Até quando mesmo vai durar a - por assim dizer - gestão de Gilberto, o Alcaide? Eu sei, você pensou que eu tinha esquecido dele. Tinha mesmo. A vida oferece tantas coisas mais interessantes pra se pensar, algumas boas, outras nem tanto, sobrava pouco tempo pra analisar as estripulias do burgomestre. Verdade seja dita, ele também apareceu pouco, tanto que até deu uma passeadinha pela África do Sul, durante a Copa. E também a campanha à presidência de José Serra não deve fazer muita questão de ver o alcaide nas páginas de jornal. É melhor silenciar ou ignorar o por-si-só confuso prefeito.
Mas vai ser difícil fingir que não estamos vendo a - de novo, por assim dizer - gestão gilbertiana. Por mais que a imprensa simpatizante às aves silvestres de bico comprido tente minimizar, é impossível não enxergar a mão do Alcaide nas questões sociais. Ele decidiu acabar com a cracolândia e com a mendicância. Dito e feito: interditou os prédios velhos do bairro da Luz, onde a noiada comprava e consumia suas pedrinhas. E, depois, mandou fechar os albergues que serviam de pouso pra mendigos, sem tetos e desvalidos em geral. A ideia beira o genial de tão simples: sem ter onde pernoitar ou se drogar, a pobraiada ia se mandar pros bairros da periferia, deixando a região central mais limpa, linda e 'novaiórquica'.
Pena que Gilberto, o Alcaide, não seja Rudolph Giuliani, o prefeito que limpou (ou maquiou) Nova York. Pena também que não tenha havido - como houve lá em NY - uma campanha pras pessoas não darem mais esmolas, comidas ou qualquer tipo de ajuda que estimulasse os mendigos a ficarem nos bairros ricos. Aqui, a cultura do assistencialismo faz parte do DNA e se há um resquício de culpa na classe média por ter, a suadas penas, seu carrinho e seu apezinho, ele é compensado com pequenos donativos às crianças obrigadas a vender doces, panos de prato e outros troços nos cruzamentos. Pasmem, há dessas criaturas até mesmo na Rua Oscar Freire, o território dos chiques e endinheirados paulistas e sobre elas ainda não há Estatuto do Menor que proíba palmadinhas...
A - meu deus, eu não acho outra palavra - gestão de Gilberto, o Alcaide, falhou no trato com a classe social abaixo de qualquer linha de pobreza e humanidade. Os noias da cracolândia espalharam-se pelas ruas do centro, chegaram até os Jardins, e agora estão de volta ao reduto. Os mendigos e desvalidos não viram motivo pra ir dormir no fim do mundo, sendo que o dinheirinho ganho com papel catado, os restos de comida dos restaurantes e, vá lá, as esmolas, estão mesmo no centro expandido. Só não se trocou o seis por meia dúzia, porque agora eles - os pobres - não têm mais onde pernoitar e acabam ocupando ruas, calçadas, marquises e caixas eletrônicos das áreas bacanas. Trocou-se o seis por três e meio, e olhe lá.
Gilberto, o Alcaide, também pisou feio na questão do transporte público. Se quer tanto despachar os sem-nada pra longe, que crie pelo menos um meio de eles chegarem lá. Não. Circula hoje nos jornais a informação que a prefeitura adiou para 2013 a reforma do transporte público da cidade, uma reforma que jamais virá, como até Tom Cruise sabe (no filme "Encontro Explosivo", ele diz pra Cameron Diaz que não gosta da expressão 'um dia' porque ela é sinônimo de 'nunca'). Espertinho, apesar da expressão de quem soltou pum no batizado, Gilberto quer que o próximo prefeito descasque o abacaxi. Certamente, já tá contando com a derrota nas urnas.
Faz sentido tanto descaso com a classe baixa. Porque só mesmo em terra de novo rico o transporte público é tratado como problema de pobre. Não é preciso ter vivido no exterior, qualquer seriado enlatado ou filme mostra personagens pegando trem, metrô e ônibus pra resolver seus problemas. Claro que, nas grandes cidades, eles dispõem de transporte público, o que não acontece aqui. Mas enquanto postergar os investimentos nessa área, o governo-seja-qual-for vai afastar mesmo a classe média do ônibus. E todo mundo que vive em terra de novo rico sabe que só quando a classe média toma contato com certos serviços é que eles melhoram. Enquanto os problemas urbanos de São Paulo forem só 'coisa de pobre', as tentativas de solução serão adiadas até o dia de São Nunca.
Mário, sou sempre solidária com você (espero que tenha muito mais gente ouvindo!) nessa revolta implacável contra a "não-gestão" do Taxab - já viu um prefeito que gosta mais de aumentar todo tipo de taxa? E ainda diziam que isso era coisa da Martha - que agora está na ponta das pesquisas pro Senado, o que diz alguma coisa, não???
ResponderExcluirOlha que a gente já teve prefeitos péssimos (dr. Paulo e Pitta parecem imbatíveis) mas, mesmo assim,o Taxab está se esforçando tanto que chega bem perto...
A avaliação do atual desprefeito é sempre ZERO - que é a nota dele em tudo, transporte público, saneamento, habitação... Nessa questão social, de tentar tirar os pobres da vista, nem há o que falar. Na maior cidade da América Latina, com um orçamento gigantesco, arrecadação impiedosa (o meu IPTU subiu 30% este ano, não sei o de vocês), o Taxab não encontrou "solução" melhor do que tentar essa maquiagem indecente, desumana, antiética...
Estou, como você, contando os dias pra esse sujeitinho sair da prefeitura. E esperando que seja seu último cargo público. Que o povo tenha memória!!
bjs
Neusa