobrecida Sarneylândia. Há municípios Sarney, maternidades Sarney, escolas Sarney, rodovias Sarney – e um rio de dinheiro tilintando, como as moedinhas caindo na caixa forte do Tio Patinhas, nas contas de já-imaginamos-quem.

A atual onda de denúncias contra o ex-presidente da República, atual presidente do Senado, apenas confirma o que todo mundo no Maranhão sabe ou desconfia – e talvez nem ache escandaloso. Ninguém se mantém tanto tempo no poder, ninguém briga tanto para segurar o osso, ninguém espalha tantos tentáculos – apenas pelo amor aos fundamentos políticos. O ataque mais atual vincula o uso de verbas obtidas com a Lei Rouanet para informatização da Fundação José Sarney – um estonteante museu dos tempos de Sarney à frente do Brasil – à engorda de várias empresas da família. Alguém aí ficou surpreso? Só se foi com a rapidez com que a verba foi depositada depois da lei aprovada: 24 horas. Quem já precisou de qualquer coisa do Ministério da Cultura sabe, na pele, que nem cafezinho ali sai tão rápido...

Mas é preciso cautela – não com a onda de reportagens denunciando os desmandos (algo a que os Sarney não estão habituados, já que controlam a mídia em seus terreiros). Nem sempre o denunciante age por amor irrestrito à moralidade pública. Há interesses na jogada, dos mais pesados. Se cair, José Sarney deixará a cadeira de presidente do Senado a um político do PSDB. Por isso, não causaria surpresa nenhuma descobrir que as denúncias sejam trazidas no bico de algum tucano.

Eis algo com que Lula não quer contar – interagir com a oposição. É preciso, na visão pragmatista do PT e do presidente, manter a ordem, nem que para isso seja necessário destruir a vergonha na cara a golpes de pá. É lamentável ter de assistir a esse show de variedades grotescas. Mas também é bom imaginar a conversa na hora do cafezinho, lá na bela mansão que os Sarney mantêm na Praia do Calhau: “Eita povinho ingrato!”

5 comentários:

  1. Sarney é o capo dei capi, pra não sair do tema da nossa atual rotina. Já pensou se cassam o cara e os mordidos resolvem abrir em público o fichário dos amadores feito Artur Virgílio, o papagaio de pirata do FHC? A diferença entre o poder no Maranhão e no Amazonas é que no segundo há uma alternância de bandidos, há décadas também.

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  2. Ainda bem que o Sarney está na roda, agora se vê quem é de verdade o autor do Marimbondos de Fogo. Ele quase passa para a historia como homem culto, um verdadeiro estadista. Digamos que seiscentos atos secretos e mordomo na conta do erário podem arranhar uma biografia.

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  3. o debate, o mesmo campanhas para a saída do sarney são um avanço na política brasileira. mas muitos ainda praticam a corrupção nos escritórios, fazendo pequenos furtos, burlando leis e depois querem políticos honestos. assim fica difícil. eu tenho muita vontade de conhecer os lençóis maranhenses, devem ser belíssimos. eu amei as cenas no filme bella donna. um colírio para os olhos. beijos, pedrita

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  4. O Maranhão é o máximo, Pedrita. Experimente visitar S. Luís lendo "O Mulato", do Aluizio Azevedo. Os endereços batem!

    Mas Ester tem razão. Um Sarney na roda é sempre fundamental. Até os capos precisam provar do remédio da lei.

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  5. O Marcelo Rubens Paiva, publicou algo parecido no blog dele sobre a "Sarneylandia", é demais mesmo...
    Este nepotismo tem q acabar, é uma falta de respeito com os brasileiros!!
    abs

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