
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
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quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Dois irmãos de elite 2

Reconheço que foram experiências bem distintas diante da tela: o filme argentino "Dois Irmãos", de Daniel Burmán, e "Tropa de Elite 2", do José Padilha (vi também "Eu matei minha mãe", de um garoto canadense bem talentoso, mas não entra nesta análise). Enquanto o dos argentinos toca uma espécie de opereta bufa e, ao mesmo tempo, carinhosa com seus personagens, o arrasa-quarteirão brasileiro é puro rock'n roll.
Poderíamos retomar a ladainha que tenta explicar o sucesso dos filmes argentinos, usando um argumento que eu mesmo defendo: os filmes dos portenhos tratam de pequenos dramas cotidianos, retratam personagens comuns, de uma classe média esmagada entre o sonho inalcançado de uma vida mansa e as mordidas no calcanhar dadas pelos cães da pobreza.
O diretor Ricardo P. Silva me alertou pra um dado: nós também temos nossos filmes sobre a classe média. O problema é que e eles raramente atingem um grande público, a não ser quando ancorados numa produção da Globo Filmes - caso de "Se eu fosse você" e outros dirigidos por Daniel Filho. Pode haver exceções, como os trabalhos de Laís Bodansky ("Chega de saudade", "As Melhores Coisas do Mundo"), mas geral os filmes brasileiros sobre a classe média só fazem sucesso mesmo na televisão.
Isso, acho eu, tem uma explicação histórica. Desde o Cinema Novo, sofremos no Brasil de um Complexo de Glauber Rocha. Todo cineasta brazuca quer ser genial, definitivo, épico. Pode reparar, primeiro filme de um cara tem uma avalanche de histórias. Em entrevista, Daniel Burmán disse que uma de suas influências é o francês François Truffaut, mestre do filme que se prendia em detalhes deliciosos e, de lá, construía um mundo. O cinema brasileiro parece ter optado pelo mega-evento e acostumou o público a isso.
Brasileiro que gosta de histórias sobre a classe média recorre à televisão. Ela, sim, em seu caminhar histórico, desenvolveu uma excelente técnica narrativa voltada toda em torno da classe média. Nossas novelas desbancaram o receituário cubano de melodramas, aproximou o telespectador, soube retratá-lo com primor. É bem verdade que, de uns tempos pra cá, algum iluminado das altas cúpulas televisivas decidiu que o bom mesmo é fazer novela à mexicana, mas isso é outra história. Pensando nas qualidades de nossa teledramaturgia, abordamos assuntos contemporâneos - de homossexualismo a doação de órgãos -sem deixar o romance de lado. Avançamos tecnicamente também, criamos narrativas mais ousadas - os tempos misturados de "O Casarão", a novela inteira passada em uma só noite de "O Rebu", o realismo fantástico de "Saramandaia". Seja nas caretas ou nas ousadas, o personagem que conduz a trama é sempre saído da classe média.
Cinema brasileiro é outra pegada. Cinema brasileiro que atrai públicp é o que trata de grandes eventos. Caso de "Tropa de Elite 2". José Padilha é um ótimo diretor, daqueles que procura bons parceiros para se apoiar. O roteiro desse filme tem o luxuoso nome de Braulio Mantovani e o elenco só traz feras dispostas a fazer o melhor possível. É um filme tenso, bem feito, firme e que consegue uma façanha rara: aprofunda ainda mais os personagens do primeiro filme. Em quase todas as sessões, os ingressos se esgotaram. Entusiasmado, o público aplaude no final, como se aprovasse a lavagem de roupa suja exibida na tela. "É um filme que mostra a realidade", foi o comentário de muita gente . Nesse ponto, o espectador do filme distancia-se do que vai ao teatro e opta por comédias. "Não vou pagar pra sofrer", dizem. No cinema, eles pagam, sofrem, vingam-se e aplaudem no final. Mas há outros filmes que retratam a realidade e que caíram no vazio. O que agrada em "Tropa" é o super-espetáculo.
Os vários exemplos de filmes argentinos que chegam até nós mostram uma tendência oposta no país vizinho. Interessante, também, é notar que o cinema argentino toca em feridas que os brasileiros já deixaram de lado, como os efeitos da repressão política sobre a vida dos cidadãos. Mas até mesmo nisso, eles apostam na tendência da 'história mínima': em vez de grandes reconstituições históricas, mostram o que aconteceu com quem viveu a época dura da repressão. Tivemos nossos bons exemplos, também, mas a 'moda' no cinema nacional é mesmo retratar os pobres do sertão, muitas vezes de uma maneira admirada por eles serem tão éticos e bacanas. Ou então reunir meia dúzia de atores da TV e refazerem histórias que a própria TV levou de melhor forma - "Quincas Berro d'Água" e "Primo Basílio" são dois exemplos.
Seja como for, "Dois irmãos" e "Tropa de Elite 2" são dois ótimos filmes, que merecem ser vistos. E jamais comparados... (Mas quem for ao argentino, diga se estou errado: o casal protagonista é a cara de Gloria Menezes e Ary Fontoura!)terça-feira, 5 de outubro de 2010
Urubus, rasguem minhas fantasias...
